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27/05/2003
-
07h14
da BBC, em Bogotá
O governo colombiano está investindo em uma estratégia que pretende barrar o crescimento da guerrilha e atingir um número recorde de combatentes desertores.
A nova iniciativa, que modifica um programa já existente para reintegrar à sociedade quem quiser abandonar a luta armada, conta com um orçamento de US$ 14 milhões e muita propaganda.
De acordo com números apresentados pelo Ministério da Defesa, os resultados são animadores para o governo. Nos primeiros cinco meses deste ano, 570 guerrilheiros e paramilitares aderiram ao programa para desmobilizados --um crescimento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
No entanto, o analista político León Valência acredita que a nova estratégia não pode ser considerada um golpe contundente contra a guerrilha. Ele afirma que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), por exemplo, têm formas eficazes de seguir recrutando novos integrantes.
Chega de guerra
Ana Derly, 23, era militante das Farc, mas cansou do terror do conflito, que matou cerca de 40 mil pessoas só na última década.
Ela foi seduzida pela publicidade do governo, divulgada em emissoras de rádio e televisão, com depoimentos fortes de ex-guerrilheiros arrependidos.
"Fiquei emocionada com o que ouvi e decidi desertar", afirmou a jovem, que esteve pouco mais de um ano nas Farc e há 20 dias mora com uma centena de ex-guerrilheiros em um dos albergues para desertores abertos pelo governo em Bogotá.
"Agora, espero que as promessas sejam cumpridas, porque quero voltar a ter uma vida normal", declarou.
No albergue, Ana tem direito a alimentação e assistência médica. Se a Justiça concluir que ela não cometeu nenhum crime hediondo em seus tempos de guerrilha, poderá receber perdão pelos delitos e participar de cursos de capacitação profissional.
Na última fase do programa, com duração máxima de 18 meses, Ana receberá uma ajuda financeira equivalente a entre R$ 8.350 e R$ 12 mil.
A ex-guerrilheira não sabe, no entanto, que para receber todos esses benefícios também precisará colaborar com o governo, fornecendo informações sobre as Farc.
Absurdo
"Essa nova orientação do programa é absurda", diz Edgar Ruiz, que pertenceu a um grupo de 700 guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) reintegrado à sociedade em 1994, depois de um processo de negociação de paz com o governo.
"A política de agora não poderá ser efetiva. Oferecer incentivos aos desmobilizados, para que eles se tornem informantes, é seguir na lógica da guerra."
Ruiz também critica o governo por pagar recompensas para quem delata e dar bônus por armas entregadas.
"O governo renunciou à negociação política como mecanismo fundamental da reinserção", afirma. "Agora, prefere um time de delatores, em vez de propor a reconciliação nacional."
Informação
No mesmo albergue onde está Ana, localizado numa das ruas mais movimentadas da capital colombiana, Simón Letrado conta que desertou em 1999, mas não foi encaminhado ao programa de desmobilizados.
"Fui acusado de assassinato e condenado a 60 anos de prisão", diz o ex-guerrilheiro, que esteve nas Farc durante oito anos.
"Depois de cumprir três anos de prisão, fui convidado a ser informante do governo. Decidi colaborar, conquistei minha liberdade e estou feliz."
Segundo Letrado, por conta de suas informações aos governos da Colômbia e dos Estados Unidos, foram descobertos laboratórios de produção de cocaína, acampamentos guerrilheiros, pistas de vôo clandestinas e rotas do narcotráfico.
Integrado ao programa de desmobilizados, o ex-guerrilheiro deve permanecer no albergue por mais um ano até que seja reintegrado definitivamente à sociedade.
Faculdade
Juan Carlos Hernández, 22, também decidiu ouvir o recado do governo e deixou os companheiros de Farc para atrás depois de oito meses de convívio.
"Estou aqui porque quero ganhar o perdão da Justiça e fazer uma faculdade de graça", diz.
Segundo Hernández, o albergue não é um lugar tranquilo para os desertores. Ele desconfia que muitos dos que estão lá foram enviados pela própria guerrilha, para obter informações sobre o programa do governo.
O ex-guerrilheiro teme que muitos dos que se encontram no local possam ter um destino semelhante ao de Simón Letrado.
Vagando
Outros como Alejandro Martínez dizem que o governo não está cumprindo com as promessas.
De acordo com ele, nenhum dos desertores que se encontram no albergue fez cursos de capacitação profissional ou recebeu a ajuda financeira.
"Algumas pessoas estão aqui há dois anos e continuam na mesma situação: apenas dormindo, comendo e vagando", diz o ex-integrante do ELN.
"Se as pessoas se dessem conta de como funciona o programa, não abandonariam a guerrilha."
