HISTÓRIA DOS BAIRROS PAULISTANOS - CONSOLAÇÃO


Por Danilo Janúncio Alves
do Banco de Dados

Capela trouxe os primeiros habitantes à Consolação

Um pequeno povoado começou a nascer na região da Consolação quando, por volta de 1779, devotos de Nossa Senhora da Consolação levantaram uma pequena capela dedicada à santa. Na época afastada da cidade, a região possuía apenas chácaras com plantações de hortaliças, frutas e chá, por onde cruzava o Caminho de Pinheiros ou Caminho de Sorocaba.
Por esses caminhos, onde hoje é a rua da Consolação, passavam as tropas de burros vindas de Sorocaba ou que subiam para o bairro de Pinheiros. No local escolhido pelo devotos também eram realizadas as feiras de bestas de carga, onde vendiam-se animais de outros estados.
Vinte anos depois, em 1799, o pequeno santuário transformava-se na Igreja de Nossa Senhora da Consolação, o que traz os primeiros moradores àquela região desabitada e afastada da cidade. Registro de um fiscal enviado pela Câmara Municipal ao local, em 1834, mostra que o local não tinha nada de aprazível. Ao contrário, existia um enorme pantanal na entrada da igreja, na subida do morro, o que resultava em barro, lama e grandes poças estagnadas. No entanto, a construção da igreja faz com que o governo da cidade melhore a região, abrindo ruas e aterros que passam a fazer parte do cenário.

Irmandade

Logo depois da construção da igreja, é criada a Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e São João Batista. A instituição concede grande importância ao lugar, porque amparava os portadores de doenças graves que vagavam pela província.
Com o reconhecimento da iniciativa da irmandade, da qual participava José Manuel da Silva, o Barão de Tietê, a Santa Casa de Misericórdia doa-lhes um prédio e o privilégio de tratar de doentes acometidos pela mal de Hansen (lepra).
Com o aumento da população e a conseqüente urbanização, o número de fiéis cresce ainda mais. Assim, em 1840, a Igreja da Consolação, subordinada à Igreja de Santa Efigênia, passa por uma ampliação: ganha cinco janelas, duas torres, escadas de acesso e novas portas de entrada.

O cemitério

Em 1855, uma epidemia de cólera-morbo atinge a província e, para tratar os doentes, a irmandade improvisa 30 leitos no pátio da igreja. Com o avanço da epidemia, havia a necessidade de enterrar as vítimas. No entanto, antes de começar a sepultar seus mortos em cemitérios, a população enterrava-os nos cemitérios de três igrejas, na da Misericórdia, na da Boa Morte e na do Rosário.
Muitos anos antes, no fim do século 18, o governo de Portugal já alertara o bispo da cidade sobre a necessidade da construção de cemitérios separados, para evitar os males dos enterramentos dentro das igrejas. Dessa forma, em 1854, a Câmara Municipal mandou edificar um cemitério público.
O primeiro projeto previa a construção de um cemitério em Campo Redondo, hoje Largo dos Guaianazes, atual praça Princesa Isabel. Mas a Câmara levou em conta um lugar mais afastado da cidade e sem moradores, e escolheu o Alto da Consolação. O Cemitério Público da Consolação começou a ser construído em 1854 e foi aberto no dia 3 de julho de 1858, por ocasião de uma epidemia de varíola que afligia a capital.
Alguns anos depois, o cemitério se tornou símbolo de ostentação e acompanhou a falência de famílias tradicionais da região que crescia. Prova disso é a riqueza dos túmulos, com esculturas diversas, inclusive com obras de Victor Brecheret.
Lá estão enterrados a marquesa de Santos, Domitila de Castro, a mais famosa amante do imperador Dom Pedro 1º, os ex-presidentes Prudente de Morais e Campos Sales, a família Matarazzo, e grandes escritores, como Mário de Andrade e Monteiro Lobato.

Paróquia

Em 1870, com uma população que já atingia a marca de 3,5 mil habitantes nas redondezas, a Igreja da Consolação foi elevada a sede da paróquia. À elas se subordinaram as igrejas da Santa Cruz das Perdizes (até 1879) e de Santa Cecília (até 1892).
Em 23 de março do mesmo ano, o bairro é denominado distrito. Nos seus arredores já instalavam-se as famílias da elite paulistana, que moravam em grandes chácaras localizadas nas proximidades. Sua freguesia estendia-se do Anhangabaú a futura Avenida São João e o rio Tietê.

