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18/04/2005 - 08h38

Vaticanistas prevêem conclave rápido e com resultado incerto

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

O resultado do conclave que vai escolher o sucessor do papa João Paulo 2º é completamente imprevisível, mas o processo de escolha deve ser rápido, segundo a maioria dos observadores italianos entrevistados pela BBC Brasil.

Os cardeais temem passar uma imagem de indecisão, segundo Marco Politi, especialista em Vaticano do jornal La Repubblica.

A história reforça essa hipótese. Os últimos cinco papas da Igreja Católica foram eleitos em no máximo três dias.

Até agora, o nome que teve maior destaque como candidato à sucessão foi o do cardeal Joseph Ratzinger.

Ele continua um forte candidato, só que Ratzinger teria posto uma condição para entrar efetivamente como candidato: obter a maioria absoluta dos votos, isto é, ao menos 58, já no primeiro escrutínio.

Oposição

Ratzinger é um dos homens mais preparados e de maior autoridade dentro da Igreja Católica, além de ter sido o principal colaborador de João Paulo 2º.

Ele já vinha sendo apontado como um dos mais fortes "papáveis" há vários meses, quando se especulava sobre o futuro da igreja com o agravamento do estado de saúde do papa João Paulo 2º.

Durante as últimas reuniões dos cardeais, da semana passada, o nome de Ratzinger foi citado pela imprensa italiana como o único candidato certo, graças a cerca de 50 preferências entre os 115 cardeais eleitores.

Em oposição à candidatura de Ratzinger, segundo os vaticanistas, o nome mais cotado seria o do ex-arcebispo de Milão Carlo Maria Martini.

Defensor de uma igreja mais aberta ao diálogo com a sociedade e com maior participação dos bispos no governo central, Martini, por sua vez, apoiaria o atual arcebispo de Milão, Dionigi Tettamanzi.

Clique aqui para ver quem são os possíveis sucessores

Segundo o vaticanista Luigi Accattoli, do Corriere della Sera, Ratzinger --que é decano do Colégio de Cardeais-- teria o apoio dos italianos Angelo Scola, Camillo Ruini, Tarcisio Bertone e Giacomo Biffi e dos colombianos Afonso Lopes Trujillo e Dario Castrillon Hoyos.

Martini contaria com o consenso de um grupo basicamente centro-europeu, formado pelos alemães Karl Lehman e Walter Kasper, pelo francês Jean Louis Tauran, pelo tcheco Miloslav Vlk, pelo belga Godfried Danneels e pelo norte-americano Francis George.

Novos nomes

Os dois candidatos, o conservador Ratzinger e o reformista Martini, poderiam, contudo, ser apenas "porta-bandeiras" de duas linhas políticas diferentes, na avaliação dos vaticanistas.

Outros nomes estariam prontos a aparecer, segundo eles.

Até agora circularam os nomes de cerca de 20 candidatos à sucessão de João Paulo 2º.

Instituição de história secular, o conclave nada tem a ver com os processos eleitorais comuns.

Apesar de catalisar a atenção do mundo ocidental, os candidatos não fazem campanha (pelo menos aparente), os programas não são conhecidos oficialmente, é proibido falar com jornalistas, e tudo é coberto de grande mistério.

Fase "mágica"

As análises feitas pela imprensa não se baseiam em informações oficiais, mas em rumores, comentários e declarações, às vezes não vindas de cardeais diretamente envolvidos.

"É uma nova e revolucionária fase da história do jornalismo: fase mágica", define com ironia Giancarlo Zizola, ensaísta e estudioso de Vaticano, autor de diversos livros sobre a sucessão papal e o conclave.

Ele diz que, diante da impossibilidade de obter informações diretas, visto que os cardeais aceitaram a imposição do silêncio, a mídia faz conjeturas e especulações.

Quem justifica a escolha de um italiano por suas habilidades diplomáticas e conhecimento da "máquina" do Vaticano, é desmentido por aqueles que indicam a internacionalização da igreja como irreversível.

O critério de eleger um papa dando preferência a uma região diferente do mundo de cada vez, na opinião de d. Cláudio Hummes, em entrevista publicada neste domingo na primeira página de Il Sole 24 Ore, seria "uma distorção absurda".

Segundo ele, assim, o conclave perderia sua característica.

"O conclave deve escolher o homem considerado como o mais rico em virtudes evangélicas e carisma para carregar a cruz do papado. Não é importante de onde vem, mas sua experiência de igreja e a qualidade espiritual", definiu d. Claudio.

Divisões

O nome do arcebispo de São Paulo está na lista dos 20 mais citados para suceder João Paulo 2º, mas nos últimos dias, perdeu destaque.

Não houve, até agora, confirmação de coalizões de cardeais por área geográfica.

Os alemães estariam divididos em torno de candidatos diferentes, assim como os norte-americanos e os próprios italianos.

Os Estados Unidos e a Alemanha, dizem os observadores, têm uma forte influência no conclave também, porque são os maiores contribuintes financeiros do Vaticano.

A Alemanha possui seis cardeais eleitores. Os Estados Unidos, 11. O Brasil, mesmo sendo, segundo as estatísticas, o país com maior população católica do mundo, possui apenas quatro.

Apesar das especulações e rumores, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse que, durante as reuniões dos cardeais, nenhum nome foi citado para a sucessão.

As discussões foram sobre os temas e os desafios do futuro pontificado, segundo ele.

'Neoconservador'

Para o vaticanista do semanário Espresso, Sandro Magister, até agora não foi apresentado um projeto bem delineado e de qualidade, que seja uma alternativa ao de Ratzinger e Camillo Ruini - presidente da Conferência Episcopal Italiana e vigário de Roma.

Os dois estariam à frente do que Magister define como grupo neoconservador, com uma pauta bem precisa: retomar o controle do governo da igreja, com nova campanha missionária, limpar a "sujeira" apontada por Ratzinger no interior da igreja - que ele definiu como um "barco prestes a afundar" -, reforçar a doutrina e a moral do clero e sobretudo se concentrar no desafio da cultura leiga que se afasta de Deus e da vida.

O vaticanista não vê programas, mas apenas três objeções a esta linha.

Uma delas, a que dá prioridade à justiça social --com Hummes e Maradiaga-- teria apoio fraco no conclave, na avaliação de Magister.

O grupo que é contrário ao celibato e a favor da participação das mulheres na igreja e da comunhão aos divorciados --com o apoio de Martini, Danneels e do norte-americano Mahony-- também não teria chances, segundo ele.

Em terceiro, a linha dos moderados, com os italianos Giovanni Battista Re, Angelo Sodano e Crescenzio Sepe, rivais entre si mas unidos na oposição a Ratzinger, de acordo com sua análise.

Qualquer que seja o resultado, não haverá provas das votações.

As cédulas eleitorais e as anotações dos cardeais são queimadas no final de cada turno de votação na estufa que lança a fumaça branca ou preta, que avisa se o novo papa foi eleito ou não.

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