NIXON RENUNCIOU


Publicado na Folha de S. Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1974


O presidente Richard Nixon anunciou ontem à noite sua renúncia, pondo fim à sua longa luta para preservar uma presidência destruida pelo escândalo de Watergate. Nixon torna-se, assim, o primeiro presidente dos Estados Unidos a renunciar.
Até terça-feira, Nixon havia insistido em que não renunciaria e enfrentaria o processo constitucional de julgamento político "até às últimas consequências" ou seja, o "impeachment".
O presidente começou seu discurso, televisado para todo o mundo, em tom sereno e observou que durante o processo de Watergate impôs-se a si mesmo a firme convicção de continuar até o fim.
"Mas, é evidente que já não conto com o necessário apoio do Congresso. Enquanto eu o tivesse, lutaria até o fim".

O discurso

Numa breve referência a Watergate, Nixon afirmou que "se alguns dos julgamentos estiveram errados - e alguns estiveram - acredito que foram feitos no melhor dos interesses desta Nação".
Parecendo calmo e falando num tom de voz firme e inalterado, Nixon afirmou que a idéia de renunciar era "repelente para todo o instinto de meu corpo" e observou que os membros de sua família se opuseram à renúncia unanimemente.
"Continuar a lutar por uma defesa pessoal", disse Nixon, custaria muito tempo para o Congresso e para o Governo.
"Portanto, eu renunciarei à presidência efetivamente ao meio-dia de amanhã (hoje - 13 horas em Brasilia)". O vice-presidente Ford "prestará juramento como presidente nessa mesma hora, neste gabinete".
Nixon elogiou Ford, afirmando que "sei, como disse quando o designei, que a liderança da América estará em boas mãos".
Nixon, como já o fizera muitas vezes, mencionou sua contribuição para a retirada de soldados dos EUA do Vietnã e a sua política em busca de uma "paz duradoura".
"Necessitamos completar uma estrutura de paz, de forma que se possa dizer de nossa geração de norte-americanos que não somente terminamos uma guerra, mas que ajudamos a impedir outras", acentuou.
"Deixarei este gabinete com tristeza", declarou, após qualificar seus cinco anos e meio de governo como "uma época significativa, uma época de realizações".
Mais adiante, Nixon disse que a atual amizade entre as nações do Oriente Médio e os Estados Unidos deve ser preservada.
Referindo-se à distensão com a União Soviética, Nixon disse que esse relacionamento deve ser desenvolvido e expandido de modo a que as duas nações possam cooperar na manutenção da paz.
Nixon lembrou que o processo de limitar o desenvolvimento de armas nucleares havia sido iniciado, mas que o objetivo agora deve ser não apenas limitar essas armas mas reduzir seu número e finalmente destrui-las.
Afirmou que, "enquanto houver um sopro de vida em meu corpo continuarei a trabalhar pela causa da paz".
"Fiz este sagrado compromisso de consagrar meu posto, minhas energias e toda sabedoria que possa reunir para a causa da paz entre as nações".
Nixon assegurou que fez o melhor que pôde e está confiante em que "o mundo é um lugar seguro hoje para a América e todas as nações, e nossas crianças têm uma possibilidade melhor do que antes de viver em paz".
"Ao olharmos para o futuro, o essencial é começar a curar as feridas da Nação, bem como restabelecer a força e os altos ideais dos Estados Unidos, de um povo grandioso e livre".
"Ao adotar esta decisão, espero apressar este processo", acrescentou.
Nixon disse que lamentava algumas coisas que fizera.
"Se alguns de meus julgamentos estiveram errados, e alguns deles estiveram, foram adotados porque o considerei como sendo os que atendiam melhor aos interesses do país".
Nixon agradeceu aos amigos e correligionários que o haviam apoiado e acentuou que lhes seria "grato eternamente".
"E, dessa forma, para aqueles que não se sentiram capazes de me prestar seu apoio, permitam-me dizer que parto sem amargura para com aqueles que se me opuseram".
"Todos nós nos preocupamos com o bem deste país, quaisquer que tenham sido nossos julgamentos. Assim, unamo-nos em nosso propósito comum e ajudemos nosso novo presidente".

