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11/09/2003 - 09h29

Trinta anos depois, Chile revisa golpe contra Allende

MARCIA CARMO
da BBC, em Buenos Aires

Trinta anos após o golpe que levou à morte de Salvador Allende, no dia 11 de setembro de 1973, o Chile mostra, pela primeira vez, imagens até então censuradas daquele período e entrevistas na TV com os principais protagonistas da ditadura.

A revisão do passado envolve ainda o desabafo da filha de Allende, a atual presidente da Câmara dos Deputados, deputada Isabel Allende, reconhecendo que sempre pensou que o pai, chamado de "Chicho", tinha sido assassinado --e não que havia se matado, como de fato ocorreu, enquanto Augusto Pinochet liderava o ataque ao palácio presidencial de La Moneda.

"Talvez fosse uma negação para sofrer menos. Ou talvez a falta de informação, o mistério e a dor em relação àquele dia que mudou nossas vidas e nossa história", declarou à imprensa chilena.

Outra novidade do processo de revisão do passado foi o mea culpa dos chefes militares, realizado há dois meses, admitindo as atrocidades dos 17 anos de ditadura do general (agora doente e aposentado) Augusto Pinochet.

Divisão

Para marcar a data em se completam 30 anos do golpe, estão previstas manifestações em homenagem a Allende, em vários pontos do Chile. Temendo-se atos de violência, o policiamento foi reforçado em todo o País.

O cientista político Francisco Rojas, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), observa que o fim da censura e da "autocensura" em relação às imagens do golpe e do governo Allende contribuem para fortalecer a democracia.

"Essas imagens servem para dar o lugar histórico que Allende, um líder democrático, merece. E com elas também podemos revisar seus graves erros e as dificuldades que o país enfrentou naquele momento", afirmou, referindo-se ao descontrole da economia, nos últimos meses do seu governo.

Ouvidos pela BBC Brasil, Rojas e a advogada de direitos humanos Júlia Urquieta têm opiniões diferentes sobre o momento que o Chile vive hoje.

Para ele, o país continua dividido em relação a seu passado, com os que apóiam e os que reprovam o regime Pinochet. Apesar disso, Rojas acredita que o Chile deu, nos últimos 30 anos, passos importantes para fortalecer sua democracia, apesar de ainda precisar se livrar das chamadas "amarras" deixadas por Pinochet na constituiçao nacional.

Para Júlia Urquieta, o Chile continuará sendo um país dividido enquanto todos os responsáveis pela ditadura não forem levados aos bancos dos réus.

Nos últimos 20 dias, três filhos das vítimas da ditadura realizam greve de fome em protesto contra um pacote de direitos humanos recentemente lançado pelo presidente Ricardo Lagos - definido por um setor do governo como um instrumento para a "reconciliaçao" nacional, mas criticado pelos familiares das vítimas.

Hoje, como reconhece o próprio presidente Lagos, o principal desafio é eliminar o legado deixado por Pinochet, que alterou a Constituição deixou representantes no Congresso, cadeiras para senadores vitalícios - como ele - e até o controle da Suprema Corte de Justiça.

Uma herança que já está sendo discutida pelo atual governo e que não podia ser imaginada por Salvador Allende.

Um político que acelerou a reforma agrária, a participaçao dos trabalhadores nas empresas e a estatizaçao de bancos privados, mas que enfrentou problemas políticos e econômicos como a escassez de produtos e terminou matando-se com um fuzil, que foi presenteado por Fidel Castro.

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