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05/12/2005 - 19h50

Grupo pede visão crítica contra beatificação de João Paulo 2º

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

Um grupo de 12 teólogos e historiadores pediu aos críticos do papa João Paulo 2º que expressem publicamente sua oposição e divulguem fatos que possam servir como obstáculo à beatificação do pontífice, que morreu em abril deste ano.

O documento, divulgado em Roma nesta segunda-feira, foi assinado por teólogos italianos, espanhóis e latino-americanos (não há brasileiros na lista) e propõe uma visão crítica dos 26 anos de pontificado de Karol Wojtyla, o que pode dificultar ou até mesmo impedir a beatificação.

O processo de beatificação, que começou no último dia 28 de junho, apenas três meses após a morte do pontífice, deve ser um dos mais rápidos da história.

Este é o primeiro passo para a canonização, e o processo examina todos os aspectos da vida do candidato.

Aspectos negativos

Segundo o grupo de teólogos e historiadores, há sete aspectos do pontificado de João Paulo 2° que deveriam receber uma “avaliação crítica” neste processo.

“A repressão e marginalização de teólogos, a posição conservadora da Igreja em questões de ética sexual, a confirmação do celibato e a falta de controle das atividades financeiras do Vaticano (por meio do IOR- Banco Vaticano)” deveriam ser examinadas, diz o grupo.

O documento também cita com aspectos negativos a “tolerância que o Vaticano teria manifestado para com regimes ditatoriais na América Latina, a recusa de iniciar um sério debate sobre a condição da mulher na Igreja Católica e o contínuo adiamento da aplicação da colegialidade no governo da Igreja”.

Os teólogos dizem que a intenção é oferecer pontos de referência para as pessoas que têm uma visão negativa a respeito da obra de João Paulo 2°, “mesmo considerando os lados positivos de seu pontificado, como o esforço em defesa da paz e a tentativa de admitir as culpas da Igreja no passado”.

Segundo eles, estas pessoas devem “superar a timidez ou a relutância e expressar, formalmente, fatos que, segundo sua consciência, deveriam ser um obstáculo à beatificação”.

Giovanni Franzoni, teólogo e ex-abade do convento São Paulo, em Roma, e expulso da igreja nos anos 70 por suas posições progressistas, é um dos que assinou o apelo.

Ele admite, no entanto, que o verdadeiro objetivo da iniciativa é a transparência.

“Queremos que se conheçam os defeitos do pontificado de João Paulo 2°. Nem tudo de sua personalidade deve ser considerado como exemplo a ser seguido. Como o que fez com as finanças do Vaticano e na América Latina, ou quanto à moral sexual, por exemplo.”

“Há quem não concorde com esta política”, afirmou Franzoni em entrevista à BBC Brasil.

"Iniciativa impopular"

Os promotores do apelo sugerem que as críticas sejam enviadas para a sede do vicariado de Roma, que centraliza os testemunhos a favor e contra a glorificação de Karol Wojtyla.

Esta é a primeira vez que uma voz crítica se levanta contra a beatificação de João Paulo 2°, ao menos formalmente e de maneira articulada.

“É uma iniciativa que vai contra a corrente, é impopular e não diz nada de novo”, critica o vaticanista Orazio Petrosillo.

O analista acredita que este gesto não terá qualquer influência no andamento do processo.

Na semana passada, o monsenhor Stanislao Dziwisz, ex-secretário particular do papa e atual arcebispo de Cracóvia, afirmou que a parte polonesa do processo pode ser encerrada já em março.

Dziwisz também disse a uma agência de notícias católica que foi registrado um novo milagre atribuído a Wojtyla: a cura de uma freira francesa, doente de tumor.

O milagre é um dos principais requisitos para obter a beatificação.
 

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