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29/04/2005
-
18h50
da BBC Brasil
Acabou a espera. Na semana que termina, o Iraque ganhou um novo governo, baseado na composição política fruto das eleições de 30 de janeiro.
Mas nem por isso o país teve uma semana tranqüila. Nesta terça-feira, o mais importante general dos Estados Unidos, Richard Meyers, dizia que os insurgentes iraquianos ainda demonstravam a mesma capacidade de realizar ataques que tinham um ano atrás.
No dia seguinte, quando o novo primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari concluía sua lista de ministros, os insurgentes comprovaram esse potencial. Em um ataque inédito, mataram pela primeira vez um parlamentar eleito em janeiro.
A deputada Lamiya Abed Khadawi, integrante da coalizão do ex-primeiro-ministro interino Iyad Allawi, foi morta a tiros ao atender a porta de sua casa.
O assassinato não interrompeu o avanço das negociações políticas. Após três meses, as principais divergências foram aparentemente vencidas, e, nesta quinta-feira, as novas lideranças iraquianas foram aprovadas pelo Parlamento do país.
Al Jaafari, membro xiita da coalizão vencedora nas eleições, comandará um gabinete de 37 ministros. A maioria deles é xiita, mas os curdos também ganharam sua fatia de poder.
Uma dúvida, porém, persiste. Não se sabe quem ocupará os sete cargos reservados para a comunidade sunita, que em sua maioria boicotou as eleições.
Aos sunitas, que têm apenas 17 das 275 cadeiras da Assembléia iraquiana, foi oferecida a importante pasta da Defesa, mas eles reclamaram da pouca visibilidade dos outros ministérios.
O novo governo iraquiano (assim como os Estados Unidos) sabe que a presença de sunitas no governo é fundamental para que a insurgência, predominantemente sunita, seja contida.
Mas, pela forma com que o novo governo foi recebido, as perspectivas de redução da violência no curto prazo não são animadoras.
Nesta sexta-feira, um dia depois da celebrada formação do novo governo, quatro carros-bomba explodiram em Bagdá (capital), numa ação coordenada, matando 30 pessoas e ferindo 90.
Como lembrou o general Meyers, apesar dos avanços no campo político, no campo de batalha iraquiano pouca coisa mudou.
O Iraque no Reino Unido
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, passou a semana tentando discutir suas propostas para a economia e os serviços públicos do país, visando as eleições do dia 5.
Mas o fantasma do Iraque voltou a rondar cada movimento seu. Logo no início da semana, políticos de oposição, principalmente o liberal-democrata Charles Kennedy, voltaram a dizer que a guerra no Iraque abalou a confiança do público no premiê.
Nesta quarta-feira à noite, o famoso parecer de 2003 do procurador-geral Peter Goldsmith, em que ele alertava para dúvidas sobre a legalidade de um ataque ao Iraque, vazou para a imprensa.
No dia seguinte, o governo decidiu publicar na íntegra o documento, que por dois anos preferiu manter sigiloso. O parecer, escrito dez dias antes de Goldsmith dizer ao gabinete de ministros que uma guerra contra Saddam Hussein seria legal, trazia uma opinião menos conclusiva sobre o tema.
Para opositores, o procurador-geral mudou de idéia por algum motivo, por exemplo uma pressão do governo, que buscava obter o apoio à guerra na Câmara dos Comuns.
O conservador Michael Howard, líder do segundo maior partido do Parlamento, usou o tema para atacar pessoalmente o primeiro-ministro, acusado por ele de não ter dito a verdade sobre o Iraque.
Tony Blair, que sempre negou ter pressionado o procurador-geral ou mentido, foi obrigado a fazê-lo mais uma vez neste final de campanha.
Na sexta-feira, Blair estava de volta ao palanque trabalhista falando sobre economia e planos de governo, torcendo para que o Iraque não volte a assombrá-lo nas urnas.
O Iraque na Itália
O premiê Silvio Berlusconi passou dias ainda mais difíceis do que o de seu colega britânico. Um ano antes das eleições italianas, Berlusconi lutava para sobreviver no cargo até o pleito.
Vencida a batalha para manter-se como primeiro-ministro, com uma nova composição de governo, Berlusconi viu-se novamente frente à frente com uma crise ligada ao Iraque.
Nesta segunda-feira, um relatório do Exército dos Estados Unidos inocentava os soldados envolvidos na morte do agente italiano Nicola Calipari, vítima de tiros americanos durante a operação de salvamento da refém Giuliana Sgrena.
O caso causou comoção entre os italianos, que na época foram às ruas de Roma aos milhares para exigir justiça.
Ao ser informado do conteúdo do relatório americano, o governo da Itália afirmou que a investigação ainda não estava concluída.
Nesta sexta-feira, a crise entre Washington e Roma por causa do incidente ficou claramente exposta: os dois governos informaram que não haviam conseguido chegar a um consenso sobre a investigação.
A população italiana foi majoritariamente contrária à guerra contra Saddam Hussein, mas Berlusconi foi um dos principais aliados europeus de George W. Bush no conflito e ainda mantém 3.000 tropas italianas no Iraque.
Estados Unidos e Itália reafirmaram sua aliança em relação ao Iraque. Mas a morte de Nicola Calipari, agora possivelmente sem a condenação de quem disparou os tiros fatais, tornou ainda mais difícil para o premiê italiano continuar com sua empreitada em terras iraquianas.
