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23/07/2003 - 14h20

Apesar de lei, número de crimes com armas dobrou no Reino Unido

ERIC BREUCHER CAMARA
da BBC, em Londres

O número de crimes com armas de fogo na Inglaterra e no País de Gales praticamente dobrou desde que o governo britânico proibiu a posse e a venda de armas de fogo acima do calibre 22, em 1997.

De acordo com as mais recentes estatísticas do Ministério do Interior britânico, de 2001 a 2002, foram registrados 9.974 crimes com armas de fogo --de 1997 a 1998, foram 4.903 ocorrências.

Caroline Flint, subsecretária britânica para o combate às drogas e ao crime organizado, ainda vê um lado positivo nas estatísticas, apesar do aumento de 35% nos crimes a mão armada, pelo quarto ano consecutivo, em relação ao ano anterior.

"O índice de crimes com armas em relação a outros tipos de crime no país ainda é muito muito baixo em comparação com outros países. Apenas 0,4% dos crimes é com armas", afirma Flint.

"Irrelevante"

Por outro lado, Colin Greenwood, um ex-policial autor do livro "Guns and Violence - the British Experience" (em tradução livre: "Armas e Violência - A Experiência Britânica"), diz que a proibição é irrelevante.

"Isso é tão ineficiente que o crime hoje atingiu o nível mais alto jamais atingido desde que se começou a registrá-lo. O crime com armas de mão explodiu desde que elas foram proibidas", afirma Greenwood.

Para ele, o Brasil vai perder tempo se aprovar leis mais rígidas sobre armas.

"Isso não vai funcionar, as únicas pessoas afetadas serão as que obedecem a lei. Se um país quer combater a violência, precisa apenas de três coisas: uma polícia eficiente e honesta, um judiciário eficiente e honesto e políticos honestos. Será que esses três fatores estão presentes no Brasil?", questiona o ex-policial.

Para o professor Peter Squires, da Universidade de Brighton, a escalada dos crimes a mão armada no Reino Unido não pode ser examinada apenas sob o prisma da proibição.

"É uma explicação muito simplista dizer que, se desde a proibição das armas em 1920 até hoje o crime aumentou, então a proibição das armas não funciona. Há que se levar em conta outros fatores como a escala das mudanças sociais, conflitos étnicos e raciais, a cultura de gangues, a mercantilização das relações sociais e todos os tipos de crime cresceram", diz Squires, autor do livro "Gun Culture or Gun Control?" (em tradução livre:" Cultura Armamentista ou Controle de Armas?").

Estratégia

O governo britânico afirma estar atuando em três frentes: o cumprimento das leis existentes, o reforço da legislação --que ainda deve ficar mais rigorosa, incluindo restrições do uso de armas de ar comprimido e de armas de brinquedo-- e em trabalhos comunitários para evitar que jovens entrem para o tráfico de drogas e gangues violentas.

"Percebemos que grande parte dessa violência [com armas] tem relação com gangues e com drogas. Estamos trabalhando junto com as comunidades para tentar evitar que os jovens se deixem levar para esse caminho", explica Caroline Flint, subsecretária do Ministério do Interior.

Operações com o objetivo de combater gangues armadas como a Operação Tridente --realizada pela polícia metropolitana de Londres-- descobriu indícios de que mais de 70% das armas usadas por criminosos na cidade são réplicas ou armas de brinquedo adaptadas para dar tiros de verdade.

Operações policiais em outras cidades britânicas, como Manchester e Birmingham também produziram números semelhantes.

Assaltos

O levantamento do governo britânico indica que mais da metade (53%) dos crimes a mão armada são assaltos a pessoas --situações em que dificilmente a vítima saberá identificar se a arma que está sendo apontada na sua direção é real ou não.

Agressões contabilizam 35% dos crimes e roubos de casas, 5%. Outros 4% dizem respeito a vandalismo.

Em comparação com as estatísticas do ano anterior, os maiores aumentos foram registrados em agressões (37%), assaltos (34%), assaltos a casas (34%) e vandalismo (54%).

Para Greenwood, levantamentos como esse são provas da situação delicada em que os britânicos vivem.

"A proibição de armas afeta os cidadãos de bem, que são impedidos de se proteger dos criminosos", diz o ex-policial.

No entanto, a subsecretária Caroline Flint descarta qualquer possibilidade de o governo afrouxar as leis sobre armas de fogo no Reino Unido.

"O fato de o Reino Unido ter uma das menores taxas de homicídio com armas de fogo do mundo é algo do qual nos orgulhamos e queremos manter. Queremos ser o país que tem o menor número de mortes, assassinatos e ferimentos causados por armas em todo o mundo", afirma a subsecretária.

O novo projeto de lei regulamentando o uso de armas de fogo no Brasil será votado no Senado hoje e, nos dias seguintes, na Câmara dos Deputados.

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