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12/05/2003
-
08h56
da BBC, em Los Angeles
Se você é fã absoluto de Matrix, leva a sério toda a proposta "filosófica" conjurada pelos irmãos Wachowski e esperava ansiosamente, há quatro anos, pela continuação da saga de Neo, Trinity e Morpheus, nem se importe em ler os próximos parágrafos.
Com certeza você estará na fila para pegar a primeira sessão de Matrix Reloaded e adorará cada segundo do novo filme, além de consumir vorazmente todos os infinitos novos subprodutos da série você é o alvo primordial de todos os esforços da Warner Brothers e do produtor Joel Silver, e não há de ser minha opinião que irá mudar as coisas.
Mas se você não se enquadra nesse perfil, não perca seu tempo.
Tirando algumas seqüências genuinamente espetaculares, graças a novíssimos, trabalhosos e engenhosos efeitos especiais, Matrix Reloaded é um dos filmes mais chatos, pretensiosos e confusos dos últimos tempos. E olha que os últimos tempos estiveram lotados de títulos generosos em todas as três categorias.
Inquebrável
Duas coisas, basicamente, aconteceram com o conceito e com o time criador de Matrix: primeiro, todos estão se levando absolutamente a sério; segundo, o padrão Joel Silver de produção tomou precedência sobre o bem articulado picadinho de influências alheias que é o cinema dos Wachowskis.
O resultado é o que se vê na tela uma sucessão inquebrável de cenas nesta seqüência, com mínimas variantes:
- discurso pseudofilosófico, desfechado em tons monocórdios, em geral como solilóquio (o recorde pertence a Lambert Wilson, no papel de um francófono chamado Merovingian: 12 minutos ininterruptos). Imagina-se que a proposta seja embasar a "seriedade" do filme, mas o conteúdo é idêntico a uma dissertação escrita por um aluno do segundo grau que acabou de descobrir Schopenhauer, Nietzche e Sartre.
O discurso é invariavelmente seguido por uma das duas seguintes opções:
- longa seqüência de luta "à oriental", envolvendo armas, trabalho aéreo em fios e uma pletora de efeitos visuais;
ou uma igualmente longa seqüência de tiroteio/perseguição, também envolvendo uma pletora de efeitos visuais e culminando, inexoravelmente, com uma explosão.
Tudo isso é longo, auto-indulgente e barulhento demais (não-fãs, tragam protetores de ouvido para o cinema) e, por mais boa vontade que se tenha, não faz sentido.
Se você realmente quer saber, a história tem alguma coisa a ver com um ataque das máquinas a Zion, a última cidade de seres humanos, e as dúvidas existenciais de Neo (Keanu Reeves) a respeito de sua missão messiânica.
A sensação de absoluto desnorteamento é agravada pelo fato de que muitas cenas do filme são, na realidade, meras continuações de enredos desenvolvidos no videogame Enter The Matrix e nos curtas Animatrix. Um excelente golpe de marketing, com certeza.
Gibi com efeitos
Os irmãos Larry e Andry Wachowski, com todo o bem administrado mito que criaram à sua volta, não são gênios, mas também não são bobos.
Matrix foi o enorme sucesso que foi graças à sua bem temperada mistura de estética gibi (os dois são ex-roteiristas de quadrinhos), cinema kung-fu e vastas doses da (essa sim, genial e original) visão distópica do futuro de escritores da geração cyberpunk, especialmente William Gibson, de quem os irmãos "pediram emprestado" todo o conceito da matrix.
Em Matrix Reloaded e, presume-se, em Matrix Revolutions, o filme que encerra a saga, e que tem lançamento previsto para novembro esse guisado está claramente submisso a uma outra estética: o barulhento um-elemento-de-ação-a-cada-10-minutos dogma de Joel Silver, o produtor responsável pelo cânon do cinema de violência como entretenimento dos anos 80 e 90.
Neo lutando contra cem réplicas do agente Smith (Hugo Weaving) ou Trinity (Carrie-Ann Moss) caindo em câmera lenta, de costas, ao travar um duelo com um agente, são, sem dúvida, momentos de pura alegria cinematográfica. E quase valem o preço do ingresso.
O bom cinema pop é uma das coisas que Hollywood ainda sabe fazer melhor. Mas, nesta temporada, pelo menos até agora, o exemplo que vale a pena é X-Men 2, de Bryan Singer, e não essa indigesta salada de lo-mein com gasolina.