Ford assume às 13 horas

Gerald Rudolph Ford, de 61 anos, prestará juramento hoje ao meio-dia (13 horas de Brasilia) como o 38o presidente dos Estados Unidos da América, substituindo Richard Nixon.
Ford pertence ao Partido Republicano, e foi durante anos líder da bancada de seu partido na Câmara dos Representantes. Foi escolhido pelo Congresso para tomar o lugar de Spiro Agnew, quando este se demitiu após ter sido acusado de corrupção. O novo presidente norte-americano nasceu no Meio-Oeste e reune as qualidades típicas dos homens daquela região agricola: é conservador moderado, trabalhador, discreto e da classe média.
Nos últimos dois dias, Ford manteve uma série de conferências com o presidente Nixon, nas quais se acredita tratou da mudança de comando na cúpula governamental - um momento delicado para o país.
A primeira tarefa importante que lhe cabe é a escolha de seu próprio vice-presidente. Os observadores acham que a sua escolha poderá ser feita entre dois nomes que representam as tendências opostas dentro do Partido Republicano. De um lado, o liberal Nelson Rockefeller, ex-governador de Nova York e repetidas vezes candidato à presidência da Republica. Do outro lado, Barry Goldwater, conservador extremado, uma vez derrotado no pleito presidencial, contra Lyndon Johnson.
Já segundo o jornal "Chicago Sun Times", o próprio Ford teria preparado uma lista de 14 nomes, o mais cotado dos quais sendo o ex-secretário da Defesa, Melvin Laird.
Ford completará o mandato de Richard Nixon, até 1976. Pela lei americana, ele terá direito então a apresentar sua candidatura à presidência, e é quase certo que contará nessa época com o apoio de seu partido. Antes disso, porém, terá de reanimar o Partido Republicano e reconstruir a imagem partidária, que acaba de ser destruida quase totalmente pela renúncia de Nixon.
As próximas eleições de novembro são a data a ser temida pelos republicanos. Nessa época, serão parcialmente renovados a Câmara dos Representantes e o Senado.

A renúncia em troca de imunidades

WASHINGTON - No momento em que o presidente Richard Nixon se preparava para transmitir o cargo ao vice-presidente Gerald Ford, alguns membros do Congresso tomaram medidas; ontem para protegê-lo no que se refere ao caso Watergate, caso ele renunciasse.
Contudo, o líder democrata do Senado, Mike Mansfield, que sugerira o prosseguimento do processo de julgamento político mesmo em caso de renúncia do presidente, opôs-se imediatamente a qualquer forma de imunidade mesmo que sem força de lei. Outros dirigentes democratas também se opuseram a isso.
O senador Edward W. Brooke, primeiro senador republicano a sugerir que Nixon renunciasse, apresentou ao Congresso uma resolução que teria o sentido de sugerir ao promotor especial do caso Watergate, Leon Jaworski, assim como aos promotores dos níveis federal, estadual e local, que não processem Nixon.
Brooke afirmou que vários senadores e deputados expressaram seu apoio à medida, mas reconheceu que também encontrou alguma oposição entre as pessoas com quem falou.
O líder republicano da Câmara de Deputados, John J. Rhodes, afirmou que não apoiaria essa resolução. Ressaltou que ela não teria nenhum peso real, embora considerando que poderia haver certos "motivos morais" para que alguns parlamentares a apóiem.
O texto da resolução conjunta da Câmara e do Senado, proposta pelo senador Brooke, é o seguinte:
"Manifestando a opinião do Congresso no que concerne ao processo contra o presidente Richard Nixon, resolve o Senado (assim como a Câmara de Deputados) que é opinião do Congresso, que, se o presidente Richard Nixon renunciar, nenhum funcionário da Justiça, inclusive o procurador-geral e o promotor especial, assim como nenhum funcionário da Justiça de qualquer Estado, território ou sede de governo, proporá, orientará ou manterá processos civis ou criminais contra o presidente".

