Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/01/2005 - 22h41

Relações com Hamas e Israel são desafios de futuro presidente

GUILA FLINT
da BBC Brasil

De acordo com todas as previsões, neste domingo, 9 de janeiro, os palestinos da Cisjordânia e da faixa de Gaza deverão eleger Mahmoud Abbas ao cargo de presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Com a eleição, o quadro político na ANP deverá mudar de maneira significativa e favorável à retomada do processo de paz, pois Abbas é considerado um líder moderado e pragmático.

Durante a campanha eleitoral, Abbas criticou de maneira explícita as ações armadas do Hamas e do Jihad Islâmico contra Israel e defendeu o caminho do diálogo.

Em plena campanha, quando estava na faixa de Gaza --região considerada o reduto dos grupos militantes islâmicos--, Abbas afirmou que "os ataques contra alvos israelenses são inúteis e só prejudicam os interesses do povo palestino".

Ele também declarou que "considera o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, um parceiro para as negociações pois Sharon é o líder eleito dos israelenses".

Oposição

Sobre o tema mais delicado do conflito, a questão do direito ao retorno dos refugiados palestinos, Abbas também se expressou de maneira cautelosa, dizendo que defende o direito de os refugiados voltar ao seu país.

Analistas notaram que Abbas usou a expressão "retorno ao seu país" e não "retorno às suas casas", assim abrindo a possibilidade que o retorno dos refugiados seja para um futuro Estado palestino e não para dentro das fronteiras de Israel, o qual as autoridades israelenses rejeitam veementemente.

Abbas declarou que, logo depois das eleições, quer retomar o processo de paz e voltar à mesa de negociações com Israel.

Já Sharon não mencionou a retomada do processo de paz, mas, segundo fontes de seu gabinete, anunciou que depois das eleições quer se encontrar com Abbas para exigir que ele ponha um fim imediato ao lançamento de foguetes e morteiros contra alvos israelenses.

De acordo com o canal estatal da TV israelense, Sharon disse que Abbas deve acabar com o lançamento dos morteiros "imediatamente, e sem mais desculpas". O primeiro-ministro Ariel Sharon também declarou que, "se a autoridade palestina não desarmar e destruir os grupos terroristas, não haverá um avanço no processo de paz".

Mas Mahmoud Abbas já anunciou que não pretende usar de violência contra o Hamas e o Jihad Islâmico, mas sim convencê-los a parar os ataques a alvos israelenses.

Segundo analistas, a liderança local do Hamas estaria disposta a aceitar uma trégua pois tem interesse em obter uma parcela do poder político.

Porta-vozes do Hamas declararam que o grupo quer entrar na Organização para a Libertação da Palestina (OLP), o que significaria que deseja participar do poder em vez de continuar na oposição. Porém a liderança do Hamas em Damasco mantém a linha de oposição e é contra qualquer trégua com Israel.

Força política

A atitude a ser tomada em relação ao Hamas pode ser um primeiro ponto de divergência entre Abbas e Sharon que deverá dificultar a retomada do diálogo.

Há muitos outros pontos de divergência. Por exemplo, Abbas disse que, se Israel não destruir a barreira que está construindo na Cisjordânia, não poderá haver paz. Ele também afirmou que os palestinos não concordarão com a permanência dos grandes blocos de assentamentos na Cisjordânia.

Quando Abbas criticou essas medidas, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Silvan Shalom, retrucou que "o discurso de Abbas é tão radical como era o discurso de Iasser Arafat".

Quando estava na faixa de Gaza, houve um momento em que Abbas radicalizou bastante seu discurso e chamou Israel de "inimigo sionista", depois que seis crianças e adolescentes palestinos foram atingidas por disparos de um tanque israelense.

A liderança palestina havia deixado de usar essa expressão para nomear Israel desde a assinatura dos acordos de Oslo em 1993.

Esta declaração de Abbas teve um efeito extremamente negativo sobre o governo israelense. O vice-primeiro-ministro Ehud Olmert disse que "essa declaração de Mahmoud Abbas é intolerável e inconcebível".

Coalizão

Na próxima semana, o quadro político vai mudar não só nos territórios palestinos como também em Israel. Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro Sharon deverá apresentar ao Parlamento uma coalizão governamental reforçada com a entrada do Partido Trabalhista e do partido religioso Yahadut Hatorah.

Com a nova coalizão Sharon, terá uma ampla base de apoio no Parlamento que lhe possibilitará levar adiante seu plano de retirada da faixa de Gaza.

Uma coalizão governamental sólida também dará ao primeiro-ministro israelense a capacidade para transformar a retirada da faixa de Gaza em um primeiro passo na retomada do processo de paz.

Mas não basta a capacidade, também é necessária a vontade política.

A grande questão é se o governo israelense estará disposto a retirar as tropas e os assentamentos não só da faixa de Gaza, mas também da Cisjordânia e possibilitar a criação de um Estado palestino.

Do lado palestino, a grande questão é se Abbas terá a força política para realmente impor aos grupos militantes o fim da violência.

Como nesta equação o lado forte é Israel, a capacidade de Abbas vai depender, em grande parte, dos atos do governo israelense.

Se os palestinos sentirem uma melhora em suas condições de vida, Abbas terá o apoio da população para seguir adiante com o processo de paz.

Especial
  • Leia mais sobre a eleição palestina
  • Leia o que já foi publicado sobre Mahmoud Abbas
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página