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12/10/2005 - 12h21

Brasil precisa de "esforço extraordinário" para continuar católico, diz Hummes

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil

Para o Brasil continuar sendo um país católico é necessário um "esforço extraordinário", na opinião do cardeal arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes.

De acordo com as informações divulgadas pelo cardeal, que está em Roma participando do sínodo dos bispos, nos últimos 14 anos o número de católicos no Brasil caiu de 83% para 67% da população.

Com intenção de sensibilizar o Vaticano e os 250 bispos, que representam dioceses do mundo todo, sobre a perda de fiéis no Brasil e na América Latina, dom Cláudio apresentou as últimas estatísticas de que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) dispõe. Ele falou numa das sessões plenárias do sínodo, que vai até o dia 23.

No discurso, que teve grande repercussão no Vaticano e na imprensa italiana, o arcebispo de São Paulo informou que há uma perda média de 1% de fiéis por ano.

"Até quando o Brasil será ainda um país católico?", perguntou dom Cláudio diante da assembléia.

"Esse processo dura 20 anos e se mantém num ritmo constante, sem previsão de se esgotar ou que haja uma reversão", declarou o cardeal em entrevista à BBC Brasil, confirmando que houve interesse e preocupação com os dados apresentados.

"Percebi isso no plenário do sínodo, o papa também estava presente", disse.

Estatísticas

As estatísticas, contudo, não impedem que o país ainda seja considerado como o que têm o maior número de católicos no mundo: 140 milhões de brasileiros se dizem católicos.

De acordo como o arcebispo de São Paulo, a maior parte dos fiéis que deixam a Igreja Católica, o fazem para ingressar nos movimentos pentecostais protestantes.

Isso acontece principalmente nos setores mais populares da sociedade. As causas desse abandono são várias, de acordo com a análise do cardeal.

A principal delas, em sua opinião, é "a incapacidade, por diversos motivos, de a Igreja Católica evangelizar plenamente todos os seus batizados". Outra é a pobreza.

"Há religiões e seitas que oferecem cura de doenças ou prosperidade em troca de dízimo", diz dom Cláudio, "famílias muito carentes, que não tem a quem recorrer, se apegam a quem promete alguma coisa".

O pluralismo que caracteriza as grandes cidades secularizadas, também é um dos motivos que levam os fiéis a deixarem a Igreja Católica, de acordo com ele.

"Principalmente nas periferias mais pobres das grandes cidades o povo precisa muito sentir o calor de sua igreja. As pessoas vivem isoladas, diante de muitas ofertas, não só de consumo material, mas também religioso", afirma o cardeal.

Solução

Segundo dom Claudio Hummes, a solução é evangelizar, conforme sugeria o papa João Paulo 2°, que chegou a dedicar uma encíclica a este tema.

No Brasil já está sendo aplicado um projeto que prevê uma obra missionária, mais que evangelizadora.

"Temos que ir ao encontro dos fiéis, de casa em casa, nas escolas, nas instituições e não apenas nas paróquias", diz o cardeal Hummes.

Boa parte desse trabalho deve ser desenvolvido por leigos, treinados para se tornarem missionários, visto que o baixo número de sacerdotes é um dos grandes problemas da Igreja Católica no Brasil e em boa parte da América Latina.

O arcebispo de São Paulo informa que, para surtir efeito, a ação deve ser constante e permanente.

"Não basta você ir na paróquia promover a evangelização, tem que sair em busca das pessoas porque as pessoas não vêm mais. A igreja tem que estar mais presente", sugere.

Ameaça

A constante ameaça das igrejas evangélicas pentecostais também foi tema de uma reunião, organizada pela CNBB no final de setembro último, em São Paulo, da qual participou o cardeal Walter Kasper --prefeito do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos.

As estatísticas que dom Cláudio Hummes divulgou durante o sínodo foram mostradas ao cardeal Kasper durante aquele encontro.

Apesar da gravidade do problema, o arcebispo de São Paulo exclui qualquer contraste direto com os evangélicos.

"Não pensamos em entrar em conflito com as outras igrejas e religiões que estão levando batizados católicos", garante. "Queremos respeitar plenamente a liberdade religiosa e de consciência, isso para a igreja católica é sagrado."

O sínodo dos bispos --o primeiro do pontificado de Bento 16-- não deverá ser decisivo para resolver a questão específica dos movimentos religiosos que tiram fiéis da Igreja Católica.

O assunto será discutido com mais atenção durante a 5ª Conferência do Episcopado Latino Americano, em Santo Domingo em 2007.

O discurso de dom Cláudio Hummes, entretanto, serviu como alerta para Vaticano, colocando em discussão a idéia de que a América Latina é uma grande reserva católica.

"A prioridade é investir na África, na Ásia ou na Europa, que está ficando descrente", comenta o arcebispo de São Paulo, "Brasil e América Latina são deixados para depois porque mesmo tendo problemas, são católicos. De repente, com essas estatísticas, eles percebem que o futuro não é tão garantido assim".

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a CNBB
  • Leia o que já foi publicado sobre d. Cláudio Hummes
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