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Bispo reza contra a corrupção em São Paulo

21/04/2000 22h41
Da Folha de S.Paulo

Orações contra a corrupção e exortações a políticos que traem o povo marcaram o culto da Paixão de Cristo conduzido nesta sexta-feira (21) por dom Angélico Sândalo Bernardino.

O bispo-auxiliar de São Paulo teve poucas oportunidades de inserir conteúdo político na igreja da Santa Cruz de Itaberaba, na zona noroeste da cidade.Mas aproveitou todas.

Tradicionalmente, o culto da Paixão não prevê a homilia, mas d. Angélico deu recados no fim do Evangelho. Ele disse que "muitas vezes é o poder político constituído pelo voto popular que, depois, se vira contra o povo" e classificou o neoliberalismo como um resultado da "malícia do homem".

Durante a "Oração Universal", na qual o padre faz pedidos pela comunidade, d. Angélico modificou o texto do item "Pelos Poderes Públicos". A frase original era "olhai com bondade aqueles que nos governam". Na sua versão, a prece incluiu "que o façam com honestidade e sem corrupção".

Ao final, aproveitou a "Oração sobre o Povo" para exortar a comunidade a pedir perdão pelas "iniquidades cometidas com a população negra e os índios".

Um dos expoentes da ala progressista da igreja, d. Angélico começou a missa convocando os fiéis a fazerem suas orações. Numa das comunidades mais pobres da cidade, os pedidos foram pelos desempregados, favelados e drogados. "São essas situações que queremos colocar bem no coração de Jesus crucificado", disse.

Em 1 hora e 20 minutos de culto, o bispo, que assumirá a diocese de Blumenau em junho, disse que o homem nasce para ser feliz, mas é atormentado pelo neoliberalismo, a globalização e "sistemas que cristalizam a riqueza contra a fome dos outros". "Jesus está presente em todo sofredor", resumiu d. Angélico, num discurso emocionado.

Depois da cerimônia, o bispo foi assediado por parte dos fiéis que lotaram a igreja. O padre Antoninho Barbosa Júnior estimou em 600 as pessoas presentes. Os fiéis lamentaram a transferência de d. Angélico para Blumenau, que foi anunciada na última quarta-feira pelo Vaticano.

D. Angélico era um dos braços direitos de d. Paulo Evaristo Arns, também ligado à corrente progressista da igreja. Em São Paulo, comandava uma comunidade de 1,2 milhão de pessoas e o semanário "O São Paulo", publicação da diocese, e a Pastoral Operária, que lhe dava poder nas discussões trabalhistas na igreja.

Na nova função, cuidará de metade dos fiéis pelos quais era responsável em São Paulo. Ficará com a direção de uma comunidade de 600 mil pessoas, predominantemente luterana.

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