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20/04/2005 - 18h18

Papa reforçará conservadores, diz Frei Betto

DIEGO TOLEDO
da BBC Brasil, em São Paulo

O escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, afirmou nesta quarta-feira, em entrevista à BBC Brasil, que a Igreja Católica "deu um passo atrás" ao eleger o cardeal alemão Joseph Ratzinger, agora papa Bento 16, como novo pontífice.

"Ele vai reforçar os setores mais conservadores da nossa Igreja, sobretudo no que concerne a nomeação de novos bispos e cardeais", diz o escritor. "E isso possivelmente vai afetar o trabalho das comunidades eclesiais de base desencadeado no Brasil nos últimos 40 anos."

Frei Betto, que definiu a eleição do novo papa como "uma escolha infeliz", também manifestou preocupação com as possíveis decisões do pontífice --"o único e último monarca absoluto do Ocidente", nas palavras do frade dominicano.

"O papa pode fazer tudo", comenta o escritor. "O cardeal Ratzinger disse que, com exceção do catolicismo, todas as religiões são imperfeitas. Isso me soa como uma coisa muito grave. Eu peço a Deus que Bento 16 contradiga o cardeal Ratzinger", acrescentou Frei Betto.

Novo estilo

Apesar das ressalvas de Frei Betto ao papa Bento 16, o teólogo Fernando Altemeyer Jr., ouvidor da PUC-SP, diz acreditar que o perfil conservador atribuído ao cardeal Ratzinger não será tão evidente no novo pontífice.

"Ele trocou de lugar. Creio que, agora como papa, ele será completamente diferente no estilo do que como cardeal", afirma Altemeyer, que diz esperar um pontificado "de diálogo, abertura e maior sensibilidade".

Na opinião do teólogo, a possibilidade de reformas em algumas das mais contestadas regras da Igreja Católica vai depender de como Bento 16 vai "harmonizar as posições duras e conservadoras que manteve durante 21 anos e como ele vai olhar a realidade".

"Obviamente, ele não será um revolucionário, mas poderá pelo menos perceber que existe uma grande dicotomia entre o que a Igreja prega e o que os cristãos comuns, especialmente os jovens, vivem", avalia.

Viagens e tensão

Fernando Altemeyer diz ainda que, mesmo sem realizar tantas viagens quanto João Paulo 2º, o novo papa pode abrir novos horizontes para a Igreja Católica.

"A relação com o papa é também televisiva, midiática, e isso ele pode usar, embora seja um homem tímido", afirma o teólogo. "Mas ele tem pelo menos duas grandes visitas a serem feitas, que são aquelas que o papa João Paulo 2° não fez: a ida à Rússia e à China."

"Se fizer essas duas, ele já terá feito um enorme serviço de unidade para o mundo e de interlocução com esses dois atores planetários onde até agora a Igreja não conseguiu passar da porta", acrescenta o professor da PUC-SP.

Quanto a um possível embate entre a Igreja e as políticas de saúde pública do governo Lula, que incluem uma norma que facilita o aborto em casos de estupro, Altemeyer afirma que as divergências independem da atuação do novo papa.

"Esse choque já existe, e não é com o Vaticano, é com os próprios bispos e cardeais do Brasil, que ficaram profundamente incomodados com essa ampliação, por exemplo, do aborto sem necessidade de boletim de ocorrência", afirma o professor da PUC-SP.

"Há uma tensão entre a prática do Ministério da Saúde, e de alguns grupos feministas, e o pensamento da hierarquia católica", diz o teólogo. "Isto é uma postura comum no meio dos bispos católicos de todo o planeta, incluindo os brasileiros. Essa tensão já existe."
 

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