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13/05/2005 - 17h30

A Semana: Novo Iraque parece ser ainda mais explosivo

ROGÉRIO SIMÕES
da BBC Brasil

Duas semanas se passaram desde que o governo liderado pelo xiita Ibrahim Jaafari foi aprovado pelo Parlamento iraquiano, dando início ao que, para os mais otimistas, seria uma nova fase para o país.

Mas o cotidiano nesse novo Iraque parece estar sendo ainda mais explosivo do que antes. Na semana que termina, a violência se agravou ainda mais, acumulando um total de 600 mortes desde a formação do novo governo.

A semana começou com o fim do impasse em torno de alguns cargos do gabinete ministerial que ainda faltavam ser preenchidos.

Depois da recusa de um sunita em participar do governo, outros quatro aceitaram, entre eles Saadoun al-Dulaimi, responsável pela pasta da Defesa.

Na segunda-feira, Dulaimi acordou com a notícia de que os Estados Unidos estavam dispostos a apertar o cerco contra insurgentes na região oeste do Iraque.

O comando das forças dos Estados Unidos anunciou ter matado 75 pessoas identificadas pelos americanos como insurgentes.

A resposta dos rebeldes veio no dia seguinte, com o seqüestro do governador da Província de Anbar, a maior do Iraque e onde os insurgentes têm operado com mais intensidade nos últimos dois anos.

Na quarta-feira, a ação de seqüestradores deu lugar à dos militantes suicidas. Em três ataques em pontos diferentes do país, cerca de 60 pessoas foram mortas, indicando que a tarefa do novo ministro da Defesa é mesmo gigantesca.

A violência não parou por aí: na quinta-feira a explosão de um carro-bomba em um mercado em Bagdá matou pelo menos 12 civis iraquianos. Os rebeldes ainda assassinaram a tiros um general do Exército iraquiano e um coronel da polícia.

Analistas dos dois lados do Atlântico ainda tentam explicar o que está por trás do mais recente aumento da violência na guerra iraquiana, sem conseguir identificar uma razão específica.

Muitos acreditam que combantentes islâmicos estrangeiros possam estar por trás de grande parte das ações. Por isso os Estados Unidos continuam tentando encontrar o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi ou pelo menos desestabilizar sua rede.

Outros ainda acreditam que o problema esteja ligado às profundas divisões da sociedade iraquiana, com combatentes sunitas engajados em desestabilizar o novo regime, dominado por representantes da maioria xiita.

Enquanto isso, o prazo para que esses grupos sejam vencidos vai diminuindo a cada dia.

A opinião pública dos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e em outros países aliados de Washington, como a Itália, gostaria de ver o Iraque pacificado até o final do ano, quando novas eleições estão previstas, em tese sob as normas de uma futura nova Constituição.

Mas esse cenário segue sendo tão distante e incerto quanto era meses atrás.

Vitorioso, mas derrotado

A Semana não estava aqui na semana passada para registrar a vitória do Partido Trabalhista nas eleições britânicas, que deu ao primeiro-ministro Tony Blair um histórico terceiro mandato consecutivo.

Foi a primeira vez que um político trabalhista conseguiu tal feito na Grã-Bretanha, mas a comemoração foi tão amarga que pouco lembrava uma conquista.

Depois de admitir que aprendeu muito ouvindo a voz dos eleitores em sua campanha pelo país, na semana que termina Blair voltou ao trabalho de premiê, à frente de um novo Parlamento.

Mas a semana começou mal para o primeiro-ministro. Já no domingo, colegas de partido vieram a público para dizer que Blair deveria renunciar ao cargo e permitir que o ministro das Finanças, Gordon Brown, assuma a liderança do partido e, conseqüentemente, o posto de premiê.

Tudo porque, na visão da ala esquerdista do Partido Trabalhista, Blair foi o responsável pela queda no número de parlamentares obtido pela legenda. Os trabalhistas, afinal, apesar da vitória, tiveram sua maioria parlamentar reduzida em cerca de cem cadeiras.

A vitória do partido teria sido na verdade uma derrota do premiê, que teria sido punido pelo eleitorado principalmente por causa da guerra no Iraque.

Mas Blair rejeitou prontamente o argumento. Na quarta-feira, em reunião com os parlamentares colegas de partido, prometeu continuar no cargo e disse que, se o partido se mantiver unido, vencerá a quarta eleição seguida. Se Blair estará no comando até lá é algo que muitos duvidam.

Na mão dos europeus

O Brasil tentou duas vezes. Primeiro, lançou o embaixador Luís Felipe Seixas Corrêa, que saiu na primeira rodada da disputa. Depois apoiou o candidato uruguaio, Carlos Perez del Castillo.

Mas na sexta-feira veio o resultado que selou uma dupla derrota brasileira: o francês Pascal Lamy será o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio.

Perez del Castillo não conseguiu apoio suficiente na comissão que analisou as duas candidaturas restantes, e o Uruguai foi levado a retirar seu nome, consolidando a vitória de Lamy.

O francês tinha o apoio formal da União Européia e é visto como um representante dos interesses dos países desenvolvidos.

Mas o cargo de diretor-geral da OMC não é como o de um presidente: Lamy terá de ser, em tese, um mediador e não um realizador de programas ou defensor dos interesses de um grupo específico.

Sua capacidade de encontrar soluções para as difíceis negociações comerciais será testada nos próxmos meses, quando os membros da OMC tentarão chegar a um acordo sobre o futuro da Rodada de Doha.

A história deve se repetir: os países desenvolvidos querendo que os restantes liberalizem seus setores de serviço e indústria, enquanto nações em desenvolvimento exigem a liberalização do setor agrícola dos mais poderosos.

O Brasil queria que a condução dessa negociação fosse feita por um brasileiro. Como segunda opção, concordava que fosse um outro latino-americano. Perdeu nas duas e agora terá de aceitar um europeu à frente da OMC.
 

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