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19/04/2005 - 16h15

Perda de fiéis e falta de padres desafiam igreja no Brasil

DIEGO TOLEDO
da BBC Brasil, em São Paulo

A reversão de uma tendência de perda de fiéis e a falta de padres para ministrar a fé católica no país são os desafios que a igreja terá de enfrentar no Brasil sob a liderança do papa Bento 16.

Apesar de ser o maior país católico do mundo, com mais de 125 milhões de fiéis, o Brasil assistiu nos últimos anos a uma queda no número de adeptos da religião.

Segundo dados do IBGE, a população católica no país caiu de quase 100% em 1950 para 73% em 2000.

Com números diferentes, o Vaticano admite que está perdendo espaço no Brasil. Uma pesquisa do Escritório Central de Estatísticas da Igreja diz que os batizados eram 90,1% da população brasileira em 1978 e passaram a ser 85,51% em 2003.

"A igreja está perdendo fiéis, mais do que para os evangélicos, para os não crentes", afirma o teólogo Fernando Altemeyer Jr., ouvidor da PUC-SP.

"A maior parte dos católicos, quase 6 milhões na última década, saiu da igreja para igreja nenhuma."

"Aqui no Brasil, algumas regiões são atendidas por pessoas leigas porque há poucos padres", diz o cientista político Dermi Azevedo.

"Muitas pessoas não se tornam descrentes, mas se tornam não praticantes", acrescenta ele.

"Desse modo, não apenas deixam de freqüentar os templos regularmente como deixam de contribuir financeiramente para a manutenção das atividades da igreja."

Déficit histórico

Assim como Altemeyer e Azevedo, o teólogo, padre e historiador José Oscar Beozzo aponta a falta de padres como um problema para a Igreja Católica no Brasil.

"A Igreja Católica tem um déficit histórico de capacidade de atender [os fiéis]", afirma Beozzo.

"A Assembléia de Deus tem 60 mil pastores no Brasil para atender 8,5 milhões de fiéis. A Igreja Católica tem pouco mais de 15 mil padres para atender 130 milhões."

Dermi Azevedo credita a perda de fiéis pela Igreja Católica a uma série de fatores: a falta de padres, o avanço do indiferentismo religioso e o auge do processo de urbanização, com a conseqüente queda na qualidade de vida nas cidades grandes.

"Em um espaço de 50 anos, você tinha 80% da população no campo. Hoje, você tem mais de 80% nas cidades", comenta Beozzo.

"A Igreja Católica não tinha uma infra-estrutura nas cidades."

Altemeyer concorda e aponta a necessidade de acompanhar a velocidade da urbanização com pessoal adequado como um dos principais desafios da igreja no Brasil.

"O Brasil precisa imediatamente de algo em torno de 400 mil padres", calcula. "Isso, portanto, exigirá uma reforma na maneira de compreender o tipo do padre e o modelo como se forma. Esse modelo de sete anos em seminário, com duas faculdades e celibatário, possivelmente terá de ser repensado", conclui Altemeyer.

Mudanças

Para Dermi Azevedo, a perda de fiéis também pode servir de argumento para aqueles que defendem a revisão de antigas normas da Igreja Católica.

"Essa correlação desigual entre a demanda dos fiéis e a oferta de padres faz com que isso seja um fator de pressão em favor tanto da ordenação de mulheres como do reaproveitamento de padres casados", afirma.

Na opinião de Fernando Altemeyer, a igreja não pode deixar de criticar questões tratadas com "veleidade", mas deve discutir com mais lucidez temas como a utilização de anticoncepcionais modernos.

"A maior parte das católicas brasileiras não segue os métodos que a igreja propõe", diz o teólogo.

"Isso gerou uma esquizofrenia moral: diz-se uma coisa e se faz outra. Isso não poderá persistir."

Já o escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, afirma que, se quiser evitar a perda de mais fiéis, a liderança católica precisa mudar.

"Se o novo papa for avesso a novas tendências, dificilmente a igreja passará por uma renovação, e acontecerá com ela o que tem acontecido com os templos católicos na Europa, onde tenho encontrado muito mais turistas do que fiéis."

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