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AJB 12/02/99 21h57
De Belo Horizonte
Enquanto os emissários do presidente Fernando Henrique Cardoso tentavam a reconciliação com o governador Itamar Franco, centenas de manifestantes gritavam nos jardins do Palácio da Liberdade palavras de ordem contra o governo federal e de apoio ao governador mineiro. "Itamar, o guerreiro do povo brasileiro", "Fora FHC, fora FMI" eram alguns dos slogans cantados pelos cerca de 300 estudantes secundaristas e mulheres, participantes de entidades sindicais, que foram ao palácio demonstrar solidariedade à luta do governador mineiro nesta sexta (12).
Os gritos podiam ser ouvidos na sala de reuniões que abrigou o encontro de Itamar com os ministros de Fernando Henrique. Os portões do Palácio da Liberdade, abertos logo após a chegada da delegação de Brasília, permitiram a entrada dos manifestantes nos jardins da sede do governo mineiro, na área central da cidade, onde, logo após a retirada dos ministros, Itamar fez um vigoroso discurso contra a política econômica do governo federal e a ingerência do Fundo Monetário Internacional (FMI) na economia nacional.
O governador mineiro iniciou seu discurso igualando-se aos estudantes e lembrou seu passado como presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia de Juiz de Fora. "Como vocês, algumas vezes nós íamos às ruas para manifestar o nosso inconformismo, o nosso desejo de ver uma pátria livre, caminhando no estado de direito e em respeito aos direitos humanos", afirmou.
Com uma expressão tranqüila, Itamar Franco fez um apelo aos jovens: "É preciso que mais uma vez o coração jovem volte a pulsar mais forte e, nessa batida, a gente poderá esquecer aquela imagem dolorida que ficou na nossa retina, vendo na televisão o ministro da Fazenda do Brasil ao lado do vice-presidente do Fundo Monetário Internacional, com uma tradução para a nossa língua feita por outro estrangeiro". O governador lembrou que daquele mesmo palácio "já havia saído um homem, Juscelino Kubitschek, que soube dizer que o país não podia aceitar o FMI nas nossas terras".
As palavras de Itamar arrancaram muitos aplausos dos estudantes, que responderam com novas palavras de ordem: "Minas jamais se curvará", "É ou não é piada de salão, o chefe da quadrilha ser o chefe da nação" e "Sou estudante de coração, sou Itamar defendendo a nação". O governador apenas sorriu. Minutos antes, Itamar Franco tinha recebido, ao lado da piscina do palácio, a solidariedade de uma delegação de 200 mulheres, muitas das quais se juntaram à manifestação dos estudantes.
Lideranças políticas, sindicais e empresariais, elas assinaram um manifesto de apoio ao governador, intitulado "Mulheres contra o bloqueio a Minas". De acordo com Jô Morais, vereadora de Belo Horizonte pelo PC do B e presidente da União Brasileira de Mulheres, o documento entregue ao governador "era um manifesto por causa da instabilidade causada com o bloqueio ao estado".
Itamar recebeu três presentes das manifestantes: um quadro para decorar o Palácio da Liberdade, uma cesta com três pães de queijo e uma tesoura, dada por uma operária. "Essa tesoura é um símbolo do que Minas quer, que é cortar o bloqueio do governo federal", explicou uma das líderes femininas. (Luciana Julião)
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