Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
29/08/2003 - 15h55

Análise: Quando Blair fala, o que se ouve é puro Campbell

MARK DAVIES
da BBC, em Londres

O inquérito sobre a morte do cientista David Kelly mostrou o papel central que Alastair Campbell, diretor de comunicações do primeiro-ministro, Tony Blair, tem no coração do governo britânico.

Campbell presidiu reuniões de preparação do polêmico dossiê sobre armas de destruição em massa e participou do debate sobre como o nome do cientista deveria aparecer na mídia como fonte de uma reportagem da BBC sobre o assunto.

Qualquer que seja o resultado do inquérito, os historiadores devem julgar Campbell como o maior representante de Blair, tão significativo (ou até mais) do que Bernard Ingham foi para Margaret Thatcher, a "dama-de-ferro" que governou o Reino Unido entre 1979 e 1990.

Na verdade, as palavras de Ingham eram consideradas pelos jornalistas especializados como um "eco autêntico" da sua chefe. No entanto, alguns sugerem que, no caso de Campell, o que acontece é o contrário: quando o primeiro-ministro fala, o que se ouve é puro Campbell.

Vice-premiê

Por mais próximo que Ingham fosse de Thatcher, ele nunca foi considerado "o verdadeiro vice-primeiro-ministro".

A indicação de Campbell foi diferente da de todos que o antecederam: uma indicação política a um posto de servidor público, com as regras do funcionalismo público sendo mudadas para permitir que ele expressasse opiniões políticas.

Essa mudança levou opositores a dizer que os contribuintes britânicos estavam pagando o salário de um "propagandista político".

Campbell também mudou a forma com que o mundo vê os chefes de comunicação de Downing Street (sede do governo britânico), tornando-se uma figura pública por mérito próprio.

Ele se mudou para Downing Street ao lado de Tony Blair, em 1997, depois de ter trabalhado para o Partido Trabalhista ocupando o mesmo cargo, só que na oposição.

Depois da última eleição, ele deixou o cargo de porta-voz oficial do primeiro-ministro para assumir um papel maior nos bastidores.

Sua força dentro do governo não diminuiu em nada. O que aconteceu foi o contrário, como se viu com a ampliação da controvérsia em torno do dossiê.

Origem

Campbell é um ex-jornalista especializado em política e um fiel simpatizante dos trabalhistas, currículo que não difere muito do de outros chefes de imprensa do governo.

Francis Williams, por exemplo, tinha trabalhado no jornal "Daily Herald" antes de se tornar funcionário público e depois secretário de imprensa de Clement Attlee (que governou o Reino Unido entre 1945 e 1951).

Trevor Lloyd-Hughes, chefe de comunicações de Harold Wilson (premiê entre 1964 e 1970), deixou seu cargo no "Daily Post", de Liverpool. Depois dele, veio Joe Haines, jornalista experiente e com credenciais trabalhistas.

Bernard Ingham também tinha trabalhado como jornalista antes de seguir para o serviço público, onde inicialmente trabalhou para Tony Benn, quando ele era ministro do governo trabalhista de Harold Wilson.

Outros secretários de imprensa, no entanto, como os que serviram John Major (1990-97) --Gus O'Donnell, Christopher Meyer e Johnathan Haslam--, eram funcionários públicos de carreira.

Todos eram considerados próximos de Major. O'Donnell especificamente era considerado como tendo um caráter que refletia o de seu chefe. Ele tem o mérito de parte da imagem de "bom moço" de Major.

Meyer sempre foi considerado mais bonachão, desvairando em suas discussões. Depois de deixar o cargo, ele se tornou embaixador nos Estados Unidos e agora chefia a Comissão de Reclamações da Imprensa.

Fama

Talvez o mais famoso secretário de imprensa, antes da chegada de Campbell, tenha sido Bernard Ingham.

A sua relação com jornalistas era às vezes tempestuosa, e havia dúvidas às vezes se suas declarações à imprensa misturavam governo e política, mas a imprensa tinha consideração por ele.

Mais importante, a primeira-ministra afirmava que ele tinha grande valor.

De fato, a maioria dos secretários de imprensa parece ter tido uma boa relação com seus primeiros-ministros.

Campbell era mais próximo de seu chefe do que todos os outros ocupantes do cargo antes dele. A sua perda deverá ser sentida pelo primeiro-ministro.

Leia mais
  • Entenda a polêmica entre BBC e governo Blair

    Especial
  • Leia mais notícias sobre o Reino Unido
  • Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página