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30/10/2002 - 10h13

''Secretaria de Comércio Exterior atrapalharia'', diz Lampreia

PAULO CABRAL
da BBC

O ex-ministro de Relações Exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia, diz acreditar que o plano do PT de criação de uma Secretaria de Comércio Exterior iria atrapalhar mais do que ajudar no esforço brasileiro de melhorar sua balança comercial.

'Criar uma nova instituição seria um erro. Isso iria confundir o quadro, enfraquecer o Itamaraty e certamente não iria resolver nosso problema', observou o embaixador, referindo-se à idéia apresentada também pelo candidato derrotado José Serra de criar um Ministério do Comércio Exterior.

Mas Lampreia que foi chanceler de Fernando Henrique Cardoso de 1994 até 2000 e hoje preside o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) observou que o PT tem gente de 'grande categoria' que poderia assumir o Ministério de Relações Exteriores.

Nesta entrevista à BBC Brasil, Lampreia citou os deputados Paulo Delgado e Luiz Gushiken e o secretário de Cultura de São Paulo e ex-secretário de Relações Internacionais do PT, Marco Aurélio Garcia.

BBC Brasil - O que o senhor acredita que mais vai mudar na política externa brasileira com a chegada do PT ao poder?
Luiz Felipe Lampreia -
Não vejo grandes mudanças, em primeiro lugar porque a política externa do governo Fernando Henrique não tinha nada de partidária ou doutrinária, e sim era de Estado, de interesse nacional. Nos seis anos em que fui governo, tinha relações excelentes com líderes do PT como Luis Gushiken, Paulo Delgado e Marco Aurélio Garcia, e em todos eles encontrava grande coincidência de pontos de vista. Haverá, evidentemente, nuances e ênfases diferentes, mas mudanças radicais não.

BBC Brasil - Qual o senhor acredita que deve ser o perfil do novo chanceler brasileiro? O senhor acredita que ele tem de ser um diplomata de carreira?
Lampreia -
É sobretudo necessário que o chanceler tenha um bom nome internacional, um bom relacionamento, peso convocatória. Acho isso muito mais importante do que sua origem.

BBC Brasil - O PT tem bons quadros para este cargo?
Lampreia -
Sem dúvida nenhuma que tem gente de grande categoria.

BBC Brasil - Quem o senhor acha que poderia se tornar ministro de dentro do partido?
Lampreia -
Acho que citar nomes para um ministério não seria oportuno, inclusive porque não sou do PT ou de qualquer outro partido. Mas destaco que estes três que eu citei (Gushiken, Delgado e Garcia) são quadros com grande conhecimento internacional, e que foram meus interlocutores no tempo em que fui ministro.

BBC Brasil - O PT propõe a formação de uma Secretaria de Comércio Exterior. O que o senhor acha?
Lampreia -
Eu acho que está muito bom como está. O Brasil tem todas as condições de coordenação na Camex (Câmara de Comércio Exterior da Presidência) e acho que o Itamaraty pode fazer muito bem este papel de negociador. Acho que criar uma nova instituição seria um erro, iria confundir o quadro. Isso iria enfraquecer o Itamaraty, e certamente não iria resolver nosso problema. O Brasil precisa de uma série de posicionamentos e medidas estratégicas e não de um novo ministério.

BBC Brasil - Que medidas?
Lampreia -
Medidas de desoneração de exportações, a criação de uma posição estratégica exportadora brasileira, o fortalecimento de nosso sistema de promoção comercial, medidas de fortalecimento de nossa posição negociadora, formação de quadros na área de comércio exterior e na área de negociação, e uma série de medidas práticas deste tipo.

BBC Brasil - E no plano político, o posicionamento brasileiro muda com a chegada da esquerda ao poder ?
Lampreia -
Num certo sentido muda porque o governo Lula está acenando com maior ênfase na América Latina e na América do Sul. Isso não é propriamente uma novidade porque o Fernando Henrique fez isso durante todo o seu governo, mas acho que eles pretendem dar uma ênfase maior. E é obvio que a chegada ao poder, pela primeira vez no Brasil, de um partido de esquerda, como o PT, é uma novidade importante política que vai ter seguramente uma tradução e uma leitura internacional que não é possível ignorar.

BBC Brasil - Como o senhor acredita que esta leitura está sendo feita?
Lampreia -
Eu acho que a chegada do PT à presidência está sendo bem vista de um modo geral, mas tudo vai depender do que o governo vai fazer quando assumir. Mas, por enquanto, eu acho que a receptividade é muito positiva.

BBC Brasil - De que modo devem caminhar as negociações para a Alca e com a União Européia?
Lampreia -
Acredito que haja maior resistência em relação a Alca, e não sei em relação aos europeus. Mas não são negociações que estejam muito embandeiradas no momento porque depende de impasses que não têm solução à vista.

BBC Brasil - Porque esta resistência maior aos Estados Unidos? O senhor acredita que seja uma questão política ou um cálculo comercial?
Lampreia -
Acho que é uma consideração comercial e a percepção de que talvez os concorrentes americanos possam ser mais agressivos e, se não tomarmos cuidado, mais perigosos para a nossa indústria.

BBC Brasil - O senhor concorda com esta avaliação?
Lampreia -
Em um certo sentido sim. Acho que para nós a melhor solução não é nem Alca e nem União Européia. O que devemos fazer é negociar na OMC e lá obter concessões.

BBC Brasil - Mas o senhor vê clima para negociações atualmente?
Lampreia -
O momento não é brilhante porque a atividade econômica está fraca no mundo inteiro, e há recessão e dificuldades, mas o espírito de Doha, o espírito da nova rodada, está presente, está caminhando e acho que vai em frente.

 

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