JOHN KENNEDY ASSASSINADO


Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 23 de novembro de 1963

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DALLAS, Texas, 22 (FOLHA) - O presidente Kennedy foi assassinado hoje, quando desfilava em carro aberto em Dallas, Texas, juntamente com o governador John Connally. Perante 250 mil pessoas, o presidente foi atingido por três disparos, caindo, mortalmente ferido, sobre o banco da frente. Os vidros à prova de bala do automovel estavam abaixados. O governador John Connally foi tambem atingido, mas sem gravidade. Jacqueline, ao ver seu marido cair, tomou-lhe a cabeça nas mãos, gritando, enquanto o automovel se dirigia, a toda a velocidade, para o hospital.
Imediatamente, foi isolada a area, para a localização do assassino. Afirma-se que os tiros foram disparados do quinto andar de um edificio proximo, onde já foram encontrados três cartuchos vazios e uma arma italiana, com mira telescopica.
Transportado imediatamente ao hospital Parkland, foi assistido por varios medicos na desesperada tentativa de salvar sua vida. Fora, o povo se reunia à espera da alegria de uma boa noticia ou, o que aconteceu, da tristeza do anuncio da morte.
Foi solicitada a presença dos principais cirurgiões de Dallas. Tentou-se reanimá-lo através de uma abertura feita no pescoço, por onde poderia respirar. Fizeram-lhe massagem no coração, a "peito fechado". Tudo foi tentado. O ferimento foi mais forte. Kennedy, assistido por um sacerdote catolico, que lhe administrou a extrema-unção, morreu às 13 horas locais.
O presidente da Republica do Brasil, João Goulart, ao tomar conhecimento da morte do presidente Kennedy, enviou o seguinte telegrama à senhora Jacqueline Kennedy: "Em nome de minha mulher e no meu proprio, peço-lhe receber a expressão de nosso mais sentido e profundo pesar. Sua grande dor é partilhada neste momento por todos os brasileiros, cujo sentimento exprimo com a maior emoção".
O presidente Goulart determinou ao embaixador Roberto Campos que volte imediatamente para Washington a fim de apresentar, pessoalmente, à familia Kennedy, os sentimentos do povo e do governo brasileiro pela morte do presidente John Kennedy.

Mundo chora morte de Kennedy

WASHINGTON, 22 (FOLHA) - Sinos dobram a finados e as bandeiras estão a meio-pau. Fiéis oram mais nas igrejas pela alma de John Kennedy, primeiro presidente catolico dos Estados Unidos. O povo, aglomerado nas ruas, chora a morte de seu lider.
Um motorista negro de taxi, chorando na direção, dizia a um pedestre: "Isto foi uma coisa imunda. É a coisa mais imunda que já vi, e Deus sabe que vi coisas imundas em minha vida". Um locutor do serviço de radio das Forças Armadas norte-amricanas não pôde ler a noticia, tendo uma crise de choro.
Muitas pessoas ainda não acreditam na morte do presidente. Outros, já conformados, prevêem dias dificeis para os Estados Unidos com o assassinio de seu presidente. Alguns, mais exaltados, pedem justiça. Se possivel com as proprias mãos. Todas as atividades foram paralisadas no país.
A Bolsa de Valores de Nova York parou de funcionar, em virtude das sucessivas ordens de venda provocadas pela morte de Kennedy. O funcionalismo, em sinal de luto, paralisou as atividades em Washington. Uma pergunta está no ar: "Como foi possivel, com os serviços de segurança em atividade, assassinar o presidente?" É a perplexidade: "Meu Deus, somos todos norte-americanos, como matar nosso presidente?"

Thant consternado

NAÇÕES UNIDAS - O presidente da Assembléia Geral das Nações Unidas, Carlos Sosa Rodriguez, anunciou a morte do presidente Kennedy aos delegados no inicio da reunião. Sosa manifestou "o profundo sentimento de todos os delegados das Nações Unidas depois desse terrível fato".
O secretario-geral da ONU, U Thant, declarou: "Como secretario-geral das Nações Unidas desejo expressar minha profunda tristeza ante o tragico acontecimento, e enviar minhas condolencias à sra. Kennedy, aos membros de sua familia e ao povo norte-americano."
A seguir, os membros da Assembléia observaram, de pé, um minuto de silencio, após o que foi suspensa a sessão.
O representante norte-americano na ONU, Adlai Stevenson, recebeu a noticia durante um almoço com o embaixador sovietico, Fedorenko Stevenson, palido, retirou-se para seu escritorio.
A sra. Vijaya Lakshmi Pandit, irmã do primeiro-ministro hindu Jawaharlal Nehru e amiga do Mahatma Ghandi, afirmou: "Pessoas de todos os paises compartilham do pesar do povo norte-americano. Não pode haver ato mais baixo que o que acaba de privar de sua vida um grande e nobre homem. O mundo ficou mais pobre com sua morte."

