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19/03/2008 - 09h12

Conflito armado é "problema da Colômbia", diz Marco Aurélio Garcia

CLÁUDIA JARDIM
de Caracas para a BBC Brasil

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse nesta terça-feira que o problema central que desencadeou uma crise sem precedentes na América do Sul não deve ser relacionado à porosidade das fronteiras da Colômbia com os países vizinhos, e sim à existência de um conflito armado interno, ainda sem aparente solução.

Em visita à Venezuela, Garcia afirmou que após solucionado o conflito entre Colômbia e Equador no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA) e no Grupo do Rio, cabe à Colômbia solucionar o problema doméstico. Ele rejeitou o argumento de que os países vizinhos são responsáveis pela regionalização do conflito.

"O fato de haver porosidade nas fronteiras pode complicar, pode, mas o problema central não está nas fronteiras, o problema central é a existência de um grupo armado no país (Colômbia), este é o problema real e é um problema interno", afirmou.

"Temos procurado reduzir a porosidade da fronteira brasileira e sabemos que, se não fizermos, seremos atingidos, (...) mas sempre tratamos que é um problema interno da Colômbia."

Grupo de amigos

Na avaliação de Garcia, não compete ao Brasil nem a outro país a decisão sobre uma possível solução para o conflito colombiano. A seu ver, a proposta defendida pelo governo venezuelano de criar um grupo de países amigos para ajudar a buscar uma saída negociada para o conflito interno colombiano deve ser solicitada pela Colômbia.

"O governo colombiano é um governo legítimo, eleito, isso não está em discussão. Não se pode pensar na constituição de um grupo de amigos se não houver acordo do governo colombiano", disse. "Nós preferimos que este conflito termine em uma negociação e não em um conflito armado, mas não cabe ao Brasil decidir esta questão. Isso deve ser decidido no marco da soberania colombiana."

Garcia disse que o Brasil está disposto a "ajudar e não a atrapalhar" principalmente por considerar que os possíveis desdobramentos do conflito -como na recente crise - "conspiram contra o projeto de unidade sul-americana".

"Sangue doce"

O assessor da Presidência se reuniu com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para conversar sobre a solução da crise e coordenar a agenda da reunião bilateral entre Chávez e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Recife, no próximo dia 26.

Garcia disse que Chávez estava satisfeito com os resultados obtidos na reunião da OEA na madrugada desta terça-feira, em que os países rechaçaram a incursão militar colombiana.

Garcia afirmou ter encontrado o presidente venezuelano com o "sangue doce" em relação aos problemas da região e disposto a normalizar as relações tanto políticas quanto econômicas com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. O governo venezuelano rompeu relações diplomáticas com a Colômbia em rechaço à incursão militar colombiana no Equador no dia 1 de março, fator que desencadeou a crise na região.

Chávez anunciou que seu governo substituiria as importações provenientes da Colômbia, estimadas em US$ 6 bilhões de dólares anuais, por produtos brasileiros e argentinos. "Temos interesse em exportar para a Venezuela mas não estamos interessados em deslocar os países vizinhos", disse Garcia.

Reunião bilateral

No encontro, Lula e Chávez devem reavaliar o projeto de exploração petrolífera entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA na faixa do Orinoco, que de acordo com Garcia já tem 10% da participação da Petrobras garantidos e poderia ser ampliado.

Na refinaria de Pernambuco, onde Lula receberá seu colega venezuelano, a participação da PDVSA no projeto é de 40%.

Garcia disse que um dos temas que devem marcar a reunião bilateral é a ampliação dos acordos de cooperação nas áreas agrícola e industrial, que já foram antecipados com a abertura das agências da ABDI e da Embrapa em Caracas - baseados na complementaridade produtiva.

Segundo Garcia, o governo brasileiro está "convencido" de que só o livre comércio, neste caso com o Mercosul, não é suficiente para estabelecer uma relação de integração entre os países e que, ao contrário, pode agravar as assimetrias já existentes na região.

"O Mercosul tem que ir além do livre comércio. A única forma que temos para resolver as desigualdades é estabelecer um programa de complementaridade industrial, agrícola", afirmou.

A Venezuela é hoje o sexto destino das exportações brasileiras e o quarto maior superávit comercial do país.

 

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