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Itália e Espanha trocam informações sobre regimes militares

16/05/2000 09h00
Da Agência Folha

A Justiça da Espanha e a da Itália vão, no final deste mês, reunir os dados até agora apurados a respeito da Operação Condor, para trocar informações e cooperar mutuamente nas investigações sobre os regimes militares sul-americanos na década de 70 e no início dos anos 80.

A revelação foi feita na segunda-feira (15) para a Agência Folha pela uruguaia Lilian Celiberti, protagonista daquela que é considerada a única comprovação sobre a chamada Operação Condor.

Ela foi presa pelas polícias brasileira e uruguaia em Porto Alegre, no dia 12 de novembro de 1978.

Celiberti prestou depoimento durante pouco mais de três horas e meia, na semana passada, ao juiz italiano Giancarlo Capaldo, no Tribunal de Roma.

O juiz -que, conforme a legislação italiana, desempenha também o papel de investigador- disse a Lilian Celiberti que viajará Madri (Espanha), onde se encontrará com seu colega Baltasar Garzón, responsável pelo processo que envolve o ex-ditador chileno Augusto Pinochet e alguns ex-repressores argentinos.

"Senti um forte interesse italiano no assunto. Fui como testemunha, porque o meu caso é de sequestro e já prescreveu.
Mas agora, pelo que ele (o juiz) me falou, a investigação sobre a Operação Condor vai se centrar em como funcionou tudo isso. Saber que ela existiu, eles já sabem", disse.

"É essencial, agora, que sejam abertos os arquivos brasileiros da repressão", afirmou Lilian Celiberti.

Além de Espanha e Itália, Argentina e Paraguai também investigam a Operação Condor.

O presidente do Uruguai, Jorge Batlle, tem se reunido com parentes de desaparecidos para esclarecer os casos ocorridos no país.

Lilian Celiberti contou ao juiz italiano o episódio em que foi presa com Universindo Díaz, seu companheiro do Partido por la Victoria del Pueblo.

Os dois repassavam, de Porto Alegre, informações políticas para a Europa. Eles ficaram presos durante cinco anos no Uruguai.

Italianos
O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, em depoimento ao mesmo juiz, citou quatro casos de mortos e desaparecidos italianos ou descendentes de italianos: Líbero Giancarlo Castiglia, desaparecido em 1973; Antonio Benetazzo, morto em 1972; Lorenzo Ismael Viñas, visto pela última vez em 1980; e Horacio Campiglia, visto pela última vez também em 1980.

Ele indicou, também, os nomes de autoridades militares brasileiras da época.

Nos casos de Viñas e Campiglia, os dois são argentinos descendentes de italianos que desapareceram no Brasil. Seus parentes ainda buscam reparação.
(LÉO GERCHMANN)

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