FHC visita Bahia e Pernambuco em clima de campanha

Presidente se irrita com vaias de um grupinho de manifestantes
 

AJB 26/09/97 20h37
De Petrolina (PE)

FHC

Clique/Folha Imagem

Num discurso inflamado, em meio a vaias e ao apitaço promovido por um pequeno grupo de manifestantes ligados ao PT, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta sexta-feira (26) que o maior desafio do Brasil é acabar com a ignorância. "Hoje, o desafio maior do Brasil é acabar com a ignorância. É dar condições para que as pessoas separem bem o trigo do joio, e que o joio vá embora e o trigo floresça. Para separar o joio do trigo, precisamos de educação", disse Fernando Henrique, enfrentando uma pequena, embora ruidosa, manifestação patrocinada pelos Sindicatos dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco e da Bahia.

Em clima de campanha eleitoral, o presidente prometeu dar escola, até o final do próximo ano, a todas as crianças brasileiras. "Hoje, temos 91% de nossas crianças nas escolas, mas precisamos chegar a 100%. Quero ver até o fim de 98, não o presidente da República, não o governo federal, mas nós, brasileiros, em conjunto, colocarmos todas as crianças na escola. Isso é ser patriota", afirmou Fernando Henrique.

Os protestos aconteceram quando o presidente visitava, em Juazeiro (BA), a X Feira Nacional de Agricultura Irrigada (Fenagri). Antes, pela manhã, ele havia participado de duas solenidades em Petrolina, cidade pernambucana situada na outra margem do rio São Francisco, separada de Juazeiro por uma ponte. Os sindicalistas, que protestavam contra "os mil dias sem reajuste salarial do funcionalismo público", só conseguiram chegar perto do presidente no lado baiano e depois de furar o forte esquema de segurança montado pela prefeitura de Juazeiro. Para ter acesso à Fenagri, era preciso por exemplo, passar por um detector de metais.

Os manifestantes, cerca de 50 pessoas portando apitos e cartões vermelhos, começaram as vaias ainda quando o governador do Bahia, Paulo Souto (PFL) estava discursando. "Só os cegos não vêem como o Brasil está mudando e como a Bahia está mudando em benefício de seu povo", reagiu o governador.

Mais numeroso, um grupo com faixas de saudação a Fernando Henrique e ao presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), impediu, com a ajuda de funcionários da prefeitura, que os manifestantes chegassem mais perto do palanque onde estavam os políticos. "Como é que algum baiano, algum brasileiro, pode ficar insensível a isso. Como um brasileiro pode ter os ouvidos tapados para o clamor do povo, que pede mais irrigação para poder trabalhar e prosperar?", indagou, irritado, Fernando Henrique no discurso de improviso.

Em Petrolina, onde iniciou a visita às duas cidades, o presidente já havia dado sinais de sua irritação com os protestos contra seu governo. "Não podemos continuar conformados com o Brasil que tem a prosperidade e a miséria. Temos que construir o Brasil onde a prosperidade continue, mas onde não haja mais miseráveis. E o Brasil sem miseráveis não é o Brasil simplesmente do protesto; é o Brasil da construção", disse Fernando Henrique, durante o discurso de inauguração do projeto de irrigação Maria Tereza.

Na rápida visita, o presidente gastou pouco mais de três horas para inaugurar o novo projeto de irrigação; entregar títulos de terra a dois agricultores; lançar o Programa de Apoio e Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste; anunciar a liberação de verbas para a ampliação do aeroporto de Petrolina; e prometer apoio federal ao Salitre, projeto de irrigação de Juazeiro. Na Fenagri, experimentou frutas produzidas na região e posou para fotografias.

"Já não conto as vezes em que vim à Bahia e venho porque amo a Bahia, amo a Bahia, gosto da Bahia", discursou Fernando Henrique. Em Petrolina, o presidente conseguiu reunir, no mesmo palanque, adversários históricos, como ACM, a quem chamou de "companheiro", e o governador de Pernambuco, Miguel Arraes (PSB), de quem se disse "amigo". Estavam presentes ainda, entre outras autoridades, o vice-presidente Marco Maciel, o ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause -este, um desafeto declarado de ACM-, os governadores da Paraíba, José Maranhão (PMDB), e do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves (PSDB), além dos ministros Clóvis Carvalho (Casa Civil) e Arlindo Porto (Agricultura).

No projeto Maria Tereza, o presidente lembrou os tempos da campanha presidencial ao montar no cavalo do vaqueiro Gilberto Amorim. "A Califórnia de verdade, a Califórnia do próximo século, está aqui", disse, referindo-se a Petrolina.


 

   
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