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11/04/2003 - 16h32

Análise: Fim do legado de Saddam exige revolução cultural

GERALD BUTT
da BBC

Derrubar estátuas de Saddam Hussein, queimar seus retratos e introduzir moedas e notas que não levem mais a imagem do ex-ditador são gestos simbólicos importantes.

Mas apagar o legado de Saddam não vai ser uma tarefa fácil. Vai exigir uma verdadeira revolução cultural.

Mesmo em uma região onde ditaduras ainda são a regra, o regime de Saddam Hussein era mais duro e truculento do que a maioria. A sua autoridade e a de seu partido, o Baath, invadiam todos os níveis da sociedade iraquiana.

O poder do líder e de sua burocracia era confirmado por uma grande rede de informantes que trabalhavam para várias agências de espionagem interna.

O objetivo dessa densa estrutura era eliminar a disputa política no Iraque.

Os cidadãos iraquianos não eram apenas desestimulados pelo sistema político, mas também aterrorizados por ele.

Diversidade

Construir um novo sistema político vai ser um processo lento e difícil, considerando a diversidade étnica e religiosa do país.

Nem vai ser fácil ganhar a confiança do povo iraquiano para persuadi-lo a participar de um sistema em que os cidadãos tenham um papel político importante.

Um outro desafio vai ser convencer os iraquianos de que os homens e as mulheres escolhidos para liderar o país, tanto nacionalmente quanto nas regiões, foram escolhidos por mérito, não por participarem de um partido político.

Vai ser um choque também quando a TV iraquiana voltar e os jornais reaparecerem sem ter que mostrar o rosto do presidente o tempo todo.

Revolução cultural

O Iraque precisa de mais do que derrubar estátuas. Uma revolução cultural em todos os sentidos será necessária.

Uma das áreas onde vai ser necessário um esforço redobrado para erradicar o legado de Saddam é a educação.

Os livros das escolas terão que ser reescritos e o currículo dos cursos de História e de Geografia terá que ser revisado.

Também terá que mudar o treinamento de professores, que sempre foi ligado ao sistema de segurança nacional.

A oposição no Iraque já pediu que seja criada uma comissão especial para lidar com esses assuntos.

Sanções

Um outro problema ligado à educação é o fato de que uma geração inteira de crianças iraquianas teve pouca ou nenhuma educação por causa das sanções impostas pela ONU desde a Guerra do Golfo (1991).

Escolas, universidades, serviços de saúde, transportes e comunicações sofreram com falta de dinheiro por causa das sanções e estão hoje negligenciados e decadentes.

O programa da ONU (Organização das Nações Unidas) de troca de petróleo por comida permitiu pelo menos que o país exportasse uma quantidade regular de petróleo para financiar a importação de comida e remédios.

Com o passar dos anos, mais e mais iraquianos ficaram dependentes das rações de comida da ONU para sobreviver.

Fornecer comida para milhões de iraquianos empobrecidos pelos efeitos das sanções vai ser mais um desafio importante.

Durante os anos em que as sanções tiveram efeito, o dinheiro que foi para as mãos de Saddam foi gasto nas instituições que ele utilizava para continuar no poder brigadas de elite do Exército e serviços de espionagem, além dos palácios luxuosos e de outras extravagâncias.

Qualquer sinal de que um novo governo em Bagdá seja corrupto e nepotista vai reduzir a confiança do povo em um futuro democrático, em que o poder não é imposto de cima para baixo.

Petróleo

O dinheiro de Saddam veio do petróleo. Mesmo assim, vários dos administradores do setor petrolífero e do Banco Central do Iraque não tinham idéia de quanto dinheiro entrou no Iraque ou de como esse dinheiro foi gasto.

Além dos bilhões de dólares necessários para consertar e atualizar o equipamento usado para extrair e refinar petróleo, um outro grande desafio deve ser criar uma nova estrutura no setor que permita transparência em todos os níveis.

Um lado positivo é o fato de que a indústria petrolífera do Iraque foi operada por profissionais dedicados que tinham pouca relação com o Partido Baath.

"Cada departamento no setor de petróleo era chefiado por alguém indicado pelo partido ou pelos serviços de espionagem. Esses terão que ser demitidos", disse um especialista em petróleo iraquiano.

"Mas, entre os profissionais, existem apenas uns poucos que tinham relações diretas com o partido."

Hoje, o Partido Baath pode ter desaparecido, mas a sua influência não vai poder ser esquecida por muito tempo.

Nem o legado pesado de Saddam. Tirar seus retratos de todas as esquinas é apenas o primeiro passo de um longo caminho.

Com agências internacionais

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