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03/12/2004 - 11h30

Geneticista defende tese de que é possível viver mil anos

AUBREY DE GREY
da BBC Brasil

O envelhecimento é um fenômeno físico que acontece em nossos corpos. Em algum momento no futuro, com a medicina cada vez mais poderosa, nós inevitavelmente seremos capazes de tratar o envelhecimento com a mesma eficiência com que tratamos muitas doenças hoje em dia.

Acredito que estamos perto disso por causa do projeto SENS, criado para prevenir e curar o envelhecimento.

Não se trata apenas de uma idéia: é um plano muito detalhado para reparar todos os tipos de danos moleculares e celulares que ocorrem conosco ao longo do tempo.

E cada um dos métodos para fazer isso já funciona de forma preliminar (em experiências clínicas) ou é baseado em tecnologias que já existem ou precisam apenas ser combinadas.

Isso significa que todas as etapas do projeto devem funcionar totalmente em ratos dentro de apenas dez anos, e nós podemos levar apenas outros dez anos para conseguir que funcionem em humanos.

Com essas terapias, ao envelhecer, não ficaremos mais frágeis, desgastados pela idade e dependentes, e eventualmente não sucumbiremos às inumeráveis e terríveis doenças progressivas da velhice.

Milhares de anos

Nós ainda vamos morrer, é claro --ao atravessar a rua sem tomar cuidado, ao levar picadas de cobras venenosas, ao pegar uma nova variante de gripe, etc. Mas não da maneira como muitos de nós morremos hoje em dia.

Então, será que isso vai acontecer a tempo para as pessoas vivas atualmente? Provavelmente. Essas terapias se aplicam a pessoas na meia-idade ou mais velhas que têm uma quantia razoável de danos acumulados.

Acho que a primeira pessoa a viver mil anos pode já ter 60 hoje em dia.

Existem sete principais tipos de danos moleculares e celulares que eventualmente se tornam ruins para nós --incluindo células perdidas sem substituição e mutações em nossos cromossomos.

Cada um desses danos é potencialmente reparável com tecnologias que já existem ou estão em desenvolvimento ativo.

A duração de nossas vidas será muito mais variável do que agora porque as pessoas não ficarão mais frágeis com o passar do tempo.

A média de idade será de alguns milhares de anos. Esses números são palpites, é claro, mas se baseiam na freqüência com que os jovens morrem hoje em dia.

Se você é um adolescente razoavelmente atento para os riscos, em uma vizinhança com bons recursos e sem violência, a chance de você morrer no ano que vem é bem menor do que uma em mil --o que significa que, se continuar assim para sempre, você tem uma chance de 50% de viver mais de mil anos.

E lembre-se: em nenhum momento você sofreria enfraquecimento, debilidade ou dependência --você seria jovem, mental e fisicamente.

Direito à vida

A cura do envelhecimento vai mudar a sociedade de maneiras inumeráveis. Algumas pessoas têm tanto medo disso que pensam que deveríamos aceitar o envelhecimento como ele é.

Acho isso diabólico, significa que deveríamos negar às pessoas o direito à vida.

O direito de escolher viver ou morrer é o mais fundamental que existe. Ao mesmo tempo, a responsabilidade de dar aos outros essa oportunidade da melhor forma possível é a responsabilidade mais fundamental que existe.

Não há diferença entre salvar vidas e estender vidas porque, nos dois casos, estamos dando às pessoas a chance de viver mais. Dizer que não deveríamos curar o envelhecimento é antiquado, é afirmar que não vale a pena oferecer tratamento médico a pessoas velhas.

As pessoas também afirmam que vamos ficar terrivelmente entediados, mas digo que temos recursos para melhorar a capacidade de todos de aproveitar a vida ao máximo.

Pessoas com uma boa educação e tempo para usá-la nunca ficam entediadas hoje em dia e não consigo imaginar que as coisas novas que elas gostariam de fazer se esgotem.

E, para finalizar, algumas pessoas acreditam que isso tudo poderia significar brincar de Deus ou ir contra a natureza, mas aceitar o mundo como nós o encontramos não é natural para nós.

Desde que inventamos o fogo e a roda, temos demonstrado nossa habilidade e nosso desejo inerente de consertar as coisas que não gostamos em nós mesmos e em nosso ambiente.

Nós iríamos contra o aspecto mais fundamental do que é ser humano se decidíssimos que devemos conviver para sempre com algo tão horrível como alguém ficando frágil, desgastado pela idade e dependente.

Se mudar o nosso mundo é brincar de Deus, esse é apenas mais um motivo por que Deus nos fez a sua imagem e semelhança.

* Aubrey de Grey lidera o projeto SENS na Universidade de Cambridge e concorre ao Prêmio Rato Matuzalém, dedicado a pesquisas de combate ao envelhecimento em ratos. O cientista escreveu este texto a pedido da BBC, que fez uma série de reportagens especiais sobre o envelhecimento.

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