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30/08/2005
-
08h08
da BBC Brasil, em Nova York
O presidente americano, George W. Bush, não poderia ter encontrado um cenário mais apropriado para fazer um dos seus periódicos discursos positivos sobre o Iraque. Na segunda-feira, Bush escolheu a cidade de El Mirage, no estado do Arizona, para dizer que está "muito otimista" sobre o futuro do país e minimizar as disputas sobre o projeto da Constituição iraquiana que será submetido a referendo em 15 de outubro.
O idealismo loquaz do presidente americano colide cada vez mais com a realidade ingrata do Iraque. Nos últimos dias, o esforço de Bush é usar o otimismo como uma estratégia vitoriosa e tentar convencer a opinião pública americana a ter paciência, um produto cada vez mais escasso, quando ele apregoa que o Iraque está em uma infatigável marcha democrática. É uma questão de dar tempo ao tempo. Neste meio tempo, aumentam as baixas americanas e cai a taxa de aprovação de Bush.
O presidente faz comparações fantasiosas entre o impasse constitucional de hoje no Iraque e a luta pela independência americana no século 18 e trata as divergências entre xiitas, sunitas e curdos como coisas do "processo democrático", ao estilo daquelas entre republicanos e democratas em Washington.
Há o fato concreto de que o projeto constitucional iraquiano não é o documento dos sonhos americanos. A idéia em Washington é que servisse para amarrar os interesses de xiitas, sunitas e curdos, e apontasse um caminho para neutralizar a insurgência e a retirada das tropas americanas do país. O desfecho evidenciou como cada comunidade está investindo na sua agenda sectária e religiosa e não nos ideais americanos de democracia.
Os curdos querem preservar a autonomia no norte e os xiitas buscam o mesmo no sul, com uma forte inclinação para a lei islâmica e intimidade com o Irã. Já os sunitas estão exasperados. Sem o poder centralizado dos tempos de Saddam Hussein que os beneficiava por décadas, eles resistem ao federalismo.
Bush se recusa a visualizar o cenário sombrio de muitos analistas. Para Flynt Leverett, da Brookings Institutions, em Washington, é crise política na certa. Na primeira possibilidade, os sunitas mobilizam seus partidários e impedem a ratificação da Constituição pelo voto. Na segunda, eles não conseguem somar os dois terços de votos em três províncias para abortar o projeto. Neste cenário, raciocina Leverett, é não apenas crise política, mas uma "contagem regressiva para a guerra civil".
Neste contexto, as inefáveis fontes anônimas da Casa Branca se contrapõem ao otimismo do presidente e em entrevista ao New York Times baixam as expectativas. Baixam mesmo. Dizem que a tarefa agora é manter o processo político iraquiano vivo, mesmo que a Constituição seja rejeitada em outubro, e impedir a escalada de violência sunita e de milícias xiitas.
Estas são as expectativas. Em termos concretos, o processo iraquiano parece fugir cada vez mais do controle americano. Acreditar no contrário é miragem.
Idealismo de Bush colide com realidade iraquiana
CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
O presidente americano, George W. Bush, não poderia ter encontrado um cenário mais apropriado para fazer um dos seus periódicos discursos positivos sobre o Iraque. Na segunda-feira, Bush escolheu a cidade de El Mirage, no estado do Arizona, para dizer que está "muito otimista" sobre o futuro do país e minimizar as disputas sobre o projeto da Constituição iraquiana que será submetido a referendo em 15 de outubro.
O idealismo loquaz do presidente americano colide cada vez mais com a realidade ingrata do Iraque. Nos últimos dias, o esforço de Bush é usar o otimismo como uma estratégia vitoriosa e tentar convencer a opinião pública americana a ter paciência, um produto cada vez mais escasso, quando ele apregoa que o Iraque está em uma infatigável marcha democrática. É uma questão de dar tempo ao tempo. Neste meio tempo, aumentam as baixas americanas e cai a taxa de aprovação de Bush.
O presidente faz comparações fantasiosas entre o impasse constitucional de hoje no Iraque e a luta pela independência americana no século 18 e trata as divergências entre xiitas, sunitas e curdos como coisas do "processo democrático", ao estilo daquelas entre republicanos e democratas em Washington.
Há o fato concreto de que o projeto constitucional iraquiano não é o documento dos sonhos americanos. A idéia em Washington é que servisse para amarrar os interesses de xiitas, sunitas e curdos, e apontasse um caminho para neutralizar a insurgência e a retirada das tropas americanas do país. O desfecho evidenciou como cada comunidade está investindo na sua agenda sectária e religiosa e não nos ideais americanos de democracia.
Os curdos querem preservar a autonomia no norte e os xiitas buscam o mesmo no sul, com uma forte inclinação para a lei islâmica e intimidade com o Irã. Já os sunitas estão exasperados. Sem o poder centralizado dos tempos de Saddam Hussein que os beneficiava por décadas, eles resistem ao federalismo.
Bush se recusa a visualizar o cenário sombrio de muitos analistas. Para Flynt Leverett, da Brookings Institutions, em Washington, é crise política na certa. Na primeira possibilidade, os sunitas mobilizam seus partidários e impedem a ratificação da Constituição pelo voto. Na segunda, eles não conseguem somar os dois terços de votos em três províncias para abortar o projeto. Neste cenário, raciocina Leverett, é não apenas crise política, mas uma "contagem regressiva para a guerra civil".
Neste contexto, as inefáveis fontes anônimas da Casa Branca se contrapõem ao otimismo do presidente e em entrevista ao New York Times baixam as expectativas. Baixam mesmo. Dizem que a tarefa agora é manter o processo político iraquiano vivo, mesmo que a Constituição seja rejeitada em outubro, e impedir a escalada de violência sunita e de milícias xiitas.
Estas são as expectativas. Em termos concretos, o processo iraquiano parece fugir cada vez mais do controle americano. Acreditar no contrário é miragem.
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