FIGUEIREDO CONFIRMADO

O Presidente comunica sua decisão aos altos chefes militares

Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira - 04 de Janeiro de 1978

Do processo da granja do Riacho Fundo o presidente Geisel deu início ontem ao processo de comunicação às lideranças militares da escolha do general João Batista Figueiredo para sucedê-lo na chefia do Governo.
O anúncio oficial à Nação, entretanto, ainda está na dependência de alguns contatos que o Presidente julga indispensáveis na área política, inclusive com o senador Magalhães Pinto, que deverá chegar a Brasília hoje ou amanhã.
Dessa forma, a comunicação formal poderia ocorrer nas próximas 72 horas, dependendo do ritmo que o Presidente impuser a essas consultas finais. Uma coisa, porém, parecia certa, ao final do expediente de ontem: o presidente Geisel viajará para o México com o problema sucessório definido e sacramentado, sendo provável, até mesmo, que leve em sua companhia, já na condição de candidato indicado, o chefe do SNI.

Apelo a Magalhães

De acordo com informantes qualificados, o único óbice que ainda impede a divulgação oficial - que deverá ser feita, mesmo através da direção da Arena - é o desejo do presidente Geisel de salvaguardar, no episódio, a imagem do senador Magalhães Pinto, o único postulante declarado à sucessão. O chefe da Nação está disposto a formalizar um apelo para que Magalhães em nome da unidade partidária e mesmo revolucionária, decline da disposição de levar seu nome à convenção da Arena.
Nesse sentido o senador Petrônio Portela já teria recebido do Planalto a missão de fazer as primeiras sondagens junto ao ex-governador mineiro, que - segundo se comenta - se teria sensibilizado com a decisão presidencial de preservá-lo de quaisquer sequelas que o episódio possa provocar, por reconhecer, inclusive publicamente, sua condição de líder civil da Revolução.

Arena já comemora a escolha de Figueiredo

BRASÍLIA (Sucursal) - Em meio a intensa movimentação política e a uma grande onda de boatos, o Congresso Nacional, apesar do recesso, começou a viver, ontem , mais do que o clima de sucessão presidencial, o da comemoração, pela Arena, da própria escolha do futuro presidente.
A partir das 15 horas da tarde, ante a indiferença de centenas de operários que derrubam paredes no interior do Senado e da Câmara, a fim de ajustar as duas casas para o aumento da representação política, dezenas de congressistas começaram a afluir aos gabinetes dos presidentes do Congresso, senador Petrônio Portela, e da Arena, deputado Francelino Pereira.
Sabia-se, a esta altura, que uma fonte do Governo confirmara a convocação de reunião do Ministério Geisel, para terça-feira dia 10, ignorando-se, apenas, se todos os ministros estariam presentes.
Além de fotocópia de um documento atribuído ao coronel Manuel Contreras Sepúlveda, diretor da "Inteligência Nacional do Chile" (Dina), no qual se registra suposta troca de correspondência com o general João Batista Figueiredo, a respeito de presos políticos e possíveis resultados eleitorais nos Estados Unidos, circulavam diversos rumores e boatos no Congresso. Um destes boatos dizia terem sido captados telefonemas bastante suspeitos do Rio Grande do Sul para São Paulo sobre o quadro sucessório, bem como uma conversa do governador da Bahia, Roberto Santos, com determinado auxiliar de seu governo, a respeito da sucessão presidencial.

Conversas

Por volta das 15h30, surgiu Francelino Pereira, manifestando desejo de conversar com os jornalistas. Pouco antes o governador de Alagoas, Divaldo Suruagi, estivera esperando o dirigente arenista, com quem marcara encontro, às 15 horas.
Logo depois, nove integrantes do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) procuravam o senador Portela, para o diálogo político.
"O diálogo - comentou informalmente o deputado Murilo Badaró - superou completamente a Constituinte do MDB e só agora está sendo superado por outro acontecimento de grande carga emocional: a sucessão".
Numa ponta do corredor, outro arenista mineiro, também bastante cotado para a sucessão de Aureliano Chaves, o deputado Paulino Cícero, cercado de repórteres comentava o andamento da sucessão.
De parte do senador Magalhães Pinto, informava-se que o candidato presidencial estaria em Brasília depois de amanhã para um almoço com os repórteres políticos. "O Magalhães - esclareceu um de seus auxiliares - vai à Convenção de qualquer modo. No almoço com os jornalistas ele confirmará esta sua intenção".
Por volta das 16 horas, todo o Congresso comentava que o ex-presidente Emílio Médici viria a Brasília amanhã, ou máximo sexta-feira, a fim de avistar-se com o presidente Ernesto Geisel. No Rio, o filho de Médici, desmentia essa informação.
"Deve ser - admitiu um parlamento arenista - para ser informado sobre o desfecho do processo sucessório. Aliás, o presidente Médici também chamou a Brasília o general Geisel quando este dirigia a Petrobrás, a fim de tomar conhecimento de que fora oficialmente escolhido para presidir o País."
Durante uma hora e meia, o senador Petrônio Portela, que chegara pouco depois das 16 horas, esteve a portas fechadas com os engenheiros e agrônomos. Depois, às 17h45, saiu de sua sala, inesperadamente, dirigindo-se ao Palácio do Planalto. No regresso, 45 minutos mais tarde, quando os interlocutores de seu diálogo político já se haviam retirado Petrônio trancou-se em seu gabinete com o governador Suruagi, por quinze minutos.

De amanhã ao dia 10

"A sucessão está resolvida e deve ser divulgada nos próximos dias" - conversa o deputado Teódulo Albuquerque, da Arena da Bahia, pertencente ao chamado Grupo Renovador.
Ao que disse, acabara de apostar com um companheiro de partido como a decisão sairia antes da viagem do presidente Geisel ao México.
"Pois sai até quinta-feira, ou no máximo na reunião do Ministério dia 10" - explicou alguém na roda de Teódulo.
A essa altura abre-se a porta do gabinete de Petrônio, entram os senadores José Lindoso e Mendes Canale. Petrônio se nega a falar aos jornalistas, pedindo-lhes que o procurem amanhã de manhã (hoje).
O senador Osiris Teixeira, da Arena de Goiás, quer ser recebido por Petrônio, juntamente com mais alguns deputados estaduais goianos. Também aparece o presidente da Câmara, Marco Maciel, mas explica que chegou da província e não sabe de nada. Ao mesmo tempo, o ex-governador de Mato Grosso, Pedro Pedrossian, com o deputado Benedito Canelas, se dirige ao gabinete de Francelino. Ao que se diz, a política de Mato Grosso é o assunto de Pedrossian.
A comissão executiva nacional da Arena, integrada por dezessete personalidades - dezesseis parlamentares e o coronel Perachi Barcelos, ex-governador do Rio Grande do Sul, já se encontrava nesta capital para aguardar a divulgação oficial do futuro presidente.

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