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24/04/2005 - 17h26

Em missa inaugural, papa Bento 16 pede união dos cristãos

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

No sermão inaugural no Vaticano, o papa Bento 16 fez um apelo para que todos os cristãos se unam "em torno de um pastor".

A missa solene, ao ar livre, começou às 10h (horário de Roma, 5h da manhã, horário de Brasília) na Praça de São Pedro. Cerca de 500 mil fiéis estavam presentes.

Segundo Bento 16, a humanidade parece uma "ovelha perdida, que, no deserto, não encontra mais o caminho". E conforme as palavras dele, "há muitos tipos de desertos".

"O deserto da pobreza, da fome e da sede, da solidão, do abandono, da obscuridade de Deus, do esvaziamento das almas."

Tesouros

Ele afirmou também que os desertos exteriores se multiplicam no mundo porque os desertos interiores tornaram-se muito grandes.

"Por isso, os tesouros da terra não estão mais a serviço da edificação do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas estão a serviço das potências do desfrutamento e da destruiçao."

Mas, no sermão que marcou o início de seu pontificado, Joseph Ratzinger não quis falar sobre o programa que pretende desenvolver durante na chefia da Igreja Católica.

"Alguns traços do que considero meu dever foram expostos na mensagem do dia 20 de abril", disse ele, referindo-se à missa que celebrou para os cardeais que o elegeram na Capela Sistina.

Naquela cerimônia o pontífice tocou os pontos mais importantes, que deverão marcar seu papado.

Bento 16 preferiu destacar o aspecto estritamente religioso de sua missão de pastor da Igreja.

Ele falou da necessidade de seguir a mensagem de Cristo e citou João Paulo 2°, recordando o discurso do início do pontificado dele em 1978.

"O papa disse: 'não tenham medo, abram as portas a Cristo'", lembrou Bento 16.

"Ele falava forte aos potentes do mundo, que temiam perder alguma coisa."

"Certamente, Cristo teria levado embora o domínio da corrupção, da deturpação do direito, o arbítrio. Mas não levaria nada do que pertence à liberdade do homem."

Em seu discurso, em italiano, o pontífice se dirigiu a todos, pedindo oração e ajuda para carregar o peso de sua missão.

"Neste momento, eu, fraco servidor de Deus, devo assumir este dever que supera qualquer capacidade humana", disse Bento 16.

A doença e a morte do papa Joao Paulo 2°, além da participação mundial em torno de seu sofrimento, provaram, segundo o pontífice, que a Igreja é viva.

Grutas

A cerimônia que inicia de fato o pontificado de Bento 16 durou duas horas e foi marcada pela tradicional entrega do pálio de pastor e do anel de pescador.

Mas começou nas grutas vaticanas, no subsolo da Basílica, diante do túmulo de São Pedro, o primeiro papa.

Bento 16 desceu até lá acompanhado pelos cardeais. Ele rezou e, depois, em procissão, todos subiram para a Basílica vazia, levando o pálio e o anel, que tinham ficado diante do sepulcro de São Pedro desde o dia anterior.

Esses dois objetos são o símbolo do sucessor do apóstolo Pedro e marcaram o discurso do papa, interrompido diversas vezes pelos aplausos.

O pálio é uma espécie de estola de lã, com cinco cruzes de seda vermelha aplicadas, representando as chagas de Jesus.

Ele recorda que o papa é o pastor do rebanho de fiéis da Igreja Católica.

O outro símbolo do papado é o anel de pescador. Feito em ouro, leva a incisão da imagem de São Pedro, no barco, jogando a rede de pesca.

A mesma imagem é gravada no timbre que o papa usará para lacrar os documentos e cartas oficiais do pontificado.

O pálio de pastor, colocado em seus ombros, é o simbolo da vontade de Deus, disse o papa.

"Mas representa também a ovelha perdida ou doente que o pastor coloca em seus ombros e conduz até a água da vida."

Bento 16 pediu a prece de todos: "orem para que eu não fuja com medo diante dos lobos (...) e orem também uns para os outros".

Em seguida, o papa referiu-se ao anel como símbolo da função de pescador de almas, missão que Jesus conferiu a Pedro e que ele transmite a seus sucessores.

Ele disse que é preciso levar os homens para fora do mar salgado de todas as alienações.

"Só quando encontramos Cristo, sabemos o que é a vida", disse o pontífice.

"Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é fruto de um pensamento de Deus."

O papa fez um apelo final, usando mais uma vez as palavras de seu predecessor, dirigindo-se especialmente aos jovens, e pedindo que abram as portas a Cristo.

"Quero dizer com grande força e convicção, a partir da experiência de uma longa vida pessoal, caros jovens, não tenhais medo de Cristo. Ele não tira nada e doa tudo. Quem se doa a ele, recebe cem vezes mais. Abram a porta a Cristo e encontrarão a vida verdadeira."

O governo da Itália colocou em prática uma estratégia militar semelhante à adotada para o funeral do papa João Paulo 2º, com 10 mil policiais nas ruas de Roma e aviões da Força Aérea e um jato de vigilância da Otan patrulhando os céus.

Entre as medidas de segurança tomadas também estavam o envio de mísseis anti-aéreos e novamente o espaço aéreo de Roma foi fechado.

Milhares de alemães chegaram à Roma nos últimos dias para presenciar a subida do primeiro alemão ao trono de São Pedro desde o século 11.

Por isso, voluntários do norte da Itália, áreas em que o alemão é falado, também estavam na cidade para ajudar estes visitantes.

Chefes de Estado e o irmão mais velho de Bento 16, o reverendo Georg Ratzinger, também participaram da missa solene.

Antes da celebração da missa, os cardeais cumprimentaram o novo papa com o "Beijo da Paz".
 

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