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16/11/2005 - 14h43

Família de Jean sabia de uso de bala "dum dum"

ROGERIO WASSERMANN
da BBC Brasil

O uso das polêmicas balas de ponta oca na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, ocorrida numa estação de metrô de Londres em julho, foi reconhecido há tempos pelas autoridades britânicas em uma reunião com a família do eletricista.

A afirmação é de Alessandro Pereira, um dos primos de Jean que vivem em Londres e que vêm acompanhando desde o princípio o desenrolar das investigações sobre as circunstâncias de sua morte.

Uma reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário britânico "Daily Telegraph" relata o suposto uso desse tipo de munição, também conhecido como balas “dum dum”, pela polícia no episódio da morte de Jean.

As balas de ponta oca têm um poder de destruição maior, porque se expandem e se estilhaçam após penetrar no corpo.

“Disseram para a gente que usaram um tipo de bala que quando atiram ela explode lá dentro. Então, por que atiraram tantas vezes se apenas uma bala já mataria?”, disse Alessandro à BBC Brasil. “Isso é mais uma coisa errada que eles fizeram.”

Jean Charles foi confundido pelos agentes da polícia londrina com um homem-bomba e morreu ao receber sete tiros na cabeça e um no ombro dentro da estação de metro de Stockwell, no sul da capital britânica, no dia 22 de julho.

Proibição

Apesar de as balas de ponta oca serem proibidas desde o fim do século 19 por uma convenção internacional que regulamenta as armas de guerra, não existe nenhuma restrição legal ao seu uso por forças policiais, já que a convenção somente se aplica aos Exércitos.

Segundo a polícia britânica, seus comandantes têm o poder de escolher o tipo de munição mais adequado às suas necessidades operacionais.

Uma convenção policial de 1996, que dá o poder ao governo de estabelecer restrições ao uso de determinados tipos de munição no Reino Unido, nunca foi regulamentada.

Segundo um especialista em armamentos do Jane’s Information Group, que pediu para não ter seu nome citado, em algumas situações o uso das balas de ponta oca pode ser mais seguro, já que elas não ricocheteiam como as balas comuns.

Isso daria à polícia uma margem de segurança maior em casos como o de disparos em locais lotados, para garantir que outras pessoas não sejam atingidas pelos tiros.

Segundo o especialista, as balas usadas hoje em dia são também feitas com a preocupação de não causar sofrimentos desnecessários às vítimas, ao contrário das primeiras balas "dum dum", que literalmente explodiam dentro do corpo.

Para ele, a discussão sobre o uso das balas de ponta oca é muito “emotiva” e não leva em consideração os possíveis benefícios que ele pode trazer em alguns casos.

Pressão

As balas "dum dum" foram criadas pelo Exército britânico no final do século 19 para serem usadas no controle de distúrbios na Índia, então colônia britânica.

A nova denúncia deve aumentar a pressão sobre o comando da polícia britânica, que já vinha sendo muito criticado pelos erros cometidos no caso. Familiares de Jean e grupos de defesa dos direitos humanos vêm pedindo a renúncia do chefe da polícia, Ian Blair.

Logo após a operação, a polícia havia dito que havia matado um homem-bomba pronto para se explodir no metrô e que ele havia ignorado uma abordagem policial, saltado uma catraca e corrido na plataforma.

Mas posteriormente foi revelado que as alegações da polícia eram falsas e que um inocente havia sido morto, o brasileiro.

Especial
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