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Desabastecimento na Argentina "pode ocorrer em horas", dizem indústrias
MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires
A greve dos caminhoneiros, retomada na terça-feira, pode causar o desabastecimento de alimentos "nas próximas horas" na Argentina, informou a Copal (Coordenadora das Indústrias de Produtos Alimentícios), que representa as principais entidades do setor.
"A paralisação da atividade da indústria alimentícia somada às dificuldades logísticas vão gerar desabastecimento de alimentos nas próximas horas, se a situação não for resolvida", diz o comunicado.
O vice-presidente da entidade, Roberto Domenech, disse que pelo menos "um milhão de frangos" poderão ser "sacrificados" porque também estão sem comer, na estrada. Representantes do setor industrial de leite afirmaram terão que jogar leite na estrada, já que os caminhões abastecidos estão parados no caminho.
"A falta de alimentos nas prateleiras está pressionando a alta de preços", disse Susana Andrada, do Centro de Educação ao Consumidor.
Combustível
Outro agravante para o desabastecimento é a falta de combustível na capital e em algumas regiões do interior do país, também afetada pela greve.
Postos de gasolina de Buenos Aires e de regiões como Santa Fé, Córdoba, Entre Ríos e Chaco registraram, na quarta-feira, falta de gasolina e diesel, o que provocou filas de automóveis em alguns locais e redução na circulação de transporte público.
Recentemente, em Buenos Aires, os postos racionaram a quantidade de combustível permitida por cada veículo --50 pesos--, mas agora muitos motoristas reclamam da escassez mais intensa de combustíveis.
Um levantamento realizado em todo o país pela Associação das Estações de Serviço Independentes (Aesi, na sigla em espanhol), revelou que sete de cada dez postos de gasolina registram falta de algum combustível.
"E o governo continua ignorando o problema e permitindo que as petroleiras mantenham seus níveis de exportação", disse Manuel García, presidente da Aesi.
Preocupação
Segundo diferentes analistas, a Argentina enfrenta uma difícil matemática energética --entre demanda, produção, tarifas congeladas e investimentos limitados-- que se tornou mais evidente nos últimos dois anos.
Desde o inverno passado, existe preocupação com os limites de abastecimento de gás e de diesel, por exemplo.
Em um artigo publicado nesta semana, o jornal El Cronista, afirmou que o setor industrial registrou falta de gás para as empresas que estão numa lista das que podem ser afetadas, sem interromper a produção.
Também nesta semana, a situação voltou a se complicar com o protesto dos caminhoneiros, impedindo a passagem dos carregamentos com combustíveis para os postos de gasolina.
A greve também tem provocado escassez de produtos nas prateleiras dos supermercados.
Os caminhoneiros argumentam que, apesar do fim da manifestação, no último domingo, os ruralistas continuam evitando comercializar grãos na tentativa de fazer o governo desistir dos aumentos de impostos para o setor.
Em uma entrevista transmitida na noite de quarta-feira, o chefe de Gabinete (equivalente a chefe da Casa Civil) da Presidência argentina, Alberto Fernández, pediu que os caminhoneiros liberem as estradas. "Vocês não percebem o mal que estão fazendo?", afirmou.
Pouco antes, ele e o ministro da Economia, Carlos Fernández, tinham anunciado a liberação de um milhão de toneladas de trigo para exportação - deste total, 500 mil seriam para o mercado brasileiro.
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