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03/10/2003 - 16h16

Para analistas, eleições não mudam situação da Tchetchênia

DENISE TELLES
da BBC, em Londres

Os tchetchenos vão às urnas neste domingo (5) para escolher seu novo presidente, mas, segundo especialistas, a população sente que nada realmente vai mudar no país.

De acordo com esses especialistas, a Rússia vai continuar dominando a Tchetchênia.

A Rússia ocupou a Tchetchênia em 1994 e voltou em 1999, para reprimir o movimento separatista do país.

O favorito para este domingo é Akhmad Kadyrov, que era uma espécie de governador da Tchetchênia e se afastou do cargo para poder concorrer.

Ele é o candidato preferido da Rússia e deve ter pouco mais de 60% dos votos.

Outros concorrentes de peso desistiram da disputa, por motivos variados: desde acusações de fraude até candidatura a outros cargos.

Fraude

O líder rebelde tchetcheno, Aslan Maskhadov, classificou as eleições de ilegítimas. Ele disse que vai continuar lutando para que as tropas russas deixem o país.

Muitos observadores estão preocupados com a ocorrência de fraude, mas para o analista Anatoli Sosnovski, que está em Moscou, essa possibilidade não existe.

"Não pode haver fraude quando não há eleições. Existe de fato um só candidato forte. Não existe competição. Então não vejo razão para que haja fraude", disse.

Para ele, as eleições são apenas uma formalidade e não refletem o que realmente se passa na Tchetchênia atualmente. Sosnovski afirma que nada vai mudar.

"O governo federal precisa muito de uma espécie de superfície democrática no processo político na Tchetchênia. E precisa garantir que na Presidência esteja uma figura que considere mais ou menos aceitável", afirmou.

Para aumentar o clima de tensão, o prefeito de Shali, no sul da Tchetchênia, foi assassinado ontem e, no domingo (28), o primeiro-ministro foi levado para o hospital sob suspeita de envenenamento, embora nada tenha sido provado até agora.

Medo e desespero

A diretora da organização de direitos humanos Humans Right Watch em Moscou, Anna Niystad, também diz que as eleições são apenas uma formalidade.

"Não vai mudar nada e muitas pessoas que a Human Rights Watch ouviu dizem que ainda vai ficar pior, porque a interferência da Rússia vai aumentar", disse.

Niystad afirma que a população não está entusiasmada com as eleições deste domingo. Ela usa duas palavras para descrever o estado de espírito dos tchetchenos: medo e desespero.

"Muitas pessoas acreditam que não têm opção. Conheço pessoas que estavam esperançosas quando havia outros competidores na disputa, porque Kadyrov é muito impopular na Tchetchênia."

"Mas agora que ele está praticamente sozinho, muitas pessoas ou não querem votar ou acreditam que isso não vai trazer qualquer mudança para suas vidas."

Kadyrov foi líder religioso e um dos comandantes da guerrilha. Esse fato, segundo Sosnovski e Niystad, faz com que a população tenha medo de sofrer represálias caso se abstenha de ir às urnas no domingo.

"O candidato forte para a Presidência da Tchetchênia tem vários recursos para fazer a população comparecer. A administração local, nas aldeias, nas pequenas cidades, foi nomeada por Kadyrov. Então, claro que na pequena cidade ou na aldeia, onde todo mundo conhece os vizinhos, não comparecer seria uma espécie de manifestação contra. Não acho que isso seria muito comum na Tchetchênia", disse Sosnovski.

"Sabemos que a milícia de Kadyrov, que tem alguns milhares de homens, está muito ativa neste período. E acho que pode ser usada durante as eleições', afirmou Niystad, ressalvando que não tem provas para documentar sua afirmação.

Violência

Sosnovski afirma que há o risco de uma explosão de violência. Ele diz que a guerrilha não quer a realização de eleições. Segundo o pesquisador, a república vive uma situação de guerrilha e possivelmente de guerra civil.

As tropas federais que estão na Tchetchênia estão em estado de alerta, assim como a polícia.

Sosnovski disse que o governo federal vai fazer de tudo para não deixar a guerrilha mostrar sua força. E Niystad diz que, mesmo que isso aconteça, a Rússia não vai deixar que a informação seja divulgada.

O pesquisador afirma que Kadyrov faz campanha tentando mostrar que controla a situação, e que apesar de receber apoio financeiro do Kremlin, não é apenas um instrumento nas mãos da Rússia.

Mas Sosnovski faz uma ressalva: a sociedade tchetchena é tribal, não é estruturada segundo padrões europeus e, por isso, não pode ser avaliada pelas normas do jogo democrático ocidental.

Especial
  • Saiba mais sobre o conflito Rússia-Tchetchênia
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