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07/04/2004 - 12h39

Londres vai ganhar o seu primeiro baile funk

ERIC BRÜCHER CAMARA
da BBC, em Londres

Uma carona inusitada em um anúncio de automóvel levou o funk do subúrbio do Rio de Janeiro para a noite londrina, que deve ganhar, em breve, um baile funk.

Hoje, graças ao sucesso de "Quem que Cagüetou", da dupla niteroiense Speed e Black Alien, produzida pelo gaúcho Tejo, em uma propaganda da fabricante de carros Nissan, o estilo carioca já tem um programa semanal no rádio e uma gravadora britânica planeja fazer lançamentos de funks originais no mercado europeu.

O primeiro baile funk de Londres deve ser inaugurado em maio no West End, o coração de Londres. "Vamos fazer uma noite dedicada ao funk no Guanabara, uma nova casa noturna em Covent Garden", afirma o DJ brasileiro Bruno Verner, da banda Tetine.

Verner, com a parceira Eliete Mejorado, pilota também o programa "Slum Dunk", da rádio Resonance FM, de Londres, que todas as terças-feiras apresenta aos britânicos artistas cariocas como o DJ Marlboro, Tati Quebra-Barraco, MC Claudinho, Bonde do Tigrão e outros expoentes do funk.

Entre os ouvintes, segundo o DJ, a maioria é britânica e, embora não entenda as palavras, consegue captar a mensagem sexual e de energia que o funk carrega.

Single

Se não se pode dizer que a versão brasileira do Miami Bass virou moda na Europa, é certo que os chamados "pancadões" estão ganhando terreno.

O hit "Quem que Cagüetou" já foi lançado no Reino Unido com o título em inglês "Follow me Follow me", na coletânea Brazilian Beats 5, do selo Mr. Bongo.

A gravadora deve lançar a faixa em um single no começo do verão britânico.

"A idéia é levar às lojas a versão original e um remix do DJ Fatboy Slim para ter mais chances de disputar uma vaga entre as 20 mais da parada britânica", conta o britânico David Bongo, dono do selo.

O sucesso do "pancadão" de Speed e Black Alien também inspirou Bongo a lançar uma coletânea de funks cariocas.

"Cidade de Deus"

"Estou com umas 300 músicas, o melhor dos últimos três anos aqui. Quero fazer uma coletânea no estilo '1974 x 2004', misturando o melhor dos bailes funk com remixagens do DJ Marlboro para antigos sucessos do samba-rock da década de 70, no estilo da trilha do [filme] 'Cidade de Deus'", conta Bongo.

Entre os funks que devem entrar no CD estão canções de Deise Tigrona, Chatuba da Mesquita, MC Serginho e Malha Funk.

Afinal, qual é a explicação para os europeus caírem no funk sem entender uma palavra de português?

O DJ Bruno Verner compara o som dos bailes do Rio com artistas de sucesso do electro na Europa, como a canadense Peaches, radicada em Berlim.

Já para David Bongo, a energia dos "pancadões" funk está mais próxima do garage das ruas de Londres.

"A energia dos funks cariocas está muito à frente. Ela é crua, direta, como o garage mais radical, não o estilo champanhe que se ouve nas rádios, mas o de músicos como Dizzee Rascal [uma das revelações britânicas do ano passado]".

Embora tudo indique que o funk esteja conquistando cada vez mais fãs no Velho Mundo, o próprio Bongo admite que ainda falta muito para que ele seja realmente popular.

"Ainda é preciso criar esse segmento. O estilo é desconhecido, e o que muitas vezes atrapalha é a falta de qualidade das gravações. Se surgirem mais faixas com a qualidade de 'Follow Me, Follow Me', fica bem mais fácil", diz o empresário.

Brigas

Ironicamente, dois dos maiores responsáveis por essa popularização do funk fora do Rio nunca foram funkeiros de coração.

Black Alien e Speed vêm da cena hip-hop carioca. Mas, como explica Speed, eles não caíram de pára-quedas nesse estilo.

"A gente não é de apartamento, conhecemos funkeiros, já fomos a muito baile funk. A gente cresceu com o funk, não tem como negar", disse o músico, que atualmente está completando o seu álbum solo.

Os dois amigos de Niterói hoje não podem nem se encontrar. Brigados por motivos pessoais, no entanto, eles não descartam futuras parcerias.

"Desde que seja eu gravando aqui, o Speed lá. Não quero nem ver ele", alfineta Black Alien.

"Nós temos outro Miami [Bass, o estilo que originou o funk carioca] pronto e um ragga [rap no estilo jamaicano]", diz o o rapper, que também está gravando um álbum solo.

"É só lançar, se quiserem."
 

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