Apesar dos efeitos, "Matrix Reloaded" é chato
ANA MARIA BAHIANAda BBC, em Los Angeles
Se você é fã absoluto de Matrix, leva a sério toda a proposta "filosófica" conjurada pelos irmãos Wachowski e esperava ansiosamente, há quatro anos, pela continuação da saga de Neo, Trinity e Morpheus, nem se importe em ler os próximos parágrafos.
Com certeza você estará na fila para pegar a primeira sessão de Matrix Reloaded e adorará cada segundo do novo filme, além de consumir vorazmente todos os infinitos novos subprodutos da série você é o alvo primordial de todos os esforços da Warner Brothers e do produtor Joel Silver, e não há de ser minha opinião que irá mudar as coisas.
Mas se você não se enquadra nesse perfil, não perca seu tempo.
Tirando algumas seqüências genuinamente espetaculares, graças a novíssimos, trabalhosos e engenhosos efeitos especiais, Matrix Reloaded é um dos filmes mais chatos, pretensiosos e confusos dos últimos tempos. E olha que os últimos tempos estiveram lotados de títulos generosos em todas as três categorias.
Inquebrável
Duas coisas, basicamente, aconteceram com o conceito e com o time criador de Matrix: primeiro, todos estão se levando absolutamente a sério; segundo, o padrão Joel Silver de produção tomou precedência sobre o bem articulado picadinho de influências alheias que é o cinema dos Wachowskis.
O resultado é o que se vê na tela uma sucessão inquebrável de cenas nesta seqüência, com mínimas variantes:
- discurso pseudofilosófico, desfechado em tons monocórdios, em geral como solilóquio (o recorde pertence a Lambert Wilson, no papel de um francófono chamado Merovingian: 12 minutos ininterruptos). Imagina-se que a proposta seja embasar a "seriedade" do filme, mas o conteúdo é idêntico a uma dissertação escrita por um aluno do segundo grau que acabou de descobrir Schopenhauer, Nietzche e Sartre.
O discurso é invariavelmente seguido por uma das duas seguintes opções:
- longa seqüência de luta "à oriental", envolvendo armas, trabalho aéreo em fios e uma pletora de efeitos visuais;
ou uma igualmente longa seqüência de tiroteio/perseguição, também envolvendo uma pletora de efeitos visuais e culminando, inexoravelmente, com uma explosão.
Tudo isso é longo, auto-indulgente e barulhento demais (não-fãs, tragam protetores de ouvido para o cinema) e, por mais boa vontade que se tenha, não faz sentido.
Se você realmente quer saber, a história tem alguma coisa a ver com um ataque das máquinas a Zion, a última cidade de seres humanos, e as dúvidas existenciais de Neo (Keanu Reeves) a respeito de sua missão messiânica.
A sensação de absoluto desnorteamento é agravada pelo fato de que muitas cenas do filme são, na realidade, meras continuações de enredos desenvolvidos no videogame Enter The Matrix e nos curtas Animatrix. Um excelente golpe de marketing, com certeza.
Gibi com efeitos
Os irmãos Larry e Andry Wachowski, com todo o bem administrado mito que criaram à sua volta, não são gênios, mas também não são bobos.
Matrix foi o enorme sucesso que foi graças à sua bem temperada mistura de estética gibi (os dois são ex-roteiristas de quadrinhos), cinema kung-fu e vastas doses da (essa sim, genial e original) visão distópica do futuro de escritores da geração cyberpunk, especialmente William Gibson, de quem os irmãos "pediram emprestado" todo o conceito da matrix.
Em Matrix Reloaded e, presume-se, em Matrix Revolutions, o filme que encerra a saga, e que tem lançamento previsto para novembro esse guisado está claramente submisso a uma outra estética: o barulhento um-elemento-de-ação-a-cada-10-minutos dogma de Joel Silver, o produtor responsável pelo cânon do cinema de violência como entretenimento dos anos 80 e 90.
Neo lutando contra cem réplicas do agente Smith (Hugo Weaving) ou Trinity (Carrie-Ann Moss) caindo em câmera lenta, de costas, ao travar um duelo com um agente, são, sem dúvida, momentos de pura alegria cinematográfica. E quase valem o preço do ingresso.
O bom cinema pop é uma das coisas que Hollywood ainda sabe fazer melhor. Mas, nesta temporada, pelo menos até agora, o exemplo que vale a pena é X-Men 2, de Bryan Singer, e não essa indigesta salada de lo-mein com gasolina.
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