Vencer a todo custo, o lema de Richard Nixon

WASHINGTON - Talvez a mais errada história de um "self-made-man" que os roteiristas de Hollywood pudessem ter imaginado, chega a seu fim, sem o clássico "happy end", com a renúncia de Richard Nixon, um "duro", não acostumado a aceitar a derrota.
Vítima dessa alucinada ânsia de "subir na vida" seja a que preço for, Nixon desmorona agora, colhido pela própria maquinaria, de cujo manejo ele era um mestre. O escândalo de Watergate, não acaba apenas com presidente Nixon, o humilde advogado californiano, filho de modesta família de agricultores que o educou dentro dos severos padrões estabelecidos pelos "Quakers" e que conseguiu chegar ao mais importante cargo do mundo: a tragédia de Nixon talvez represente, também, o início da curva declinante para o mito do "american way of life".
De uma óptica psico-sociológica. Nixon é um expoente típico das classes médias protestantes norte-americanas: toda a sua vida demonstrou o impulso, a dureza, a imaginação, mais também as "falhas sentimentais" que fizeram dessas camadas de agricultores, pequenos comerciantes e proprietários, uma das forças motrizes no desenvolvimento da "grande sociedade" norte-americana.
Nixon, precisamente, é oriundo de uma família de agricultores e com freguência costuva vangloriar-se das dificuldades que teve para "subir" (nos Estados Unidos, como acontece nas nações jovens, a "aristocracia" é julgada menos pelas "origens" da linhagem do que pelo êxito conseguido.
Nixon, em uma palavra era um "ganhador" e, portanto, um "eleito dos deuses", possuidor do que talvez considerava a sua maior virtude, a de negar-se a sentir-se derrotado. E isso segundo muitas opiniões levou-o a ser virtualmente "demolido" pelo Escândalo Watergate.
"Talvez hoje, Nixon não chegue a entender muito bem de que maneira ocorreu... De que maneira essa maquinária, da qual tantas vêzes fez parte como executante, chegou a convertê-lo em vítima", observou um veterano funcionário legislativo que, entre sorrisos irônicos, recordou a atuação de Nixon como "caçador de bruxas" na comissão presidida pelo falecido senador Joseph McCarthy, nos anos 50.
Depois de derrotado por John Kennedy nas eleições presidenciais de 1960, depois de derrotado na eleição para governador de seu próprio Estado, a California, dois anos depois. Nixon anunciou dramaticamente que se retirava da política em uma histórica entrevista coletiva na qual disse: "Doravente os jornalistas já não terão Nixon para deleitar-se em fazer mal".
E este matiz, precisamente, é citado como o lado mais débil da personalidade de Nixon, demonstrativo - segundo os sociólogos e sociólogos - das "inseguranças" de que padecem as classes médias e que são consequência da situação instavel de sua posição social.
Nixon, com efeito, nunca suportou as críticas da imprensa e, de acordo com observadores experientes, chegou a proibir que lhe monstrassem caricaturas suas onde o tema principal era a sua barba serrada, que nunca conseguiu raspar muito bem e que lhe acentuava as covas da face, fazendo-o parecer uma coruja.
Fontes autorizadas, por outro lado, frequentemente mencionam as dificuldades do presidente para ser "aceito" em meios socialmente mais elevados do que o seu" e por seu notável abatimento diante de qualquer derrota.
Afirma-se, por exemplo, que ele nunca pôde perdoar o falecido presidente Eisenhower (de quem foi vice presidente de 1956 a 1960) porque ele nunca o recebera em particular nem lhe abrira as portas de certas dependências da Casa Branca.
Mas, apesar dessa debilidade, Nixon sempre teve um certo lado tentadoramente simpático para os norte-americanos, enquanto simbolizou a possibilidade de ascensão social. Neste caso, entretanto, e contrariamente ao que costuma acontecer nas fábulas, o pequeno filho de agricultores não conseguiu vencer.
Ídolo e digno representante de um importante setor da sociedade -ninguém como ele soube captar os anseios e satisfazer os desejos do que ele mesmo chamava de "a maioria silenciosa" Nixon é agora desprezado, em sua derrota, por aqueles mesmos que o elegeram duas vezes presidente dos Estados Unidos e faziam ouvidos moucos às advertências sobre o carater do candidato.
Na campanha presidencial de 1968, seus adversários do Partido Democrata mandaram imprimir milhões de cartazes onde, abaixo do rosto de Nixon, lia-se: "Você compraria o carro usado deste homem? A "maioria silenciosa comprou". Mas naquela época, Nixon transmitia a imagem de um "classe média" em ascensão.

