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07/03/2005 - 23h54

FMI considera 'frutífera' conversa com ministro argentino

DENIZE BACOCCINA
da BBC Brasil, em Washington

O Fundo Monetário Internacional (FMI) qualificou de "frutíferas e cordiais" as discussões desta segunda-feira entre o ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, e o diretor-gerente do Fundo, Rodrigo de Rato.

"Ficou acertado que os próximos passos no diálogo serão encontros em nível técnico em Washington nas próximas semanas", diz um comunicado divulgado pela assessoria de imprensa do Fundo.

O órgão não informou, no entanto, se as negociações continuam nesta terça-feira, quando Lavagna ainda fica em Washington.

Depois das reuniões com Rato e economistas do Fundo, Lavagna se encontrou nesta segunda-feira à tarde no Tesouro americano com o secretário John Snow, o subsecretário para Assuntos Internacionais, John Taylor e o subsecretário-assistente de Assuntos Internacionais, Radall Quarles.

Crescimento

De acordo com o porta-voz do Tesouro, Tony Fratto, Lavagna fez um relato sobre a troca da dívida e a situação da economia argentina, incluindo as perspectivas de crescimento econômico e de inflação para este ano.

Snow e Lavagna também conversaram sobre a implementação do programa de reformas econômicas da Argentina. Lavagna não quis fazer declarações.

O governo argentino concluiu na quinta-feira passada o prazo para os credores aceitarem a troca da dívida, em moratória há três anos. A oferta de pagar US$ 41 bilhões em títulos novos para a dívida de US$ 102 bilhões, cerca de 30% do valor, foi aceita por 76% dos credores.

A dúvida é o que o governo fará com os 24% que não aceitaram a oferta, o que preocupa principalmente representantes de países europeus com um grande volume de títulos nas mãos de pequenos investidores, como é o caso da Itália.

A dívida da Argentina com o FMI soma US$ 13,7 bilhões. O último acordo, fechado em setembro de 2003, para um empréstimo de US$ 12,55 bilhões, foi suspenso em agosto do ano passado depois de duas revisões, para que o país se concentrasse na negociação com os credores privados.

A dívida da Argentina é a terceira maior da instituição, depois das do Brasil, de US$ 24,6 bilhões, e da Turquia, de US$ 21 bilhões.

No total, a dívida da Argentina, já incluindo a renegociação, soma US$ 125 bilhões, o equivalente a 73% do PIB.

O ministro Lavagna disse, no fim de semana, ainda na Argentina, que o governo pretendia continuar reduzindo a dívida "até um nível aceitável para um país emergente".

Se conseguir um novo acordo com o Fundo, a Argentina vai mostrar que a estratégia de não ceder às pressões dos organismos internacionais e negociar à sua maneira e ao seu tempo terá valido a pena.

Repercussões

O economista Mark Weisbrot, diretor do Centro para Pesquisa Econômica e Política, com sede em Washington, acha que o caso da Argentina terá repercussões não apenas em outros países da América Latina, mas também em outras partes do mundo.

"O FMI sempre teve um grande poder de impor suas políticas a todos os países porque todo mundo tinha medo do cartel dos credores e de ficar sem crédito se não concordasse com o FMI. Com a Argentina, isso acabou", disse Weisbrot à BBC Brasil.

"Os países em desenvolvimento vão perceber que têm mais poder do que pensavam", avalia.

Ele acha que outros países, não apenas na América Latina, mas também na África, podem se sentir estimulados a agir de forma independente do FMI.

"Qualquer país que tem um superávit comercial (e portanto reservas) pode fazer o mesmo", diz.

Weisbrot acha que a pressão pode chegar ao governo brasileiro, que pode se ver pressionado a reduzir os juros. "Se a Argentina tivesse juros nos níveis brasileiros estaria perdida", afirmou.

Já o economista Sidney Weintraup, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), também com sede em Washington, concorda que a Argentina está negociando em condições favoráveis, mas não acha que seu exemplo será seguido por outros países.

"A Argentina conseguiu um acordo melhor do que se imaginava, mas pagou um preço alto para chegar lá", afirmou. Apesar do crescimento atual, em torno de 8% ao ano, ele lembra que o país passou pela pior crise da história recente na época da moratória.
 

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