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31/08/2004 - 13h06

Crescimento sustentável depende de investimentos, diz Wall Street

ADRIANA STOCK
da BBC Brasil

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país), anunciado nesta terça-feira pelo IBGE, confirma a recuperação econômica do país, mas sua sustentabilidade depende de investimentos em infra-estrutura na opinião de economistas de Wall Street ouvidos pela BBC Brasil.

Paulo Leme, diretor para América Latina do Goldman Sachs, em Nova York, louva os dados positivos sinalizados pela economia brasileira, mas diz que, sem investimentos em infra-estrutura, a expansão pode ser minada.

"Essas deficiências ou gargalos na infra-estrutura, sejam por portos, estradas, transporte, inclusive energia elétrica, podem ser obstáculos ao crescimento ou a sustentabilidade do crescimento acima de 4,5% a 5% num período de 18 meses", afirma.

A opinião é compartilhada por Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe para América Latina do HSBC, em Nova York, que alerta que a falta de investimentos em infra-estrutura e de um aumento na produtividade afetará a capacidade de oferta da economia.

Demanda interna

Nesta terça-feira, o IBGE anunciou que o PIB do Brasil cresceu 4,2% no primeiro semestre de 2004, em relação a igual período do ano passado.

No segundo trimestre de 2004, o crescimento foi de 5,7% na comparação com o mesmo período de 2003.

Os números dão esperança de que o país possa superar crescimento pífios das décadas passadas. Nos anos 80, a taxa média de crescimento do país, segundo o IBGE, foi de 1,57%. Nos anos 90, 2,65%.

O número do IBGE para o semestre superou a previsão de 2,8% a 3% feita por Leme. Esse vigor, segundo ele, não vem apenas do setor externo.

"Esse deixou de ser um processo de recuperação estritamente pelo setor externo, começando a ter sinais muito encorajadores da demanda interna, em particular, o consumo privado como resultado da recuperação do emprego, da massa salarial real e do crédito financeiro ao setor privado", diz.

Esse aumento da demanda interna não é, na sua avaliação, uma bolha de consumo.

"Isso resulta em dois dados positivos: a longevidade da recuperação não vai ser só de seis meses, deve ser de 12 a 18 meses, e não leva a um desequilíbrio de demanda, portanto tem sustentabilidade bastante encorajadora."

Leme prevê um crescimento de 4% para o ano, mas ele diz que não ficaria surpreso se essa cifra fosse revisada para cima.

De acordo com o relatório semanal do Banco Central, a expectativa do mercado é, em média, de um aumento anual de 3,97%.

Cunha é mais otimista e prevê uma alta de 4,8% do PIB neste ano.

Mas ele destaca que o Brasil está crescendo acima do seu PIB potencial, que gira em torno de 2,8% a 3%. Isso significa que o país já está usando grande parte da ociosidade da economia, gerando perigo de maior inflação para frente, já que a oferta não consegue acompanhar a demanda no mercado.

"A preocupação é que pelo o que sabemos do PIB potencial do país indicaria que essa taxa de crescimento está aquém da capacidade de oferta sustentável, embora em termos das demandas sociais e especialmente da geração de emprego um crescimento de 4,8% não é nada mirabolante, pelo contrário, seria melhor crescer até mais do que isso", comenta Cunha.

Lições

A solução para esse impasse em sustentar o crescimento sem ter inflação é o investimento em infra-estrutura, segundo os economistas.

Mas, além dos investimentos, o Brasil também pode aprender algumas lições com outras economias emergentes, como a China e Índia, que registraram altas taxas de crescimento nos últimos anos.

"É difícil generalizar peculiaridades de outros países, como Índia ou China, e extrapolar para o Brasil, porém podemos tirar algumas lições importantes", diz.

O diretor da Goldman Sachs destaca que os países que estão em um processo de liberalização eliminam uma série de ineficiências fazendo com que a economia dê um salto de produtividade e, durante alguns anos, cresçam acima do seu PIB potencial, seria o caso da China e da Índia.

"Essa é a primeira lição para o Brasil: persistir em uma desregulamentação da economia brasileira, abertura comercial, marco regulatório claro e ter uma reforma tributária para reduzir o cunho fiscal, a carga tributária e a ineficiência da estrutura de impostos brasileiros", afirma Leme.

A segunda lição, continua, é que sem abertura comercial o país não pode elevar a taxa de crescimento em formação de capital e essa é a grande lição da China.

Em terceiro lugar, está o maior investimento em capital humano, educação e saúde --outra lição do governo chinês.

"Não é que se gaste pouco em educação e saúde no Brasil, mas se gasta mal e de forma ineficiente. Se aumentarmos a produtividade do trabalho, no futuro, aumentaremos o crescimento econômico, melhorando o perfil da distribuição de renda no país", comenta Leme.
 

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