A Origem

O advogado Richard Milhous Nixon foi o 37º presidente dos Estados Unidos, é o primeiro a ver-se obrigado a abandonar voluntariamente o cargo.
Nasceu no dia nove de janeiro de 1913, em Yorba Linda, California, no seio de uma familia de origem modesta que lhe deu a rígida educação dos "Quakers".
Qualquer pessoa de sua familia definiria seus principios religiosos em três paixões: a paz, os direitos cívicos, a tolerância.
Depois de estudos secundários brilhantes, Nixon obtem uma bolsa de estudos de três anos na Universidade de Duke, onde se diplomou em direito, impresionando seus camaradas por sua memória e dedicação ao trabalho.
Auxiliar num escritório jurídico, entre 1937 e 1942, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Marinha, onde serviu durante três anos nas ilhas do Pacífico, obtendo o grau de tenente.

A Ascensão

Em 1946, apresentou-se como candidato republicano e foi eleito pelo Estado da California para a Câmara de Representantes, para o periodo de 1947-50.
Durante esse periodo, teve um papel muito ativo em sua comissão de atividades norte-americanas, dirigida pelo célebre senador Joseph MacCarthy.
De 1951 1953, foi membro do Senado, e eleito candidato à vice-presidencia de seu país pela ala direita do Partido Republicano, inquieta com o liberalismo de Dwight Eisenhower.

Primeira Derrota

Em 1960, tentou suceder a Eisenhower na presidência dos Estados Unidos, mas foi derrotado por escassa margem pelo candidato democrata John Fitzgerald Kennedy.
Reiniciou então suas atividades de advogado na California, voltando a ser derrotado em novembro de 1962, para o posto de governador desse Estado, por Edmundo Brown, que iniciou assim um segundo mandato.
Nesse momento, Nixon declarou que renunciava à politica e passou a integrar importante escritorio de advogados em Nova York, de que se tornou socio, mantendo-se ali entre 1963 e 1968.
Tendo apoiado em 1964 a candidatura presidencial de Barry Goldwater, da extrema direita do Partido Republicano, Nixon realizou longa viagem de informação pelo mundo, em 1967.

A Falsa Lição

Depois de perder as eleições presidenciais de 1960 contra John F. Kennedy, Nixon escreveu um livro, "As seis crises" em que pormenorizou os seis acontecimentos de maior significado de sua carreira politica, que, segundo disse, lhe haviam ensinado "como evitar as crises".
No preâmbulo original da obra, Nixon diz que o denominador comum dessas crises havia sido que "enquanto cada uma representou um problema pessoal agudo, cada uma também teve consequências, muito mais amplas que envolveram totalmente como uma sombra minha sorte pessoal".
Entretanto, ao chegar finalmente à presidência, Nixon emendou o preâmbulo, para que dissesse: "todo país que vive de crise corre o risco de forçar seu espírito e perder sua alma; e no mundo de nossos dias existem limites quanto à extensão até onde é possivel tolerar uma crise, seja diplomática, com o exterior, ou de política interna".
As seis crises de sua vida, segundo especificou, foram:
O "CASO HISS"- Em 1947, quando começava a representar um distrito da California na Câmara dos Deputados, Nixon afirmou que Alger Hiss, que fora uma alta autoridade do Departamento de Estado havia pertencido ao Partido Comunista. Apesar das criticas, Nixon prosseguiu e Hiss foi finalmente enviado a prisão sob a acusação de perjúrio.
O FUNDO DE 1952 - Quando em 1952, já senador, ao ser designado vice-presidente pelo Partido Republicano, Nixon foi acusado de manter um fundo para seu uso pessoal, formado por amigos ricos da California, Nixon venceu as acusações com o chamado discurso de "checkers" pela televisão, em que, com lágrimas nos olhos, afirmou que o único presente que havia recebido fora seu cachorro "checkers".
A SÍNCOPE CARDÍACA DE EISENHOWER DE 1956 - Nixon descreveu a emoção que sentiu ao perceber que poderia chegar à presidência, quando o presidente Dwight D. Eisenhower sofreu um grave ataque do coração.
VENEZUELA - Em 1958, o então vice-presidente Nixon foi vítima de violenta manifestação contra os Estados Unidos em Caracas, quando seu automovel foi apedrejado e recebeu cusparadas da multidão. Na ocasião realizava uma viagem pela América do Sul.
O DEBATE DE COZINHA - Em 1959, numa cozinha de Moscou, Nixon discutiu com o primeiro-ministro Nikita Kruschev sobre os méritos da democracia comparada com o comunismo.
A CAMPANHA DE 1960 - Nixon afirmou que estava certo de ser o candidato de maior mérito, sendo derrotado por diferença minima pelo candidato democrata John Kennedy.

