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16/10/2003
-
14h08
da BBC, em Londres
João Paulo 2º mostrou uma deferência ao Brasil até então inédita por parte de um papa: canonizou a primeira santa brasileira e fez três visitas ao país.
Mas nada disso impediu um declínio considerável no número de católicos no país durante a gestão do atual papa, nem um aumento no índice de evangélicos pentecostais e de agnósticos.
Dados do censo de 1971 mostraram que 91.8% dos brasileiros na época se dizam católicos. No mesmo período, o índice de evangélicos no Brasil era de apenas 5,2%.
No censo seguinte, realizado em 1980 --dois anos depois do início da gestão de João Paulo 2º--, o número de católicos seguia forte, com 89% se identificando como seguidores da religião. A pesquisa já mostrava, no entanto, um avanço do número de evangélicos.
O censo revelou que os evangélicos de missão (como é identificada a tradição protestante histórica, seguida por luteranos e metodistas, entre outros) representavam 3,4%. Os evangélicos pentecostais atendiam por apenas 3,2%.
O censo de 1991 mostrou a primeira queda expressiva no número de católicos: 83,3% se diziam seguidores. Os evangélicos de missão atendiam por 3%, sendo superados pelos pentecostais, que representavam 6%.
No mais recente censo, feito em 2000, o número de católicos já havia caído para 73,8%; os evangélicos de missão representavam 5%, contra 10,6% de pentecostais.
A mesma pesquisa registrou um aumento do índice de pessoas que se identificam como não tendo religão: 7,4%, contra 1,6% de 1981.
Culpa do papa?
A socióloga Silvia Fernandes, do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Socias (Ceris) diz não ser possível condicionar o declínio do catolicismo com o suposto conservadorismo da gestão de João Paulo 2º.
"Não podemos afirmar isso. O que pudemos ver em nossas pesquisas é que há uma rejeição às questões morais defendidas pela Igreja, como sua condenação a métodos anticocepcionais e sua visão sobre o divórcio", afirma.
De acordo com a socióloga, trata-se mais de uma "tendência de época que do que de pontificado. Muitos buscam uma religiosidade mais fluida, sem o necessário vínculo institucional".
Segundo Silvia Fernandes, o avanço do pentecostalismo praticado por instituições como a Igreja Universal do Reino de Deus estaria ligado ao uso que esta faz da mídia e suas técnicas arrojadas de comunicação e de recrutamento de fiéis.
"Pluralização"
De acordo com o professor Antônio Flavio Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), a relação entre o declínio do catolicismo, o aumento do agnosticismo e do pentecostalismo e o papado de João Paulo 2º não é uma "relação mecânica".
"Há um declínio das religiões majoritárias no mundo todo. Seja do hinduísmo na Índia ou do luteranismo nos países luteranos. Há uma tendência mundial à pluaralização e as religiõs majoritárias são as primeiras a sofrer", afirma.
Mas, diz Pierucci, "não há como dissociar esse fenômeno do pontificado de João Paulo 2º". O sociólogo afirma que ao reprimir as facções de esquerda da Igreja, o papa cometeu um erro de estratégia que se voltou contra o próprio catolicismo no Brasil.
"Houve um período em que Dom Paulo Evaristo Arns (cardeal-arcebispo de São Paulo, considerado progressista) vendeu o palácio arquiepiscobal da Arquidiocese de São Paulo para comprar pequenos terrenos na periferia para inserir o catolicismo. Era uma idéia muito parecida com a dos pentecostais, a de criar galpões para pessoas se reunirem em pequenas comunidades", conta o sociólogo.
De acordo com Pierucci, o papa avaliou mal ao achar que criar comunidades de base era necessariamente uma prática de esquerda. "Não era, era uma tentativa de criar um acesso maior às lideranças", acredita o especialista.
No entender do sociólogo, ao reprimir a esquerda na Igreja Católica, João Paulo 2º fez com que figuras carismáticas e de destaque caíssem no ostracismo.
"Não se faz decaptação impunemente. Os bispos católicos sumiram da cena brasileira. Ele pôs liderenças importantes em dioceses inexpressivas. Houve uma desintelectualização do clero brasileiro. Surgiram líderes religiosos, mas que não são figuras de importância na sociedade."
Por conta disso, afirma Pierucci, atualmente o bispo mais famoso do Brasil não é um bispo católico. "É o bispo Macedo (Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus). A visibildade da liderança de uma Igreja Evangélica Pentecostal é maior do que a de lideranças católicas", comenta.
