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História :: Vietnã

JOÃO BONTURI
da Folha Online


Guerra do Vietnã
Retrato da Raquel Welch ou da Ursula Andress num bolso, isqueiro Zippo para atos incendiários, rock no rádio, no estilo do DJ vivido por Robin Williams em "Bom Dia, Vietnã"; cigarro com filtros de um lado, maconha no outro, uma câmera fotográfica na mão, idéias incompletas na cabeça; napalm, surf e cadáveres, como em "Apocalipse Now", de Francis Ford Coppola; de casa chegando uma carta do pai ou do avô, que só faltava conter um retrato de John Wayne em "Os Boinas Verdes". Esse era o soldado americano que lutava no Vietnã.

Faça a Guerra
Por que estou aqui, perguntavam aqueles guris fardados... Porque "o seu avô lutou na Primeira Guerra Mundial e o seu pai na Segunda Guerra Mundial. Esta é a sua guerra, garoto".

Os Números da Guerra
Em nome dessa herança, morreram 2 milhões de civis vietnamitas. Do Exército comunista do Vietcong foram liquidados 1,1 milhão, e outros 600 mil feridos. No Exército do Vietnam do Sul, aliado dos ianques, ocorreram 223 mil mortes. Entre os norte-americanos, cerca de 58 mil soldados foram eliminados, 300 mil feridos, 2.000 desaparecidos. As amputações e sequelas permanentes foram 300% proporcionalmente maiores do que na Segunda Guerra Mundial.

Por quais razões se lutava?
O Vietnã, uma colônia francesa, foi invadido pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. No esforço para a libertação, Ho Chi Minh e outros líderes comunistas vietnamitas criaram a Liga Pela Independência do Vietnã, que atuou como movimento guerrilheiro, inclusive com apoio norte-americano, dentro das perspectivas da Conferência de Teerã (1943), na qual ingleses, americanos e soviéticos concordaram que os países libertados teriam regimes democráticos, governados em princípio por coalizões contrárias ao nazi-fascismo. Em 2 de setembro de 1945, Ho Chi Minh proclamou a independência da República Democrática do Vietnã.

Diante da Guerra Fria, os franceses reinstalaram o seu domínio sobre a Cochinchina, de onde tentaram apoderar-se do resto do Vietnã. Derrotados em 1954, firmaram os Acordos de Genebra, nos quais o país foi dividido em duas zonas ao largo do paralelo 17, que não se devia transformar em fronteira, com previsão de um plebiscito em 1956, sobre a reunificação. Porém, essa consulta não se realizou, devido à radicalização de ambos os lados: o Norte, controlado pelo comunista Ho Chi Minh, respaldado pela China e URSS; e o Sul, pelo anticomunista por Ngo Dinh Diem, com crescente apoio dos EUA.

A Presença dos EUA no Vietnã
Em 1960, a Revolução Cubana abala os EUA. A Teoria do Dominó (1954), enunciada pelo presidente Eisenhower, é utilizada por Kennedy. Por ela, os Estados do Sul da Ásia eram como pedras de dominó, que postas em fila cairiam todas sob a influência comunista. Esse dogma é aplicado também para a América Latina.

Ainda em 1960, os norte-vietnamitas criaram a Frente de Libertação Nacional, mais conhecida como Vietcong, que dissemina a guerrilha pelo interior do Vietnã do Sul. Em janeiro de 1961, os ianques tinham 2.000 homens na área; em 1963, eram 16 mil. Após o assassinato de Kennedy, o vice Lyndon Johnson aprova a intervenção direta dos EUA no conflito. Entre 1965 e 68, o número de soldados norte-americanos aumentou de 125 mil para 550 mil. Além dos ianques, apresentam-se também contingentes da Coréia do Sul, Tailândia, Austrália, Nova Zelândia e Filipinas.

Os americanos nunca controlaram o Vietnã do Sul, pois os civis apoiavam os vietcongs, que após suas ações desapareciam com o apoio do povo. Daí o pavor dos recrutas ianques, que disparavam rajadas de metralhadora contra qualquer coisa que se mexesse.

Os Protestos e os Novos Valores na Sociedade Americana
A duração e as proporções do conflito chamaram a atenção dos jovens americanos, que se assustaram diante da perspectiva de participação na carnificina. Cresce o movimento hippie cujo visual colorido se opõe às tradicionais cores discretas como o preto, branco, marrom e cinza; os cabelos longos consagraram-se em oposição ao corte militar curto; as barbas compridas, que já compunham o look castrista, negavam de vez o visual clean dos soldados. O auge do movimento foi o festival de Woodstock.

Esse protesto que marcou os valores da geração dos anos 60, divulgou o uso e ampliou o consumo das drogas, pois os jovens, ao desejarem um alívio momentâneo em relação às preocupações, viajavam sob o efeito das bolinhas, da maconha e do perigoso LSD. De placa de identificação na correntinha do pescoço, como os soldados, ou sem lenço, sem documento, os jovens experimentavam os "baratos".

Os americanos ficaram pressionados entre os horrores da guerra, as drogas e o "Make Love, Not War". Muitos pais choravam a perdida virgindade das filhas nos drive-in, motéis, garagens ou até mesmo na cama dos pais quando estes saíam para ir ao cinema.

Efeitos da Mudança de Comportamento na Política
O terremoto em torno dos valores não permitiu a reeleicão de Lyndon Johnson, sendo preferido Richard Nixon, cuja plataforma era Paz com Honra. Em 1973, pelos Acordos de Paz de Paris, os americanos começam a abandonar o Vietnã, embora a guerra continuasse até 1975.

A Guerra do Vietnã traumatizou a sociedade norte-americana. A derrota da superpotência por um pequeno e subdesenvolvido país comunista, pôs por terra muitas estratégias e teorias. O ano de 1973 marca também o início da crise do petróleo, e certamente o desastre americano teria sido muito maior se o fanatismo anticomunista perdurasse no Sudeste asiático. Depois de Nixon, Jimmy Carter restauraria a fé na democracia retirando aos poucos o apoio aos regimes ditatoriais estabelecidos pela Teoria do Dominó. A Guerra Fria caminhava lenta, mas firmemente, para o seu ocaso.

 

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