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07/10/2004 - 07h11

Análise: Relatório sobre armas traz mensagens variadas

ADAM BROOKES
da BBC Brasil, em Washington

Numa primeira análise, o relatório do Iraq Survey Group, que concluiu que não havia armas de destruição em massa no Iraque na época da invasão do país, parece ser uma acusação forte contras as informações fornecidas aos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha antes da guerra.

Mas, olhando de novo, o relatório é cerebral e detalhado, e nele está contido um pouco de tudo para todo mundo.

Charles Duelfer, o líder do Iraq Survey Group - formado por mais de mil militares, analistas de informação e especialistas - parece ter feito um grande esforço para entrar na mente de Saddam Hussein.

O Iraq Survey Group até interrogou o ex-líder iraquiano durante suas investigações.

Saddam

Aqui está o que o grupo descobriu: "Na visão de Saddam, as armas de destruição em massa ajudaram a salvar o regime diversas vezes. Ele acredita que durante a guerra Irã-Iraque, armas químicas impediram ofensivas por terra do Irã, e que ataques de mísseis balísticos em Teerã quebraram a sua vontade política".

"De maneira semelhante, durante a operação Tempestade no Deserto, Saddam acreditou que as armas de destruição em massa impediram que as forças de coalizão fossem além de seu objetivo de libertar o Kuwait. As armas de destruição em massa também tiveram papel de destaque em esmagar uma revolta xiita no sul em seguida ao cessar-fogo de 1991."

As armas de destruição em massa, na visão de Duelfer, eram fundamentais para o futuro do Iraque, segundo Saddam Hussein. E ele diz que o líder iraquiano tinha planos de retomar os programas de armas quando as sanções internacionais fossem suspensas.

"Saddam queria desenvolver instalações nucleares - independentemente das pressões internacionais e dos conseqüentes riscos econômicos - mas ele tinha intenção de se concentrar em mísseis balísticos e instalações para uma guerra química tática."

Duelfer acredita que o Iraque estava trabalhando efetivamente para diminuir o impacto de sanções internacionais. Ele estava importando material proibido. Ele estava usando o programa de petróleo por comida para levantar fundos de maneira ilícita. E ele estava investindo tempo e dinheiro em um grupo de especialistas que poderiam recomeçar o programa de armas quando fosse conveniente.

Campanha americana

Nos Estados Unidos, essa visão soará como música aos ouvidos da campanha dos republicanos à Presidência.

O presidente George W. Bush está entendendo - faltando um mês para as eleições - que a percepção do público sobre o Iraque está desvirtuando sua perspectiva de reeleição. Mesmo quando o argumento central para a guerra desmorona, as conclusões de Duelfer permitem que os republicanos argumentem que Saddam Hussein era uma ameaça, e que ir à guerra era a decisão correta.

O Congresso perguntou a Duelfer na quarta-feira se ele acredita que o mundo está melhor sem Saddam.

Duelfer hesitou e respondeu: "Sim, como analista, o mundo está melhor".

Richard Armitage, o número 2 no Departamento de Estado, disse à BBC: "Nosso presidente... acredita que essa foi a decisão correta e nós temos certeza de uma coisa - Saddam Hussein não vai mais representar uma ameaça para ninguém, nem agora nem nunca mais. Ele não vai mais matar seu próprio povo, nem agora nem nunca mais; nem ir à guerra contra seus vizinhos, nem agora nem nunca mais".

Kerry

Agora, resta saber como os assessores do candidato democrata, John Kerry, vão usar o relatório do Iraq Survey Group de uma maneira que sirva a seus interesses.

Eles devem argumentar que o relatório confirma o que John Kerry vem dizendo nas últimas semanas: que o presidente cometeu um erro de julgamento ao invadir o Iraque.

Com certeza, o relatório do Iraq Survey Group pode e será usado pelos dois lados na corrida eleitoral. Ele pode ter derrubado o mito das armas de destruição em massa do Iraque.

Mas vai apenas incendiar o debate sobre se o Iraque de Saddam Hussein representava uma ameaça real.

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