ELES ESTÃO LÁ

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 1969

Neste texto foi mantida a grafia original

Na maior conquista da historia da Humanidade, os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin pousaram ontem suavemente na superficie da Lua, no Mar da Tranquilidade, exatamente no local previsto. O motor de freio do Modulo Lunar, o "Aguia", levantou uma nuvem de poeira, quando Armstrong desviou a nave de uma cratera cheia de pedras, pousando num angulo correto que permite a ascensão do modulo sem maiores problemas. O Centro de Controle de Houston disse que o angulo de inclinação era de 4 graus, considerado excelente. Se fosse superior a 12 graus, o "Aguia" não teria condições de alçar vôo. A descida se deu às 17h18, hora de Brasilia, menos de duas horas depois da separação do modulo da Apolo-11, quando se encontravam a quase 200 km de altura, em orbita lunar. Todas as manobras decorreram dentro da mais absoluta precisão, causando indescritivel entusiasmo aos tecnicos de Houston, responsaveis pelo sucesso do vôo.

Os dialogos

Assim que o Modulo Lunar tocou na superficie do satelite natural da Terra, o comandante Armstrong declarou: "A Aguia pousou".

"Uma descida muito suave" - acrescentou Aldrin.

O Centro de Controle autorizou o modulo a ficar duas horas na Lua.

Este é o tempo necessario para Collins completar mais uma orbita em torno da Lua e voltar a passar por cima do local onde está pousada a "Aguia".

O Centro Espacial calculou o momento exato do pouso em 20 horas, 17 minutos, 42 segundos (GMT), 17 horas, 17 minutos, 42 segundos (hora de Brasilia).

O modulo informou que pouco antes de pousar teve que fazer uma manobra para não cair numa cratera cujo fundo estava coberto de pedras.

As primeiras palavras de Armstrong na superficie da Lua foram:

"Luz de contato presa. Motor desligado. A Aguia pousou".

Armstrong disse que o sistema de direção automatico estava conduzindo o modulo "bem dentro de uma area do tamanho de um campo de futebol cheio de crateras".

"Parecia uma coleção de todos os tipos existentes de angulos, formas, todos os tipos de pedras que a gente pode pensar", disse Aldrin.

Por isso, disse Armstrong, nos ultimos segundos do vôo assumi o controle manual do vôo "a fim de encontrar uma area razoavelmente plana".

Aldrin disse que a superficie da Lua no ponto de descida não parecia muito colorida, mas viu algumas pedras "que parecem ter algumas cores interessantes".

"Essa gravidade de um sexto é bem semelhante à de dentro de um avião".

Quando o Centro de Controle disse que havia milhares de pessoas sorrindo em todo o mundo, Armstrong respondeu: "tem mais dois aqui em cima".

Collins, no modulo de comando, entrou em contato com o Modulo Lunar e disse:

"Com toda a certeza foi magnifico. Vocês, rapazes, fizeram um trabalho fantastico".

Obrigado", respondeu Armstrong. "Deixe essa base orbital pronta para nós".

"Vou deixar", respondeu Collins.

O Centro de Controle informou às 17h32 que os sistemas de bordo do modulo pareciam em boas condições depois da descida, indicando que não haverá problemas para a decolagem.

Uma das leituras mais importantes foi a da inclinação do modulo com relação à superficie lunar, pois uma inclinação superior a 12 graus não permitia a decolagem.

O controle da Terra calculou o angulo em cerca de quatro graus, e a medição foi confirmada por Armstrong dentro do modulo.

Armstrong declarou que não estava tendo problemas para se adaptar a gravidade mais baixa. "Parece que nós já estávamos acostumados aos treinamentos", disse.

Armstrong fêz uma rapida descrição do local de pouso, dizendo que havia muitas pedras "grandes e pequenas" no seu raio de visão.

O Centro de Controle parecia muito mais entusiasmado que os astronautas:

"Rapazes, este foi um trabalho muito bem feito", declarou o controle.

Depois de fazer uma rapida revisão nos instrumentos do modulo, Armstrong e Aldrin simularam uma contagem regressiva para ter certeza de que tudo estava funcionando bem para a decolagem, amanhã. Armstrong informou que houve varios sinais de alarma durante os ultimos minutos da descida, e por isso não olhou os pontos de referencia da superficie do satelite que identificariam seu local de pouso preciso.

Sobre o solo lunar Armstrong informou:

"Não tem cor quase nenhuma, rochas acinzentadas, muito brancas, como cal, na fase zero, mas com manchas cinzentas por fora, mas seu interior parece olhando a 90 graus do Sol. Algumas pedras têm mais escuro, onde foram quebradas pela força do motor de pouso".

Disse em seguida que estava vendo "literalmente milhares de pedrinhas e duas crateras de mais ou menos um pé (30 centimetros) de diametro" na area de seu raio de visão.


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