O Reinicio

Em agosto do ano seguinte, foi nomeado pela Convenção Republicana para o cargo de presidente dos Estados Unidos, conseguindo vencer o candidato democrata Hubert Humprey nas eleições de novembro desse mesmo ano.
Em 1972, foi reeleito triunfalmente, com mais de 62 por cento dos votos, vencendo, com uma margem a seu favor superior aos 18 milhões de votos, ao candidato democrata, George MacGovern.
Reinstalado na Casa Branca, Nixon pôs terno à guerra do Vietnã assinando o acordo de Paris no dia 27 de janeiro de 1973.
Nove meses mais tade, conseguiu outro importante êxito diplomático, ao por fim à quarta guerra arabe-israelense, graças a um acordo com o lider soviético Leonid Brezjnev.

O Fim

O estouro do Escândalo de Watergate, obrigou Nixon a desligar-se de seus principais colaboradores em maio de 1973.
A brutal e irregular demissão do promotor especial Archibald Cox, encarregado do Caso Watergate, no dia 20 de outubro de 1973, tinha provocado uma crise política sem procedentes.
Três dias depois, o dia 23 de outubro, a Câmara de representantes iniciou uma investigação prévia sobre o processo de destituição de Nixon, ou julgamento político.
A fase final do escândalo de Watergate iniciou-se em julho último, quando, pela segunda vez na história dos Estados Unidos a Comissão Judicial da Câmara dos Representantes recomendou a destituição do chefe de Estado.
Parece uma cruel ironia que a torpe invasão de 17 de junho na sede do Partido democrata, no Edificio Watergate, tenha ocorrido quando muitos estavam convencidos de que as possibilidades de reeleição de Nixon eram brilhantes, com a promessa de outros quatro anos para conseguir a paz mundial e travar a "nova revolução norte-americana".
Todavia, muitos políticos acusam a Nixon de sua própria queda. Acreditam que o presidente poderia ter evitado que o escândalo o prejudicasse pessoalmente, simplesmente com a declaração de que iria ao âmago do problema e que agiria sumariamente com qualquer um que estivesse envolvido no mesmo.
Porém, Nixon não fez isto.
Tomando um caminho bem diverso, a Casa Branca classificou o delito como "um roubo de terceira classe" enquanto Nixon, por mais de dois anos, manteve em segredo o fato de que ele era um ativo participante no plano de encobrimento, para que nada pertubasse sua reeleição.
Reeleito por autêntico aluvião de votos, sem precedente na história dos Estados Unidos, graças à manobra de encobrimento do escândalo, Nixon parecia ser, então, o exemplo máximo de teoria de que os fins justificam os meios.
Mas, levariam apenas dois anos, para que o presidente superasse outro recorde: o do índice mais baixo de popularidade de todos os seus predecessores.
Seria exagerado, talvez, atribuir o atual desprestígio de Nixon apenas ao Caso Watergate. O escândalo foi o agente de toda uma evolução vertiginosa de fatos que levaram o presidente a perder praticamente todas as condições para realizar um governo razoável.
Porisso, seria talvez correto afirmar que a fiel "maioria silenciosa" de Nixon abandonou-o não apenas por que estivesse escandalizada com as revelações sobre Watergate, mas, sobretudo, por estar preocupada com a ineficiência do governo.
Assim, enquanto centenas de curiosos, de todas as idades e de todas as camadas sociais, concentravam-se ontem em frente à Casa Branca, para assistir ao último capítulo da tragédia nixoniana, podeia-se ouvir um meio ao povo muitas frases como esta, dita pelo carteiro Joe Browater, de 54 anos:
"Pouco me importa se é Nixon ou Ford quem vai ficar na Casa Branca. O que me preocupa é a inflação".
 

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