4 MULHERES RECONHECEM O MOTOBOY


Quatro mulheres que dizem ter sido vítimas de Francisco de Assis Pereira, 30, reconheceram o motoboy ontem. Duas delas pediram para ficar frente a frente com ele. Segundo a polícia, nenhuma teve dúvidas durante o reconhecimento. Onze mulheres já acusaram Pereira.

Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 1998

da Reportagem Local

Quatro mulheres reconheceram ontem o motoboy Francisco de Assis Pereira, 30, como o homem que as violentou. Duas delas pediram à polícia que ficassem frente a frente com o homem que confessou a morte de dez mulheres no parque do Estado, em São Paulo.
De acordo com o delegado Carlos Targino da Silva, da 4ª Delegacia de Tentativas de Homicídios e de Lesões Corporais, as mulheres não tiveram nenhuma dúvida ao reconhecê-lo. "Uma das que o viram de perto ficou emocionada e chegou a chorar", afirmou.
Pereira será acusado, nesses casos, de atentado violento ao pudor (todo ato sexual violento diferente da penetração da vagina) e de roubo. "Após violentá-las, ele levava dinheiro e objetos das vítimas", disse o delegado.
Durante o reconhecimento pessoal, Pereira foi colocado entre outros quatro homens que lhe são semelhante fisicamente. As vítimas descreveram o acusado e, em seguida, olharam os homens através de uma porta de vidro.
Duas das mulheres reconheceram Pereira através da porta de vidro. "As vítimas que quiseram ficar frente a frente disseram que precisavam vê-lo melhor."
Após os reconhecimentos, as mulheres prestaram novo depoimento, desta vez, como vítimas _ elas já haviam sido ouvidas como testemunhas nos inquéritos sobre as mortes no parque do Estado.
As mulheres descreveram como foram atraídas ao parque com a proposta de posar para fotos de catálogos de uma empresa de cosméticos. Afirmaram que Pereira também lhes prometia um cachê que variava entre R$ 200 e R$ 300.
Três delas foram abandonadas amarradas no parque e uma foi levada pelo maníaco até as proximidades de uma estação de metrô.
"Eram 3h, e ela pediu ao motoboy que não a abandonasse na mata, onde poderia ser morta. Então, ele (Pereira) a levou de moto à estação", disse Silva.
Segundo o delegado, uma outra vítima afirmou que, após violentá-la, o motoboy chorou muito ao contar-lhe a vida. A maioria das vítimas disseram ter sido atacadas no primeiro semestre de 1997.
Pereira negou todos esses crimes ao ser interrogado e confessar os assassinatos. Disse que apenas uma mulher escapou com vida de uma ataque no parque.
Segundo o delegado Jurandir Correa de Sant'Anna, diretor da Divisão de Homicídios, já são 11 as vítimas que procuraram a polícia para acusar Pereira. Duas outras disseram ter sido abordadas pelo motoboy, mas recusaram acompanhá-lo ao parque.
O motoboy estava sendo interrogado ontem à noite no inquérito que apura a morte da vendedora Raquel Mota Rodrigues, 23, ocorrida em 10 de janeiro. Segundo o delegado Sant'Anna, o motoboy ia ser indiciado (acusado formalmente) por mais esse crime.
(MARCELO GODOY)

Acusado diz que queria ser descoberto já em fevereiro

da Reportagem Local

O motoboy Francisco de Assis Pereira afirmou, em interrogatório _cuja íntegra foi obtida pela Folha_, que queria ser descoberto pela polícia logo após o assassinato de Isadora Fraenkel, em fevereiro. Depois desse crime, Pereira teria assassinado sete mulheres. No interrogatório, realizado no último sábado, Pereira havia confessado ter sido o responsável pela morte de nove mulheres.
"... Quando deixou o telefone de seu de serviço no verso do cheque dado para a aquisição do capacete, pretendia ser descoberto, pois iria revelar seu envolvimento não só na morte de Isadora, mas também na morte de Raquel, porém, quando se fez presente à delegacia, ficou temeroso e mentiu ..."
No interrogatório, o motoboy revela ainda que, ao sair de São Paulo, não estava fugindo da polícia. "... Na verdade, não fugiu por medo de ser preso pela polícia, ou porque seu retrato falado foi divulgado, mas, sim, o fez para evitar que continuasse a cometer outras mortes, pois pressentia que, a cada momento, aquele desejo macabro invadia mais e mais o seu ser. E, se continuasse, com o tempo acabaria realmente devorando um outro ser humano ..."
Na parte final do relato, Pereira nega, "categoricamente", ter cometido atentado violento ao pudor contra as vítimas que sobreviveram. Segundo o motoboy, todas as mulheres que entraram com ele na mata morreram.
(CRISPIM ALVES)

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