Especial
Leia mais sobre o Iraque sob tutela
Leia o que já foi publicado sobre Ibrahim al Jaafari
Leia o que já foi publicado sobre Nicola Calipari
Análise: Sob novo governo, Iraque ainda incomoda o Ocidente
ROGÉRIO SIMÕESda BBC Brasil
Acabou a espera. Na semana que termina, o Iraque ganhou um novo governo, baseado na composição política fruto das eleições de 30 de janeiro.
Mas nem por isso o país teve uma semana tranqüila. Nesta terça-feira, o mais importante general dos Estados Unidos, Richard Meyers, dizia que os insurgentes iraquianos ainda demonstravam a mesma capacidade de realizar ataques que tinham um ano atrás.
No dia seguinte, quando o novo primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari concluía sua lista de ministros, os insurgentes comprovaram esse potencial. Em um ataque inédito, mataram pela primeira vez um parlamentar eleito em janeiro.
A deputada Lamiya Abed Khadawi, integrante da coalizão do ex-primeiro-ministro interino Iyad Allawi, foi morta a tiros ao atender a porta de sua casa.
O assassinato não interrompeu o avanço das negociações políticas. Após três meses, as principais divergências foram aparentemente vencidas, e, nesta quinta-feira, as novas lideranças iraquianas foram aprovadas pelo Parlamento do país.
Al Jaafari, membro xiita da coalizão vencedora nas eleições, comandará um gabinete de 37 ministros. A maioria deles é xiita, mas os curdos também ganharam sua fatia de poder.
Uma dúvida, porém, persiste. Não se sabe quem ocupará os sete cargos reservados para a comunidade sunita, que em sua maioria boicotou as eleições.
Aos sunitas, que têm apenas 17 das 275 cadeiras da Assembléia iraquiana, foi oferecida a importante pasta da Defesa, mas eles reclamaram da pouca visibilidade dos outros ministérios.
O novo governo iraquiano (assim como os Estados Unidos) sabe que a presença de sunitas no governo é fundamental para que a insurgência, predominantemente sunita, seja contida.
Mas, pela forma com que o novo governo foi recebido, as perspectivas de redução da violência no curto prazo não são animadoras.
Nesta sexta-feira, um dia depois da celebrada formação do novo governo, quatro carros-bomba explodiram em Bagdá (capital), numa ação coordenada, matando 30 pessoas e ferindo 90.
Como lembrou o general Meyers, apesar dos avanços no campo político, no campo de batalha iraquiano pouca coisa mudou.
O Iraque no Reino Unido
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, passou a semana tentando discutir suas propostas para a economia e os serviços públicos do país, visando as eleições do dia 5.
Mas o fantasma do Iraque voltou a rondar cada movimento seu. Logo no início da semana, políticos de oposição, principalmente o liberal-democrata Charles Kennedy, voltaram a dizer que a guerra no Iraque abalou a confiança do público no premiê.
Nesta quarta-feira à noite, o famoso parecer de 2003 do procurador-geral Peter Goldsmith, em que ele alertava para dúvidas sobre a legalidade de um ataque ao Iraque, vazou para a imprensa.
No dia seguinte, o governo decidiu publicar na íntegra o documento, que por dois anos preferiu manter sigiloso. O parecer, escrito dez dias antes de Goldsmith dizer ao gabinete de ministros que uma guerra contra Saddam Hussein seria legal, trazia uma opinião menos conclusiva sobre o tema.
Para opositores, o procurador-geral mudou de idéia por algum motivo, por exemplo uma pressão do governo, que buscava obter o apoio à guerra na Câmara dos Comuns.
O conservador Michael Howard, líder do segundo maior partido do Parlamento, usou o tema para atacar pessoalmente o primeiro-ministro, acusado por ele de não ter dito a verdade sobre o Iraque.
Tony Blair, que sempre negou ter pressionado o procurador-geral ou mentido, foi obrigado a fazê-lo mais uma vez neste final de campanha.
Na sexta-feira, Blair estava de volta ao palanque trabalhista falando sobre economia e planos de governo, torcendo para que o Iraque não volte a assombrá-lo nas urnas.
O Iraque na Itália
O premiê Silvio Berlusconi passou dias ainda mais difíceis do que o de seu colega britânico. Um ano antes das eleições italianas, Berlusconi lutava para sobreviver no cargo até o pleito.
Vencida a batalha para manter-se como primeiro-ministro, com uma nova composição de governo, Berlusconi viu-se novamente frente à frente com uma crise ligada ao Iraque.
Nesta segunda-feira, um relatório do Exército dos Estados Unidos inocentava os soldados envolvidos na morte do agente italiano Nicola Calipari, vítima de tiros americanos durante a operação de salvamento da refém Giuliana Sgrena.
O caso causou comoção entre os italianos, que na época foram às ruas de Roma aos milhares para exigir justiça.
Ao ser informado do conteúdo do relatório americano, o governo da Itália afirmou que a investigação ainda não estava concluída.
Nesta sexta-feira, a crise entre Washington e Roma por causa do incidente ficou claramente exposta: os dois governos informaram que não haviam conseguido chegar a um consenso sobre a investigação.
A população italiana foi majoritariamente contrária à guerra contra Saddam Hussein, mas Berlusconi foi um dos principais aliados europeus de George W. Bush no conflito e ainda mantém 3.000 tropas italianas no Iraque.
Estados Unidos e Itália reafirmaram sua aliança em relação ao Iraque. Mas a morte de Nicola Calipari, agora possivelmente sem a condenação de quem disparou os tiros fatais, tornou ainda mais difícil para o premiê italiano continuar com sua empreitada em terras iraquianas.
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