Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/05/2005 - 10h31

Para argentinos, Brasil deve "pagar" por status de líder

MÁRCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

Se o Brasil quer ser o líder da região, deve pagar um preço por esse status. Esse é o entendimento do governo do presidente Néstor Kirchner e dos industriais argentinos.

"Brasil e Argentina necessitam [um do outro] e aqui ninguém discute a importância do Brasil e seu papel no contexto mundial", afirmou Eduardo Sigal, subsecretário de Integração Econômica da Chancelaria Argentina (equivalente ao Itamaraty).

"Mas isso não pode ser gratuito ou às custas dos outros sócios do Mercosul", acrescentou o subsecretário, em entrevista a uma emissora de televisão argentina. O mesmo discurso tem sido feito pelos industriais do país.

"Quem mais ganhou com o Mercosul? O Brasil. Então, já não discutimos sua estratégia permanente para ser o líder da região. Mas, sim, o que recebemos em troca, como compensação. Até aqui, só estamos tendo prejuízos", diz um assessor da UIA (União Industrial Argentina).

"Se o Brasil quer mesmo ser líder, deve abrir a carteira, ajudando os parceiros comerciais a também avançarem", conclui o representante da UIA.

Comércio bilateral

O argumento dos vizinhos é reforçado pelos números do comércio bilateral entre Brasil e Argentina.

Apesar da diferença de câmbio entre o real e o peso frente ao dólar ser mais favorável para as exportações argentinas, a balança comercial entre os dois países tem confirmado melhor tendência para o Brasil, como reconheceu o secretário de Comércio Internacional da Chancelaria argentina, Alfredo Chiaradia.

De acordo com a consultoria Abeceb.com, especializada no comércio entre os dois países, o déficit comercial da Argentina com o Brasil duplicou em abril frente ao mesmo mês do ano passado.

Em 2004, as importações argentinas de produtos brasileiros subiram 61,6% e chegaram a US$ 7,3 bilhões. Na mão inversa, no mesmo período, as exportações argentinas para o Brasil alcançaram US$ 5,5 bilhões, com uma alta de 19,2% na comparação com o ano anterior.

Os números parecem afetar a relação entre os presidentes Lula e Kirchner, como reconheceram interlocutores do governo argentino. "Fernando Henrique e Carlos Menem pensavam bem diferente, mas se davam bem", afirmam. "O mesmo não percebemos entre Lula e Kirchner."

Generosidade

Na semana passada, em entrevista à imprensa brasileira, Chiaradia já afirmara que o sócio maior (o Brasil) deveria ser "mais generoso" com os demais integrantes do Mercosul.

"Uma sociedade deve beneficiar todos os sócios e precisa equilibrar questões como os incentivos fiscais dados no Brasil para as empresas que ali se instalarem", disse o secretário de Comércio Internacional da Chancelaria argentina.

Entre outros "benefícios" esperados pela Argentina estão desde a possibilidade de que as empresas argentinas passem a receber créditos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) até limitações de incentivos fiscais dos Estados brasileiros às empresas que neles se instalem.

O entendimento entre negociadores brasileiros é que, mesmo que o Brasil "abra a carteira", como dizem os industriais do país vizinho, a Argentina não apoiará a campanha do governo brasileiro por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Para completar, os argentinos também não estão satisfeitos com a aquisição por parte de empresas brasileiras de grandes empresas argentinas.

Depois da desvalorização do peso, em 2002, a Brahma comprou a cervejaria Quilmes, a Petrobras a Perez Companc e, nos últimos dias, houve o anúncio de que a Camargo Correa comprou a argentina Loma Negra.

Também nestes casos, os industriais argentinos argumentam que a política de crédito do Brasil acaba favorecendo também a ampliação das companhias brasileiras, além das fronteiras.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Mercosul
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página