Especial
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Catolicismo retraiu no Brasil durante papado de João Paulo 2º
BRUNO GARCEZda BBC, em Londres
João Paulo 2º mostrou uma deferência ao Brasil até então inédita por parte de um papa: canonizou a primeira santa brasileira e fez três visitas ao país.
Mas nada disso impediu um declínio considerável no número de católicos no país durante a gestão do atual papa, nem um aumento no índice de evangélicos pentecostais e de agnósticos.
Dados do censo de 1971 mostraram que 91.8% dos brasileiros na época se dizam católicos. No mesmo período, o índice de evangélicos no Brasil era de apenas 5,2%.
No censo seguinte, realizado em 1980 --dois anos depois do início da gestão de João Paulo 2º--, o número de católicos seguia forte, com 89% se identificando como seguidores da religião. A pesquisa já mostrava, no entanto, um avanço do número de evangélicos.
O censo revelou que os evangélicos de missão (como é identificada a tradição protestante histórica, seguida por luteranos e metodistas, entre outros) representavam 3,4%. Os evangélicos pentecostais atendiam por apenas 3,2%.
O censo de 1991 mostrou a primeira queda expressiva no número de católicos: 83,3% se diziam seguidores. Os evangélicos de missão atendiam por 3%, sendo superados pelos pentecostais, que representavam 6%.
No mais recente censo, feito em 2000, o número de católicos já havia caído para 73,8%; os evangélicos de missão representavam 5%, contra 10,6% de pentecostais.
A mesma pesquisa registrou um aumento do índice de pessoas que se identificam como não tendo religão: 7,4%, contra 1,6% de 1981.
Culpa do papa?
A socióloga Silvia Fernandes, do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Socias (Ceris) diz não ser possível condicionar o declínio do catolicismo com o suposto conservadorismo da gestão de João Paulo 2º.
"Não podemos afirmar isso. O que pudemos ver em nossas pesquisas é que há uma rejeição às questões morais defendidas pela Igreja, como sua condenação a métodos anticocepcionais e sua visão sobre o divórcio", afirma.
De acordo com a socióloga, trata-se mais de uma "tendência de época que do que de pontificado. Muitos buscam uma religiosidade mais fluida, sem o necessário vínculo institucional".
Segundo Silvia Fernandes, o avanço do pentecostalismo praticado por instituições como a Igreja Universal do Reino de Deus estaria ligado ao uso que esta faz da mídia e suas técnicas arrojadas de comunicação e de recrutamento de fiéis.
"Pluralização"
De acordo com o professor Antônio Flavio Pierucci, do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), a relação entre o declínio do catolicismo, o aumento do agnosticismo e do pentecostalismo e o papado de João Paulo 2º não é uma "relação mecânica".
"Há um declínio das religiões majoritárias no mundo todo. Seja do hinduísmo na Índia ou do luteranismo nos países luteranos. Há uma tendência mundial à pluaralização e as religiõs majoritárias são as primeiras a sofrer", afirma.
Mas, diz Pierucci, "não há como dissociar esse fenômeno do pontificado de João Paulo 2º". O sociólogo afirma que ao reprimir as facções de esquerda da Igreja, o papa cometeu um erro de estratégia que se voltou contra o próprio catolicismo no Brasil.
"Houve um período em que Dom Paulo Evaristo Arns (cardeal-arcebispo de São Paulo, considerado progressista) vendeu o palácio arquiepiscobal da Arquidiocese de São Paulo para comprar pequenos terrenos na periferia para inserir o catolicismo. Era uma idéia muito parecida com a dos pentecostais, a de criar galpões para pessoas se reunirem em pequenas comunidades", conta o sociólogo.
De acordo com Pierucci, o papa avaliou mal ao achar que criar comunidades de base era necessariamente uma prática de esquerda. "Não era, era uma tentativa de criar um acesso maior às lideranças", acredita o especialista.
No entender do sociólogo, ao reprimir a esquerda na Igreja Católica, João Paulo 2º fez com que figuras carismáticas e de destaque caíssem no ostracismo.
"Não se faz decaptação impunemente. Os bispos católicos sumiram da cena brasileira. Ele pôs liderenças importantes em dioceses inexpressivas. Houve uma desintelectualização do clero brasileiro. Surgiram líderes religiosos, mas que não são figuras de importância na sociedade."
Por conta disso, afirma Pierucci, atualmente o bispo mais famoso do Brasil não é um bispo católico. "É o bispo Macedo (Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus). A visibildade da liderança de uma Igreja Evangélica Pentecostal é maior do que a de lideranças católicas", comenta.
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