OEA reunida

WASHINGTON - a Organização dos Estados Americanos decidiu celebrar uma reunião extraordinaria, por motivo da morte de John Kennedy. O presidente do Conselho da OEA, Gonzalo Facio, declarou que a reunião visa a "exprimir oficialmente a profunda emoção de todos os Estados americanos pela noticia do assassinio do presidente norte-americano".
O secretario de Estado, Dean Rusk, que se encontrava no Vietnã do Sul, já tomou um avião para regressar aos Estados Unidos.

Fala Valencia

BOGOTÁ - O presidente da Colombia, Guillermo León Valencia, negou-se nos primeiros instantes a fazer declarações sobre o assassinio de John Kennedy. Logo após ter conhecimento da morte, Valencia dirigiu mensagem de condolencias a Jacqueline.
O jornal "El Tiempo" publicou edição extra, com a manchete "Assassinado o presidente Kennedy". O diretor do jornal, Roberto Garcia Pena, disse que morreu "uma das maiores figuras da historia da América e do mundo". E acrescenta: "A morte de Kennedy representa para o destino da humanidade uma dura provação, e significa para a America Latina uma tragedia sem nome. A democracia universal e a liberdade dos homens perderam um procer figurante de sua paz".

Na Sll

Miami - O atentado contra o presidente John Kennedy consternou os membros da Sociedade Interamericana de Imprensa. Todos deixaram o restaurante onde almoçavam e foram para as agencias de noticias, a fim de se informarem. O primeiro a opinar foi Armando Ramos, diretor de "El Mundo", de Buenos Aires: "O atentado foi um ato inqualificavel de selvageria, um ataque direto à democracia".

Rainha envia pesames

LONDRES - A rainha Elizabeth II, ao ser informada da morte de John Kennedy, enviou um telegrama de pesames à viuva e à Casa Branca.
O ex-primeiro-ministro trabalhista, lorde Attlee, disse "Esta é um terrivel tragedia. Como lider, o sr. Kennedy era um homem de grande valor; suas perspectivas, tão amplas, eram particularmente impressionantes". Lorde Ogmore, presidente do Partido Liberal o terceiro em força da Grã-Bretanha, afirmou: "Não há duvida de que este é um duro golpe para a causa do mundo livre e da Aliança do Atlantico, na qual tanto acreditava o presidente norte-americano. Expressamos nossos pesames ao povo dos Estados Unidos à esposa do presidente Kennedy e à sua familia".
Kennedy era considerado nos circulos politicos britanicos, como um homem capaz de livrar o mundo da guerra atomica, graças a seus acordos com a União Sovietica.
No plano nacional britanico, o assassinio do presidente Kennedy provocou graves problemas para Home, cuja politica visa à normalização das relações com a União Sovietica e a China Comunista.

No radio

LONDRES
- A BBC anunciou o falecimento do presidente John Kennedy e suspendeu suas transmissões, em sinal de luto.
Em Bruxelas, alguns momentos após a morte de Kennedy, a radio e televisão belgas suspenderam suas transmissões, anunciando que a Belgica unia sua dor à dos Estados Unidos. Antes da suspensão, foram tocados os hinos nacionais da Belgica e dos Estados Unidos.

Moscou comenta

MOSCOU - A agencia Tass, a radio e a televisão sovietica anunciaram a morte do presidente John Kennedy e afirmaram ter sido o assassinio cometido por "elementos de direita". Alguns cidadãos russos mostravam-se tambem indignados com o assassinio. Um empregado de uma loja declarou: "Indigna-me o atentado contra Kennedy. Considero que foi perpetrado pelas forças reacionarias do Texas . Onde há muitos partidários da 'John Birch Society'". O Ministerio das Relações Exteriores não comentou ainda o assassinio. A morte de John Kennedy foi comunicada a Moscou pelo "teletipo vermelho".

"Morreu como soldado"

PARIS - "O presidente Kennedy morreu como um soldado, cumprindo seu dever e a serviço de seu país", declarou o general De Gaulle. "Em nome do povo francês, amigo de sempre do povo norte-americano, rendo homenagem a seu exemplo e à sua emocionante recordação".

Na Italia

Vaticano - O papa recebeu consternado a noticia da morte do presidente Kennedy. Pouco depois, foi à capela particular rezar por sua alma, e enviou condolencias a Jacqueline.
Na Italia, foram suspensas as negociações para a constituição de um novo governo.

Bonn lamenta

Bonn - "A noticia da morte de Kennedy enche de profunda emoção o povo alemão. Todos os que tiveram a satisfação de conhecê-lo pessoalmente sentem no momento uma profunda tristeza" - declarou o vice-chanceler Erich Mende, na ausencia de Ludwig Erhard.


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