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12/04/2005 - 06h07

Cardeal acusado de acobertar pedófilos reza pelo papa

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

O cardeal Bernard Francis Law, ex-arcebispo de Boston, foi recebido com protestos ao celebrar a missa em memória do papa João Paulo 2º, na Basílica de São Pedro.

Envolvido no escândalo de abusos sexuais a menores por parte de padres na igreja católica dos Estados Unidos, Law foi obrigado a se demitir em 2002.

Ele teria acobertado padres acusados de pedofilia e protegido-os, mandando-os para outras dioceses ou paróquias, sem avisar aos parentes das vítimas.

Nesta segunda feira, o cardeal Bernard Law foi escalado para celebrar uma das 9 missas que se realizam a cada dia em sufrágio da alma de João Paulo 2º desde o funeral.

Sermão

Na verdade, este convite era quase automático, visto que o cardeal é arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma - um título apenas honorífico.

Em seu sermão, o cardeal americano recordou João Paulo 2º, dizendo que "nesta basílica o corpo do papa espera pela ressurreição".

Ele percorreu algumas etapas do pontificado de Karol Wojtyla afirmando que o pontífice "foi aos confins da Terra para pregar a palavra de Cristo e nestes últimos dias pudemos tocar o testemunho do amor do povo por seu pastor".

A basílica estava cheia e durante a missa os fiéis aplaudiram quando o cardeal Bernard Law lembrou que era dia de São Estanislau.

Law fez menção ao secretário particular de João Paulo 2º, Stanislao Dziwisz, "que por tanto tempo esteve ao lado do papa".

Fora da basílica, dois representantes de vítimas de abusos sexuais de padres vindos especialmente dos Estados Unidos, protestavam contra a presença de Law.

Vítimas

Barbara Blain, presidente da associação das vítimas de Chicago, que conta com 5 mil componentes e que tem representantes em 60 cidades nos Estados Unidos, é uma delas.

Ela mesma diz ter sido vítima de abusos quando tinha 12 anos. Com uma foto de quando era menina pendurada no pescoço, Barbara se apresentou na praça de São Pedro, diante das câmeras de dezenas de televisões para manifestar sua indignação pelo fato de o cardeal de Boston estar rezando a missa em memória de João Paulo 2º.

"É incrível que o cardeal Law tenha um papel tão importante, que reze uma das missas em memória do papa, num momento como esse, de passagem de pontificado", disse aos jornalistas, debaixo de uma forte chuva e acompanhada por dois seguranças do Vaticano.

Barbara Blain disse ter vindo a Roma também para render homenagem à memória de João Paulo 2º. Antes de deixar a praça e se dirigir à basílica, afirmou que sua intenção é pedir ajuda e fazer de tudo para que a verdade sobre o cardeal Bernard Law seja conhecida.

"É incrível que Bernard Law seja um dos 115 cardeais que elegerão o novo papa. A esperança é que ninguém o ouça", afirmou.

Ela disse que centenas de católicos americanos estão chegando a Roma para participar dos protestos.

É provável que a mensagem destas pessoas chegue até os cardeais. Mas encontrá-los é praticamente impossível.

Reunidos diariamente nas congregações anteriores ao conclave que começa dia 18 e escolherá o sucessor de João Paulo 2º, os cardeais não são acessíveis.

Uma das raras possibilidades de vê-los em público é durante as missas em memória do pontífice morto no dia 2 de abril, como esta rezada pelo cardeal Law.

Eles estão proibidos até de dar entrevistas e se encontrar com jornalistas.

Nas reuniões diárias, os cardeais debatem os principais problemas da Igreja Católica.

Eles deverão definir a linha que o futuro papa vai seguir e os problemas mais urgentes que terá de enfrentar.

Escândalo

Cerca de 500 vitimas processaram a diocese de Boston, que conseguiu evitar a falência vendendo terrenos e propriedades.

O custo dos ressarcimentos às vitimas ficou em torno de US$ 86 milhões.

Segundo um relatório da igreja americana, ficou comprovado que em todo o país cerca de 4 mil padres foram acusados de abusos sexuais contra 10 mil jovens, na maioria meninos.

O caso tornou-se um dos maiores escândalos a atingir a Igreja Católica.
 

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