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Disputa por Amazônia está na raiz da fuga da família real, diz historiador
JAIR RATTNER
da BBC Brasil, em Lisboa
Um historiador português defende a tese de que uma disputa territorial na região da Amazônia envolvendo a França e Portugal está na raiz da fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808, depois que os franceses invadiram o país europeu.
Para o historiador Jorge Couto, antes da invasão das tropas de Napoleão em 1807, os franceses pretendiam ampliar a Guiana Francesa até a margem norte do rio Amazonas.
"A reivindicação territorial foi feita em 1797 pelo Diretório, ainda antes de Napoleão assumir como imperador da França. Uma das atribuições do Diretório era a de fixar as fronteiras", disse Couto.
O historiador, que é diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa --uma das principais fontes de pesquisa sobre a história de Portugal-- indicou quais eram os três objetivos da invasão francesa de Portugal: dividir o território português com os espanhóis, tomar posse das colônias portuguesas e colocar a marinha portuguesa a serviço dos franceses.
Construção da história
Para Couto, a ida para o Brasil foi uma grande saída do regente português D. João 6º. "Portugal era a única parte da Europa continental que não estava sob o domínio de Napoleão. Não havia alternativa. Entre os franceses e os ingleses, D. João escolheu o mal menor, os imperialistas mais inteligentes."
Ele conta que Portugal ainda tentou negociar com os franceses. "Foi oferecido direito de os franceses negociarem nos portos portugueses da mesma forma que os ingleses; foram oferecidas possessões na África, mas não no Brasil."
O historiador acredita que, por motivos políticos, procurou-se caracterizar a fuga da família real para o Brasil como atabalhoada e D. João 6º como uma figura caricata.
"Foi uma construção da história. Os países, para se firmarem como independentes tendem a diminuir o papel do colonizador, ridicularizá-lo."
Marinha
Os portugueses tinham nessa época 21 navios de guerra e 33 mercantes. Couto explicou que o objetivo francês de ter a Marinha portuguesa a serviço dos franceses e espanhóis se deve às derrotas marítimas desses países pelos ingleses nas batalhas de Abuquir, em 1798, e Trafalgar, em 1805.
Eles pretendiam usar os navios portugueses para combater o domínio inglês do mar. "A Marinha portuguesa era a terceira maior do mundo, atrás da inglesa e da americana. A espanhola e a francesa tinham sido destruídas e a dinamarquesa havia sido bombardeada pelos ingleses em 1805, no porto de Copenhague, quando a Dinamarca aderiu ao bloqueio continental à Inglaterra."
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