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09/10/2003 - 16h05

Cientista da 'conversão de gays' apóia direitos homossexuais

MARCELO TORRES
da BBC, em Londres

O professor do departamento de Psiquiatria da Universidade Columbia, de Nova York se envolveu numa polêmica nesta semana por causa de uma pesquisa que apontava a possibilidade de "reverter comportamento homossexual" em alguns casos.

Destacou-se na imprensa internacional o fato de ele ter afirmado que alguns gays e lésbicas que passaram por "terapias" bancadas por instituições como igrejas teriam se tornado predominantemente heterossexuais. Apesar disso, quase nenhum participante deixou de ter algum tipo de manifestação homossexual.

No Brasil, psicólogos reagiram à pesquisa. "Se nós estamos trabalhando para o bem-estar das pessoas, a pergunta adequada é: 'Como a pessoa pode ser feliz com a sua opção sexual?' É assim que melhoramos a qualidade de vida das pessoas", defende o presidente do Conselho Federal de Psicologia, Odair Furtado.

O autor da pesquisa disse nesta quinta-feira à BBC Brasil que apóia integralmente os direitos civis dos gays e lamenta que o estudo seja usado de forma inadequada por militantes cristãos contrários à homossexualidade. Ele, entrentanto, diz que ainda existe uma curiosidade científica sobre a possibilidade de mudança de orientação sexual. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - Quando e como o senhor decidiu realizar essa pesquisa?
Robert Spitzer -
Nos últimos 10, 20, 30 anos nós assumimos que todos os esforços para mudar a orientação sexual fracassariam. Ocorreu que eu fui a um encontro onde havia alguns ex-gays. Eu ouvi deles relatos das mudanças e pensei: 'Isso é algo que talvez devesse ser investigado'. Então, planejei um estudo entrevistando pessoas que afirmam ter mudado. Não quis ver a freqüência com que isso acontece, mas ver se isso realmente acontece em algum caso.

BBC Brasil - Críticos dizem que a maioria dos participantes da pesquisa pertence a instituições como igrejas, que condenam a homossexualidade, e que, por isso, as pessoas poderiam responder à pesquisa sob pressão.
Spitzer -
Essa foi a maior crítica ao estudo e eu não estou assumindo que tudo o que eles disseram é verdade. Não há maneira de estar absolutamente certo sobre isso. O que eu posso dizer é que há outros estudos dizendo que os chamados ex-gays só mudaram de 'rótulo', continuando a sentir desejo. O meu estudo diz que não houve mudança apenas no comportamento, mas, para muitos deles, no desejo. Não há como saber por certo se a crença religiosa influencia nas respostas. Mas simplesmente desconsiderar o que eles dizem seria um erro. Infelizmente, não pude fazer um teste objetivo. Há métodos de fazer isso com vídeos e fotografias para estimular os participantes e ver a reação deles. Isso não foi possível por muitas razões. Essa é a limitação do estudo.

BBC Brasil - Para uma pesquisa ambiciosa como essa, não seria melhor conversar com os participantes pessoalmente em vez de fazer perguntas por telefone, como foi o caso?
Spitzer -
Já fiz muitos estudos usando entrevistas por telefone e cara a cara. Não parece haver diferença sistemática. Além disso, fazer as entrevistas pessoalmente não seria possível porque os participantes eram de todo o país (Estados Unidos). Não havia maneira de viajar para todos esses lugares.

BBC Brasil - Na pesquisa, o senhor diz que não houve quase nenhuma "mudança total". O que o senhor quis dizer com isso?
Spitzer -
O que eu quis dizer foi que uma proporção muito pequena de pessoas afirmaram não ter mais nenhum sentimento homossexual. A maioria deles ainda têm algum nível de sentimento homossexual ou fantasia.

BBC Brasil - Então, pode-se dizer que a vasta maioria não deixou de ser homossexual?
Spitzer -
Isso é verdade. A vasta maioria afirma que não mudou completamente para a heterossexualidade. Mas isso seria um objetivo não-realista.

BBC Brasil - Não seria melhor encorajar homossexuais a se aceitarem em vez de tentar mudá-los?
Spitzer -
Isso pode sim ser muito melhor. E eu também estou ciente de que pessoas com posições contrárias às liberdades civis para gays gostam desse tipo de estudo porque eles querem argumentar que a homossexualidade pode ser mudada. Eu pessoalmente apóio os direitos homossexuais na totalidade, mas acho que ainda existe uma pergunta cientificamente interessante se pode haver alguma mudança na orientação. Certamente, minha motivação não era ajudar os grupos que são contra os direitos civis para os gays. Em 1973, eu estava no centro do movimento para retirar a homossexualidade da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde, mas a definição do que é ou não normal é muito mais ampla do que era em 1973.

BBC Brasil - Que tipo de reação o senhor sentiu por causa da sua pesquisa?
Spitzer -
A comunidade gay quase que totalmente recebeu negativamente. Muitos dos meus colegas também. Alguns receberam bem. Grupos militantes cristãos se deleitaram com o estudo. Mas eu digo que, geralmente, dentro da pesquisa de saúde mental, há mais recepção negativa que positiva.
 

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