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03/04/2005 - 13h30

Comitiva de Lula deverá ter Severino e Marisa

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

A embaixadora do Brasil no Vaticano, Vera Barroim Machado, confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá ao funeral do papa João Paulo 2º acompanhado pela primeira-dama Marisa Letícia, pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e pelos presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Senado, Renan Calheiros.

Ela disse que várias vezes o presidente Lula tentou programar uma viagem a Roma, desde que foi eleito, mas que nunca conseguiu realizá-la.

Vera não soube informar o dia que a comitiva brasileira deve chegar no Vaticano, pois o governo ainda aguarda a data do funeral.

Pouco antes de se dirigir à Sala Paulina, onde está sendo velado o corpo do papa João Paulo 2º, a embaixadora lembrou com emoção dos dois momentos em que se encontrou com o pontífice.

"Grande Brasil"

O primeiro encontro ocorreu em outubro de 2004, quando apresentou suas credenciais, e o segundo, em janeiro, durante o tradicional encontro que o pontífice tinha com o corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé.

Vera se emocionou e seus olhos encheram-se de lágrimas ao recordar aquele momento.

"Quando me viu, ele disse: À representante do grande Brasil, uma saudação!. Ele, com aquela dificuldade toda para falar, ainda falou em português."

A embaixadora disse ter ficado surpresa porque João Paulo 2º lembrou-se de seu marido, que tinha visto apenas três meses atrás, em sua posse, demonstrando uma grande lucidez e memória, mas também um grande afeto.

"O papa disse: Como vai o engenheiro?, recordou Vera Barroim. Eu até hoje penso nisso, ele conseguia estabelecer de imediato uma relação de afetividade com o interlocutor, seja como indivíduo ou como massa também", comentou.

Afetividade

Outro episódio que ficou registrado na memória dela e que comprova o grande apego que o papa tinha com o Brasil foi durante a visita de um grupo de crianças carentes de Feira de Santana, que tinha o apoio de uma ONG, pouco antes da posse da embaixadora.

Elas estavam no Vaticano pela ocasião de uma beatificação.

"Não estava previsto que os meninos entrassem na audiência mas por ordem dele próprio eles entraram, tocaram João de Deus e ele se emocionou", contou.

Vera Barroim é a primeira embaixadora mulher do Brasil junto à Santa Sé.

Ela fez questão de salientar isso em seu discurso de apresentação de credenciais.

Política

A embaixadora ainda fez uma análise do legado do papa João Paulo 2º. Na sua avaliação, foram dois grandes planos.

"Um é o plano pessoal, a empatia e a afetividade que ele aproveitou muito bem inclusive através dos recursos da mídia, que não era tão disponível a seus predecessores", avaliou Vera Barroim.

O outro plano, em sua opinião, é a importância desse pontificado do ponto de vista político, que deve ser reconhecido por todos os países do mundo, seja para criticar ou para elogiar.

"Certamente em política externa foi um pontificado extraordinário porque ele sempre foi muito corajoso na defesa da paz, do direito internacional sobre a força e dos direitos humanos, além do diálogo inter-religioso, num momento em que a religião virou uma arma política."

Na sua análise, o lado polêmico é ligado às posições do pontificado em relação aos problemas da família, aborto, divórcio e pesquisas com células-tronco.

"Nos últimos anos, a posição da Santa Sé tem sido de fechamento."

Quanto ao fato de cardeais brasileiros estarem na lista de possíveis nomes para a sucessão de João Paulo 2º, a embaixadora disse: "Não sei se estou preparada para isso. Certamente seria uma coisa extraordinária".

Ela comentou que essa discussão ainda é prematura mas admite que há muita expectativa. "São 117 cardeais, de linhas diferentes, origens diversas, temos cardeais do mundo inteiro."

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