Especial
Leia mais sobre o conflito na Colômbia
Colômbia investe em campanha pela deserção de guerrilheiros
VALQUÍRIA REYda BBC, em Bogotá
O governo colombiano está investindo em uma estratégia que pretende barrar o crescimento da guerrilha e atingir um número recorde de combatentes desertores.
A nova iniciativa, que modifica um programa já existente para reintegrar à sociedade quem quiser abandonar a luta armada, conta com um orçamento de US$ 14 milhões e muita propaganda.
De acordo com números apresentados pelo Ministério da Defesa, os resultados são animadores para o governo. Nos primeiros cinco meses deste ano, 570 guerrilheiros e paramilitares aderiram ao programa para desmobilizados --um crescimento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.
No entanto, o analista político León Valência acredita que a nova estratégia não pode ser considerada um golpe contundente contra a guerrilha. Ele afirma que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), por exemplo, têm formas eficazes de seguir recrutando novos integrantes.
Chega de guerra
Ana Derly, 23, era militante das Farc, mas cansou do terror do conflito, que matou cerca de 40 mil pessoas só na última década.
Ela foi seduzida pela publicidade do governo, divulgada em emissoras de rádio e televisão, com depoimentos fortes de ex-guerrilheiros arrependidos.
"Fiquei emocionada com o que ouvi e decidi desertar", afirmou a jovem, que esteve pouco mais de um ano nas Farc e há 20 dias mora com uma centena de ex-guerrilheiros em um dos albergues para desertores abertos pelo governo em Bogotá.
"Agora, espero que as promessas sejam cumpridas, porque quero voltar a ter uma vida normal", declarou.
No albergue, Ana tem direito a alimentação e assistência médica. Se a Justiça concluir que ela não cometeu nenhum crime hediondo em seus tempos de guerrilha, poderá receber perdão pelos delitos e participar de cursos de capacitação profissional.
Na última fase do programa, com duração máxima de 18 meses, Ana receberá uma ajuda financeira equivalente a entre R$ 8.350 e R$ 12 mil.
A ex-guerrilheira não sabe, no entanto, que para receber todos esses benefícios também precisará colaborar com o governo, fornecendo informações sobre as Farc.
Absurdo
"Essa nova orientação do programa é absurda", diz Edgar Ruiz, que pertenceu a um grupo de 700 guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) reintegrado à sociedade em 1994, depois de um processo de negociação de paz com o governo.
"A política de agora não poderá ser efetiva. Oferecer incentivos aos desmobilizados, para que eles se tornem informantes, é seguir na lógica da guerra."
Ruiz também critica o governo por pagar recompensas para quem delata e dar bônus por armas entregadas.
"O governo renunciou à negociação política como mecanismo fundamental da reinserção", afirma. "Agora, prefere um time de delatores, em vez de propor a reconciliação nacional."
Informação
No mesmo albergue onde está Ana, localizado numa das ruas mais movimentadas da capital colombiana, Simón Letrado conta que desertou em 1999, mas não foi encaminhado ao programa de desmobilizados.
"Fui acusado de assassinato e condenado a 60 anos de prisão", diz o ex-guerrilheiro, que esteve nas Farc durante oito anos.
"Depois de cumprir três anos de prisão, fui convidado a ser informante do governo. Decidi colaborar, conquistei minha liberdade e estou feliz."
Segundo Letrado, por conta de suas informações aos governos da Colômbia e dos Estados Unidos, foram descobertos laboratórios de produção de cocaína, acampamentos guerrilheiros, pistas de vôo clandestinas e rotas do narcotráfico.
Integrado ao programa de desmobilizados, o ex-guerrilheiro deve permanecer no albergue por mais um ano até que seja reintegrado definitivamente à sociedade.
Faculdade
Juan Carlos Hernández, 22, também decidiu ouvir o recado do governo e deixou os companheiros de Farc para atrás depois de oito meses de convívio.
"Estou aqui porque quero ganhar o perdão da Justiça e fazer uma faculdade de graça", diz.
Segundo Hernández, o albergue não é um lugar tranquilo para os desertores. Ele desconfia que muitos dos que estão lá foram enviados pela própria guerrilha, para obter informações sobre o programa do governo.
O ex-guerrilheiro teme que muitos dos que se encontram no local possam ter um destino semelhante ao de Simón Letrado.
Vagando
Outros como Alejandro Martínez dizem que o governo não está cumprindo com as promessas.
De acordo com ele, nenhum dos desertores que se encontram no albergue fez cursos de capacitação profissional ou recebeu a ajuda financeira.
"Algumas pessoas estão aqui há dois anos e continuam na mesma situação: apenas dormindo, comendo e vagando", diz o ex-integrante do ELN.
"Se as pessoas se dessem conta de como funciona o programa, não abandonariam a guerrilha."
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