Abastecimento

Com o crescimento da cidade, o abastecimento surge como um novo agravante à população. Assim, em 1878, começam a ser feitas as obras da primeira caixa de abastecimento no Alto da Consolação. O serviço estava a cargo da Companhia Cantareira.
Três anos depois a caixa começa a receber as águas da serra da Cantareira, Cabuçu e rio Cotia, que abastecem os chafarizes do Campo da Luz e dos largos de São Bento, do Guaianazes, Sete de Abril (praça da República) e do Pelourinho.

Ruas e Avenidas

Com a proclamação da República, em 1889, quase todos os donos de chácaras antigas do bairro do bairro mandam abrir ruas, avenidas, alamedas e largos em suas terras.
Com o surgimento da avenida Paulista, em 1891, o distrito ganha importância. De fronteira a região central a região valorizou-se muito por causa da sua localização, fazendo surgir bairros nobres como Higienópolis e Pacaembu.

Velódromo e seminário

Foi também na rua da Consolação que apareceu o primeiro velódromo da cidade. Em 1894, bicicletas começaram a ser importadas e logo mulheres e homens aderiram ao esporte. Um desses homens era Antônio Prado, que resolveu nivelar suas terras no local para dar origem ao Velódromo Paulista.
A pista tinha uma raia de 380 m por 8 m de largura e arquibancada de 700 m de comprimento, para 800 espectadores. Além disso, o velódromo possuía também quadras de tênis, campo de futebol e tanques para banho. Segundo o historiador Ernani Silva Bruno, no livro "História e Tradições da Cidade de São Paulo", o local foi "a célula-máter do atletismo em São Paulo".
Outra instituição que passou pelo local foi o seminário da Glória. Depois de passar por um casarão no beco do Sapo, atual rua do Seminário, instalou-se, em 1898, na sede da chácara de Dona Veridiana Prado. O casarão ficava junto à Igreja da Consolação, e a chácara estendia-se até a altura das atuais avenida 9 de Julho e rua Augusta.

Atual igreja

Em 1907, o prédio original da igreja da Consolação foi derrubado. Com a vinda de novos moradores e a criação de novas ruas, o templo antigo já não suportava tantas pessoas. A construção de um novo projeto ficou ao cargo do professor de arquitetura da Escola Politécnica, Maximiliano Hehl, responsável pelas catedrais da Sé e de Santos. Erguida em estilo românico-bizantino, a igreja agora recebe traços da arquitetura gótica em sua fachada, enquanto o seu interior segue características românicas. A obra demorou cerca de 20 anos para ficar pronta.

Duplicação

Com o intuito de criar novas alternativas para o trânsito na cidade, o prefeito Faria Lima decidiu duplicar e ligar a rua da Consolação diretamente às avenidas Rebouças e dr. Arnaldo. As obras começaram em 1965 e terminaram em 1968, depois de diversas desapropriações e demolições do lado ímpar da Consolação, entre a rua Dona Antônia de Queiróz e a avenida Paulista. A área expropriada para possibilitar o alargamento da rua foi de 21.600 m2.
Em 1972, foi construída, num dos pontos mais movimentados da avenida, uma passagem de pedestres que fica embaixo da rua do Consolação. A Galeria da Consolação fica em um dos pontos mais movimentados da via, onde estão cinemas, boates, bares e restaurantes, e por lá passam diariamente milhares de pessoas.
Atualmente, o bairro da Consolação concentra bares e lanchonetes, na rua Augusta, serviços bancários, na avenida Angélica, e ainda conta com um comércio local variado, espaços de lazer, uma boa rede de hotéis, hospitais, escolas bancos e restaurantes.
Localizado a aproximadamente dois quilômetros da Praça da Sé, a região é servida pelas estações da República, Anhangabaú e Santa Cecília do Metrô. Na rua da Consolação também fica a Biblioteca Mário de Andrade, com um acervo de mais de 450 mil títulos e uma coleção com mais de oito mil livros raros.
O bairro conta também com várias escolas da rede estadual e colégios como o Rio Branco, Caetano de Campos e São Luis. Ali também se encontram a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), o campus da Faculdade de Matemática, Física e Computação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e a Universidade Mackenzie.
Em 1987, alguns moradores cogitaram em mudar o nome de um trecho da Consolação, entre a alameda Santos e a rua Estados Unidos, para alameda Poeta Drummond. Mas a homenagem ao mineiro Carlos Drummond de Andrade não deu certo. A maioria dos moradores da rua discordou da idéia.


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.