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17/08/2005 - 11h02

Revelações sobre morte de Jean são "chocantes", diz advogada

da BBC Brasil

Uma advogada que trabalha para a família do brasileiro Jean Charles de Menezes no Reino Unido, Harriet Wistrich, disse nesta quarta-feira que "são chocantes" as novas revelações sobre a morte do eletricista -- divulgadas por uma rede de TV.

Divulgação/Reuters
Imagem de Jean Charles (à esq.), confundido com o suspeito de terrorismo Hussain Osman
Falando à BBC, Wistrich disse que as informações deixam claro que Jean "não estava fazendo nada que pudesse levantar qualquer suspeita". "Infelizmente, ele morava em um prédio que estava sendo vigiado pela polícia e tinha a pele mais escura."

Na terça-feira, a rede britânica ITV News divulgou que teve acesso a documentos e fotografias que trazem detalhes sobre o incidente com o brasileiro, morto pela polícia britânica no dia 22 de julho.

Segundo a ITV News, os documentos e as fotografias mostram que o brasileiro não estava vestindo uma jaqueta volumosa, como a polícia havia divulgado anteriormente, mas, sim, uma jaqueta jeans.

Ele também não estaria carregando uma mochila nem teria pulado os bloqueios da estação do metrô de Stockwell (sul de Londres), onde foi morto a tiros.

Atirar para matar

Segundo Wistrich, o vazamento dos documentos fez com que a família ficasse sabendo sobre os novos fatos pela imprensa.

A Comissão Independente de Queixas sobre a Polícia (IPCC, na sigla em inglês), um órgão que investiga possíveis erros em ações policiais, disse que a família "deve estar sofrendo por ter recebido as informações pela televisão".

Em declaração, a IPCC disse que já havia deixado claro "que não faria especulações ou divulgaria informações parciais sobre a investigação, e que outros também deveriam agir dessa maneira".

A advogada Harriet Wistrich afirmou que ainda não foi procurada pela polícia após as revelações.

"Esses novos fatos levantam questões sobre a política do atirar para matar ", diz ela. "Será que essa política deve continuar? Porque pudemos perceber que ela pode ser usada de maneira perigosamente errada."

De acordo com a emissora britânica ITV, o brasileiro teria agido normalmente, inclusive teria pego um jornal de distribuição gratuita para ler, e teria apenas corrido após a chegada do metrô na plataforma.

"Não havia nada na aparência de Jean Charles que pudesse levantar suspeita de que ele estava carregando explosivos. Ele não estava carregando uma mochila e estava simplesmente vestindo uma jaqueta jeans", afirma a advogada.

"Mas, se a polícia estava certa de que ele era o suspeito, por que deixaram ele entrar no ônibus e depois no metrô? E era necessário atirar nele? Não havia qualquer indício de que ele tentaria realizar um ataque."

Ela também afirmou que possivelmente a informação dada ao patologista que realizou a autópsia no corpo de Jean estava incorreta.

Polícia

O ex-comandante da Scotland Yard John O'Connor disse à BBC que as revelações devem causar "grande vergonha" ao chefe da polícia de Londres, Ian Blair.

Segundo O'Connor, Blair poderá ser pressionado para deixar o cargo.

Charles Shoebridge, um especialista antiterrorismo, disse que as novas informações obrigam uma revisão da estrutura de comando da polícia de Londres.

Ele diz que não existem dúvidas de que naquele dia houve uma falha em todo o sistema operacional e qualquer inquérito não pode olhar apenas para aqueles que puxaram o gatilho, mas também tem de se voltar para aqueles que estavam envolvidos na coleta de informações que levou à morte do brasileiro.

Investigação

A IPCC disse desconhecer a fonte de informação dos supostos documentos vazados para a ITV News.

As informações divulgadas pela emissora britânica --que não são oficiais-- são contrárias à versão da polícia britânica, que disse que o brasileiro teria corrido e não teria obedecido a pedidos para que parasse e que, por isso, os policiais atiraram contra o que consideravam ser um suspeito.

Jean Charles de Menezes morreu com sete tiros na cabeça e um no ombro.

Uma foto publicada no website da ITV News mostra o que parece ser o corpo do brasileiro estirado no chão do vagão do metrô cercado por uma poça de sangue.

Uma das primas de Jean Charles de Menezes, Vivian Menezes, disse à BBC Brasil que a família espera a divulgação das fitas do circuito interno de televisão da estação de Stockwell, onde o brasileiro foi morto, para que o caso seja esclarecido.

Ao ser informada sobre o relatório divulgado pela rede de televisão britânica ITV News, ela disse que o documento apenas comprova o que a família de Jean Charles repetia.

"Isso a gente já sabia desde o início. Ele não tinha nenhuma jaqueta, da forma que eles estavam falando. Ele não tinha o hábito de usar roupas pesadas, nem no inverno nem no verão. Geralmente ele usava uma jaqueta jeans leve. Não acolchoada como eles disseram", afirmou, por telefone, de Gonzaga, em Minas Gerais, onde passa um tempo com sua família.

"A gente está correndo atrás de todos os fatos e não de boatos e vamos querer tudo apuradinho para fazer justiça", disse Vivian, que morava com Jean Charles e outra prima num apartamento no sul de Londres.

Outro primo de Jean Charles, Alessandro Alves, disse à BBC Brasil que a família em Gonzaga ainda está sendo informada sobre os novos desdobramentos.

Seu irmão, Alex Alves, que também morava em Londres e está passando uma temporada no Brasil, foi o encarregado de levar as informações aos pais de Jean Charles.

"Agora está provado que a gente não estava mentindo, que ele usava sempre a jaqueta jeans. Todo mundo viu agora que ele estava com a jaqueta jeans", disse.

"Aí ele entrou na estação, desceu, entrou no metrô, aí atiraram nele. Estava sentado, né? Eu penso que ou sentado, ou então pegaram ele e colocaram a cabeça dele no chão. A imagem mostra que ele estava no chão, deitado, e que em cima da poltrona estava uma poça de sangue."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Jean Charles de Menezes
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