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Mais de mil tibetanos estão desaparecidos, diz Anistia
MARINA WENTZEL
da BBC, em Hong Kong
Mais de mil tibetanos detidos durante os protestos pró-independência, que ocorreram em março, na China, continuam desaparecidos, aponta um relatório divulgado nesta semana pela Anistia Internacional.
O documento afirma que há denúncias de casos de abuso nas prisões e que, enquanto detidos, os tibetanos teriam apanhado e ficado sem comer.
Segundo a Anistia, dados oficiais do governo chinês contabilizam apenas os detidos que foram condenados , no que a organização chama de julgamentos "duvidosos".
Os confrontos --considerados os piores dos últimos 20 anos na região-- estouraram no dia 10 de março quando a polícia e manifestantes entraram em choque nas ruas da capital, Lhasa. Várias pessoas foram presas durante os protestos.
Segundo números divulgados em maio pelo governo tibetano no exílio, que tem sede na cidade de Dharamsala, na Índia, centenas de manifestantes tibetanos ainda estariam detidos.
Com a passagem da tocha olímpica por Lhasa marcada para este sábado (21) e o compromisso de Pequim em promover a liberdade de expressão, a Anistia Internacional pediu esclarecimentos do governo chinês sobre o paradeiro dos tibetanos desaparecidos.
Transparência
Segundo informações não confirmadas divulgadas pela ONG Estudantes por Um Tibete Livre (Students for a Free Tibet, em inglês), centenas de manifestantes que estavam detidos teriam morrido no terremoto de Sichuan, quando uma prisão próxima do condado de Wenchuan desabou.
No entanto, não há dados precisos sobre o número de detidos. "Esse relatório é o primeiro passo para obtermos maior transparência do governo da China sobre o verdadeiro número de detidos", afirmou em entrevista à BBC Brasil o pesquisador da Anistia Internacional para Ásia, Mark Allison.
O pesquisador, que ajudou na realização do relatório, afirmou que é extremamente difícil coletar informações precisas sobre a situação do Tibete. Ele ressalta ainda que o clima é de medo na região.
"Os tibetanos ainda estão tendo seus celulares confiscados e correm o risco de serem presos se forem pegos repassando informações para estrangeiros", disse Allison.
O relatório destaca ainda que, nos últimos meses, a polícia e forças especiais de segurança do governo da China realizaram vistorias em centenas de monastérios, santuários e casas particulares, apreendendo computadores e aparelhos de comunicação.
Imprensa
Allison afirma que a Anistia quer que a China permita a livre entrada de jornalistas no Tibete para que haja uma "clara investigação dos fatos".
Cerca de 50 jornalistas representando 31 órgãos de imprensa foram convidados pelo governo para cobrir a passagem da tocha Olímpica pela região neste fim de semana.
"Só que esse tipo de acesso restrito (ao Tibete) não tem nada a ver com liberdade de acesso à informação", protesta o pesquisador.
O governo da China ainda não se posicionou oficialmente sobre o relatório divulgado pela Anistia Internacional.
"Eles [os chineses] nunca respondem aos nossos relatórios com receptividade e dados, sempre com acusações e preconceito", afirmou Allison.
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