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Encontro em Annapolis começa cercado de ceticismo
da BBC Brasil
O encontro que visa estabelecer metas comuns para a paz no Oriente Médio começa nesta terça-feira, na cidade americana de Annapolis, cercado de ceticismo.
A descrença na conferência que reúne 50 países, entre eles o Brasil, levou o jornal "Wall Street Journal" a chamar a reunião de "o fiasco de Annapolis".
O diário "New York Times" ironizou o fato de que, faltando poucos dias para a reunião, não se sabia ao certo quem seriam os participantes, ao cravar a manchete "Procura-se: participantes para negociações sobre o Oriente Médio".
Um dos principais problemas que cerca a conferência, segundo analistas, é o de que os principais interessados em que o encontro produza resultados conclusivos estão severamente enfraquecidos, a começar pelo próprio anfitrião do encontro, o presidente americano, George W. Bush.
"A sabedoria popular diz que governos em fim de mandato, como a atual administração americana, ou 'governos cachorro-morto', como costumamos chamar por aqui, têm pouco a oferecer e pouco a fazer", diz Geoffrey Anderson, diretor da Foundation for Middle East Peace. "Mas cabe a presidentes romper com convenções e fazer história".
Menos expectativas
No entanto, poucos esperam manobras ousadas por parte do líder americano. Representantes da Casa Branca têm procurado nos últimos dias reduzir expectativas em torno do encontro e de possíveis avanços diplomáticos que poderão ser obtidos na conferência.
Algumas das principais medidas do líder americano abalaram sua imagem junto a muitos dos países que estarão representados em Annapolis. A guerra do Iraque fez com que Bush sofresse forte desgaste entre os aliados árabes dos Estados Unidos, que avaliam ainda que o líder americano costuma sempre ceder aos interesses israelenses em detrimento às reivindicações palestinas.
Se Bush perdeu força, a situação dos líderes de Israel e dos territórios palestinos pode ser ainda pior. "A ironia é que tanto os israelenses como os palestinos estão sendo representados por líderes fracos", afirma Phyllis Bennis, do Institute for Policy Studies e autora do livro Undestanding the Palestinian-Israeli Conflict.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, se vê abalado por um escândalo de corrupção e por cisões dentro de sua própria coalizão. Os representantes da direita em seu gabinete se opõem radicalmente a concessões em temas polêmicos, como, por exemplo, a divisão de Jerusalém e a transformação do lado oriental da cidade na futura capital de um Estado palestino.
Desde a tomada do poder pelo movimento Hamas na faixa de Gaza, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, perdeu o controle, na prática, de 1,5 milhão de palestinos. E viu sua credibilidade ficar seriamente abalada.
Fim da ocupação
"A conferência não oferecerá qualquer avanço, mesmo porque ela não foi feita com esse intuito", diz Bennis. No entender da analista, a única maneira de a reunião trazer mudanças seria através de uma possível pressão por parte dos Estados Unidos para que Israel pusesse um fim à ocupação dos territórios palestinos.
"Mas nos Estados Unidos costuma-se dizer que ninguém nunca perdeu votos por ser demasiadamente pró-Israel. Do ponto de vista americano, obter progressos não se dá pregando o fim da ocupação, mas sim buscando o apoio árabe para a atual política do país no Oriente Médio, que levou ao fracasso no Iraque e que visa isolar o Irã cada vez mais."
Martin Indyk, diretor do Saban Center for Middle East Policy, do Brookings Institution, ex-embaixador americano em Israel e secretário-assistente de Estado para o Oriente Médio durante o governo de Bill Clinton, acredita que a presença de inúmeros países na conferência oferece uma mensagem de apoio mundial para um desenlace pacífico no Oriente Médio.
"Também envia uma mensagem clara para os iranianos, para o Hamas e para o Hizbollah, de que suas táticas violentas não contam com o apoio da maior parte do mundo. Essa é a mensagem mais importante que pode ser oferecida por Annapolis", comenta.
Camp David
No entender de Indyk, a reunião de Annapolis não é comparável aos encontros de Camp David oferecidos pelos presidentes Jimmy Carter e Bill Clinton. No bem-sucedido encontro patrocinado por Carter, em 1978, os então líderes de Israel, Menachen Begin, e do Egito, Anwar Sadat, firmaram compromissos para alcançar a paz entre seus países.
Na reunião oferecida por Clinton, em 2000, Israel ofereceu a criação de um Estado palestino em Gaza e na maior parte da Cisjordânia, mas o então presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, e o premiê de Israel no período, Ehud Barak, discordaram em relação ao direito de retorno a Israel dos refugiados palestinos e, dois meses após o encontro, confrontos entre israelenses e palestinos voltaram a ocorrer, levando ao colapso das negociações.
"A reunião pode ser comparável à Conferência de Madri, em 1991, que levou a negociações entre árabes e israelenses. A conferência de Annapolis levará às negociações sobre o status final de vários temas, sobre os quais há impasses, após sete anos terríveis, em que os palestinos e israelenses tentaram resolver suas diferenças através da violência. É importante que árabes e israelenses voltem à mesa de negociações", comenta Indyk.
Haiam Malka, vice-diretor do programa de Oriente Médio do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, julga que a estratégia do governo americano de atrair um grande número de países para a reunião pode ter se voltado contra a própria conferência.
"A tentativa foi a de atrair o grupo mais amplo possível de modo a mostrar que existe um forte apoio para as negociações entre israelenses e palestinos. Mas a presença de um grupo tão grande pode acabar diluindo os temas discutidos", afirma.
Malka acredita que, de certa forma, faz sentido que países como a Índia ou o Brasil tenham sido convidados para a conferência, "porque a Índia conta com uma expressiva minoria muçulmana e o Brasil, com uma elevada população de origem árabe, mas é verdade que eles terão muito pouco peso no encontro".
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