SEPULTADO CARLOS LACERDA


Cerca de duas mil pessoas comparecem ao funeral do ex-governador da Guanabara

Publicado na Jornal, domingo, 22 de maio de 1977

Em meio de gritos de "viva Lacerda", "viva a liberdade" e "viva a democracia" foi enterrado ontem no Cemitério São João Batista (carneiro perpétuo 4.318, quadra 34) o ex-governador Carlos Lacerda.
O enterro teve que ser antecipado em meia hora - estava marcado para as 17 - devido ao tumulto formado na capela n° 1, onde o corpo estava sendo velado. Todos queriam ver Lacerda e a pequena capela do cemitério não comportou. O filho Sérgio Lacerda interrompeu a encomendação do corpo, feita pelo padre Leme Lopes, mandou fechar o caixão, sob os protestos do povo, e fez-se o sepultamento. Cerca de duas mil pessoas foram ao cemitério.
Não houve discursos de políticos nem de personalidades.
Até as 15 horas o velório de Lacerda tinha um fluxo pequeno de visitantes, não trazendo nenhum problema àqueles que queriam vê-lo pela última vez. A partir dessa hora começou a aumentar o número de pessoas, tornando quase intransitável o saguão do primeiro andar do velório.
Por volta das 16h15, o padre Leme Lopes foi chamado para fazer a encomendação do corpo; sua entrada na capela foi dificil, mas conseguiu chegar até a familia e iniciar as orações. Mas alguns minutos depois, populares começaram a forçar a passagem, pois muitos ainda não tinham visto o corpo do ex-governador. As pessoas começavam a ser espremidas e o padre quase não pôde folhear o seu livro de orações. A esta altura Sérgio Lacerda, vendo sua mãe e outros parentes já bastante comprimidos, não deixou que o padre terminasse a encomendação do corpo: decidiu fechar o caixão e fazer o enterro.
O caixão caminhou por inúmeras mãos, que o conduziram à sala da capela. Os populares que o carregavam andaram apenas uns 50 metros e pararam: a sepultura era longe e providenciou-se uma carreta.
Com a ajuda da carreta o cortejo andou com mais calma, sem a excitação do inicio. Podiam-se ver políticos e autoridades pulando sepulturas para ficar mais próximo do caixão.
Muitos seguidores de Lacerda, emocionados, gritavam seu nome histericamente. Pediam "democracia e liberdade". O caixão desceu à sepultura sob o canto do Hino Nacional.
Dona Letícia e seus filhos jogaram pétalas de rosas sobre o túmulo e sairam espremidos pelo povo.
No final, um homem velho de barbas brancas subiu à sepultura e iniciou um discurso: "Lacerda sempre que atuava fazia cair um governo corrupto, ele queria bem ao povo". Seguiram-se alguns outros discursos e o povo começou a retirar-se.


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