HISTÓRIA DOS BAIRROS PAULISTANOS - SÉ


Por Renato Roschel
do Banco de Dados



São Paulo foi fundada, em 25 de janeiro de 1554, no atual Pátio do Colégio, onde um grupo de 12 jesuítas -dos quais fazia parte o ainda adolescente José de Anchieta- comandados por Manoel de Paiva e a mandado de Manoel da Nóbrega, celebraram uma missa inaugural.
Foram esses jesuítas que fizeram o aldeamento da Vila São Paulo de Piratininga -nome que significa peixe podre.
Essa fundação limitou a cidade à chamada ''colina histórica'', à região que vai do vale do Anhangabaú à praça da Sé.
A primeira fortificação de São Paulo foi construída pelos jesuítas e pelos índios, os quais eram comandados pelos chefes Tibiriçá e Cauibi, exatamente onde é hoje o Pátio do Colégio.
O Pátio do Colégio foi o ponto onde se centralizou a nova cidade, São Paulo de Piratininga. Lá, ocorriam reuniões dos vivos e eram enterrados os mortos.
Tempos depois, em 1556, sobre a primitiva capela do lugar nasceria uma igreja, acrescida de um grande colégio.
No dia 1º de novembro desse mesmo anos, ao ser inaugurada a igreja nova do Colégio, foi feita uma representação do drama da Paixão, com a ativa participação de jovens índios discípulos de Anchieta.
A primeira prova de resistência dessa primeira construção ocorreu em 1561 por ocasião dos ataques dos tamoios, guainás e carijós. A defesa de São Paulo de Piratininga foi comandada pelo índio Tibiriçá.
No início São Paulo era uma cidade sitiada pela serra do Mar. Só cavalos e burros cruzavam os 800 metros de altitude que separavam a cidade do mar. O crescimento populacional ilustra o isolamento. Em 1554, São Paulo tinha cerca de cem habitantes. Em 1872, eram 19 mil. Em três séculos, a cidade cresceu o que a Grande São Paulo cresceria em duas horas em 1982.
Em 1759, devido às expulsões dos jesuístas promovidas pelo Marquês de Pombal, aconteceram grandes transformações. A então capitania de São Paulo recebeu como governador D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão.
Anos mais tarde, em 1793, o Pátio do Colégio recebeu a Casa da Ópera.
A nova Casa da Ópera obedeceu a padrões da época. Foi construída com barro socado dentro de formas de madeira conhecidas como taipas, a consolidação das paredes foi feita com troncos finos e a caiação com tabatinga (argila sedimentar, mole, untuosa, e com certo teor de matéria orgânica) e a proteção das paredes feita por salientes beirais.
A Casa da Ópera foi dirigida pelos estudantes de direito e era também conhecida como "Teatrinho do Palácio". Funcionou até 1860.
Em 1808, foi construído o primeiro paredão do Largo do Piques (Ladeira da Memória), ponto de chegada para as caravanas que entravam na cidade vindas do sul e do oeste do Estado, de taipa e pilão. Em 1814, Daniel Pedro Muller -engenheiro responsável pela construção da Estrada do Piques e canalização do tanque Reuno, que iria abastecer o Jardim da Luz- construiu a pirâmide e o chafariz do Piques.
O Largo da Memória acabou tornando-se ponto de convergência de caminhos, onde encontravam-se viajantes e tropeiros, que desfrutavam de ampla vista da então pequena cidade de São Paulo, fincada no outro lado do vale do Anhangabaú.
Em 1820, segundo Afonso de Taunay, a Sé tinha como apêndice as "freguesias do Bom Jesus do Brás e Santa Ephigenia". A Sé era divida em Sé Sul com nove quarteirões e Sé Norte, com 19 quarteirões. Os limites geográficos eram definidos pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú.
Em 1857, a pirâmide, o paredão e o entorno do Largo da Memória são iluminados.
Em 1860, foi construída uma caixa d'água para abastecer a Freguesia da Sé na rua Cruz Preta, atual Quintino Bocaiúva, e também foi feito a arborização dos principais largos paulistanos. Em 1864, foi inaugurado o Teatro São José, no Largo São Gonçalo, local que hoje corresponde aos fundo da catedral da Sé.
As igrejas do Largo da Sé e de São Pedro da Pedra, em 1869, passam por reformas, as quais se estenderam até 1871.
Começa então a chegada em massa de imigrantes para trabalhar na colheita do café. Entre 1870 e 1880 a urbanização de São Paulo torna-se acelerada.
No ano de 1872, ao final das reformas nas igrejas, o Largo da Sé recebe instalações de iluminação a gás e, em 1873, o largo recebe calçamento e paralelepípedo. Nesse mesmo ano, é construída uma escada de pedra unindo a Ladeira do Piques (Ladeira da Memória) à rua do Paredão, atual rua Xavier de Toledo.
Em 1885, o corpo de bombeiros muda-se para praça Clóvis Bevilácqua, onde está instalado até hoje.
A partir da metade do século 19, a cidade de São Paulo passa por grandes transformações em seus espaços. Foram feitas melhorias urbanas como alargamento de ruas, calçamentos, canalização de água e iluminação pública. A República, por sua vez, fez com que as ruas que possuíam nomes ligados à história do Império fossem alterados e enquadrados à nova organização política do país.
Nessa época, o Largo da Sé, cuja tradição estava ligada às manifestações religiosas, passa então por várias reformas para adequar-se aos novos tempos. Em 1911, a igreja de São Pedro da Pedra, edificada no terreno do então largo da Sé, onde hoje se localiza o edifício da Caixa Econômica Federal, foi demolida. Da mesma forma, a antiga igreja da Sé e várias ruas do centro desaparecem para possibilitar a criação de uma nova e grande praça, assim como também para poder receber a construção de uma nova catedral, a catedral da Sé.
Ao todo foram destruídos 2 quarteirões completamente edificados para possibilitar a construção da nova praça.
No ano da Semana de Arte Moderna, 1922, é inaugurado na Sé o palacete Santa Helena que, por coincidência, foi o local onde se formou, em 1934, o Grupo Santa Helena, de artistas que se reuniam no Palacete Santa Helena, nº 43 (posteriormente nº 247) da antiga Praça da Sé, convivendo, até o final da década, em salas transformadas em ateliês. O grupo nasceu em meio às transformações sociopolíticas da Revolução de 1930. Era constituído por Aldo Bonadei (1906-1974), Alfredo Rullo Rizzotti (1909-1972), Alfredo Volpi (1896-1988), Clóvis Graciano (1907-1988), Fulvio Pennacchi (1905-1992), Humberto Rosa (1908-1948), Manoel Martins (1911-1979), Mário Zanini (1907-1971) e Francisco Rebolo Gonsales (1902-1980). Foi também em 1934 que foi implantado o Marco Zero na Praça da Sé.
No ano do 4º centenário, a catedral da Sé foi inaugurada, porém ainda não estava totalmente concluída.
Em 1969, o Metrô abre concorrência para a construção de uma estação central, denominada Clóvis Bevilácqua. Em 1971, o Palacete Santa Helena é demolido e, em 1978, o metrô da Sé é inaugurado e a Praça da Sé é reaberta totalmente remodelada.
Em 1984, durante a campanha das Diretas-Já, a Praca da Sé reafirmou sua tradição de palco dos eventos políticos e abrigou um dos maiores e mais importantes comícios da campanha.
No início da década de 90, é feita a instalação, na Casa nº1, no Pátio do Colégio, da Divisão do Arquivo Histórico Municipal.


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