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17/10/2005 - 12h45

Governo Bush saúda referendo iraquiano, mas está mais realista

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Com a aparente aprovação da Constituição iraquiana no sábado, o presidente americano George W. Bush rapidamente entoou a linha oficial: o país invadido há dois anos e meio deu mais um passo rumo à democracia.

A tradução para a língua política americana é a seguinte: as coisas se normalizam no Iraque e isto irá facilitar a gradual retirada das tropas americanas do país.

O desengajamento é crucial para o governo Bush, às voltas com sua mais baixa taxa de aprovação, em parte como consequência do desencanto da opinião pública americana com o Iraque.

O discurso oficial em Washington, como era de se esperar, saudou a maior participação da minoria sunita neste referendo (em contraste ao boicote nas eleições para o Parlamento provisório em janeiro) como mais um passo de transição democrática.

A idéia era justamente conter a marginalização política do setor mais beneficiado no regime de Saddam Hussein e que fornece os quadros para a insurgência. No último minuto, mudanças foram feitas no documento constitucional, sob pressão de diplomatas americanos, com o objetivo de seduzir os sunitas.

Mesmo assim, houve o rechaço sunita à Constituição, ainda considerada benéfica aos interesses xiitas e curdos, mas a secretária de Estado, Condoleezza Rice, vê luz no fim do túnel. Para ela, "os sunitas agora estão investindo no processo político. Não há mais base política para a insurgência".

No entanto, o resultado do referendo pode dividir ainda mais o país. Nas palavras de Larry Diamond, professor da Universidade de Stanford e desiludido ex-assessor das autoridades americanas de ocupação em Bagdá, "o problema fundamental é que não há consenso em torno da Constituição e uma parcela do país a rejeitou maciçamente".

Numa sociedade sem tradições democráticas, a minoria sunita pode calcular que existe cada vez menos utilidade em participar do processo eleitoral, pois ela sempre perderá no voto. Outro especialista acadêmico, Juan Cole, da Universidade de Michigan, é bem mais ácido no seu comentário.

Ele diz que "toda esta coisa é um enorme fiasco, pois a existência de um sólido bloco de oposição à Constituição realmente mina sua legitimidade e o resultado garante que a guerra de guerrilhas continue".

E em meio às saudações oficiais em Washington por mais um tijolo colocado no precário edifício de uma nova democracia, existe mais comedimento sobre as perspectivas no Iraque. Como diz o jornal New York Times na sua edição de segunda-feira, o governo Bush "quer desesperadamente equalizar construção da democracia com a vitória na guerra, mas até agora não existe correspondência entre as duas coisas".

Na verdade, o fortalecimento das instituições democráticas pode levar também à sedimentação da insurgência. Os iraquianos seguem votando e os rebeldes atuando.

Mesmo o presidente Bush mudou o tom da retórica. Nos seus mais recentes pronunciamentos, ele tem preparado os americanos para um conflito iraquiano mais amplo e longo, algo nas proporções da Guerra Fria, especialmente quando ele adverte que a insurgência se transformou em radical tumor islâmico que pode se espalhar da "Espanha para a Indonésia".

É um tom sombrio que contrasta com a ansiedade relativamente otimista para iniciar o mais cedo possível a retirada das tropas americanas do Iraque.

Uma fonte da Casa Branca admitiu ao jornal Washington Post que a sensação é de que o governo americano está sempre na beira do precípício no Iraque. Consegue escapar e caminhar até o precipício seguinte.

O calendário mostra que o próximo será a eleição em dezembro para substituir o governo interino e eleger um novo Parlamento.
 

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