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19/12/2005 - 16h29

Mais de 800 mortos pelo tsunami ainda aguardam identificação

KATE MCGEOWN
da BBC Brasil

Um ano depois de a Tailândia ser atingida pelo tsunami que afetou vários países da Ásia, mais de 800 corpos de vítimas ainda não foram identificados, segundo o Centro de Identificação de Vítimas do Tsunami no país.

Os peritos admitem que a demora na identificação desses corpos se deve ao fato de eles possuírem pouca ou nenhuma informação sobre cada um deles.

Para fazer a identificação, o centro normalmente pede amostras para parentes ou amigos das vítimas, que incluem fios do cabelo da pessoa desaparecida, escova de dentes e livros escolares – qualquer coisa que os peritos possam usar para ligar o perfil dos desaparecidos aos corpos.

Nos primeiros dias depois do tsunami, muitos parentes e amigos dos desaparecidos se dirigiram aos necrotérios improvisados em templos ao longo da costa oeste da Tailândia e simplesmente levaram os corpos de quem reconheceram.

Mas agora o processo de identificação é muito mais sofisticado, com uma equipe de peritos de 35 países envolvidos no que tem sido amplamente reconhecida como a maior operação deste tipo já realizada.

"Nós temos de ser precisos", disse o chefe do centro, Pomprasert Kanchanarin. "É muito, muito importante."

Nos primeiros dias, antes da existência do centro, ocorreram pelo menos oito casos de identificação errada.

DNA

Até agora o centro já identificou cerca de 3 mil corpos, usando técnicas que vão de Raio-X da arcada dentária a amostras de DNA e impressões digitais tiradas de artigos encontrados na vítima ou próximos a ela.

"Muitos ocidentais foram identificados através da arcada dentária e de DNA. Todos os suecos, por exemplo, têm seu DNA registrado ao nascer", disse o coordenador do centro de identificação, Howard Way.

"Mas muitos dos tailandeses foram identificados por suas impressões digitais, porque todos os tailandeses têm que tirar uma carteira de identidade aos 15 anos."

Outros corpos tinham características identificáveis, tais como marcas de fraturas antigas em braços e pernas, implantes no seio e marcapassos.

Há, no entanto, muitos corpos que estão em avançado estado de decomposição e não possuem características especiais. Nestes casos, o DNA é praticamente a única forma de identificá-los, e os peritos estão empregando informações adicionais para ajudar na confirmação da identidade.

Até a análise de DNA pode, às vezes, apresentar problemas. "Uma dificuldade em relação a algumas famílias, especialmente de tailandeses, é que todos os seus membros morreram, então não há ninguém próximo para confirmação", disse Way.

"Às vezes suas casas e escolas também se foram, então não há muito por onde seguir", afirmou o perito.

A equipe também enfrenta problemas quando recebe informações incorretas sobre as 2,8 mil pessoas que, estima-se, ainda estão registradas como desaparecidas.

Algumas vítimas provavelmente nunca integraram a lista de desaparecidos pois famílias inteiras morreram. Outras ainda estão na lista, mas voltaram para casa, e as autoridades não foram notificadas.

"Nós tivemos casos em que uma equipe foi a uma casa para pedir amostra de DNA de um parente próximo da vítima, e a pessoa que estava desaparecida abriu a porta", disse Way.

"Nós também temos mais de cem corpos já identificados e aguardando para ser entregues às famílias. Vários são de tailandeses da região noroeste, que encontram dificuldade em vir até aqui", afirmou Pomprasert Kanchanarin.

Futuro

O centro foi transferido recentemente da ilha de Phuket, afetada pelo tsunami, para Bancoc, a capital do país, onde uma equipe mais reduzida continuará o trabalho de tentar identificar cadáveres por pelo menos mais um ano.

"Depois disso, vamos reavaliar a situação", disse Kanchanarin. "Se nós decidirmos enterrar os corpos, vamos embalsamá-los e dar um número a cada um para que possam ser exumados mais tarde se obtivermos mais informações."

"Parece que está levando muito tempo", disse Yupin Chortpatpad, que ainda busca o corpo de seu filho de nove anos. "Eu já dei cinco amostras diferentes (para análise) às autoridades."

Para ela, a possibilidade de jamais encontrar o corpo do filho é outro revés. "Eu me preocupo com a quantidade de corpos. E se nenhum deles for do meu filho?", diz aos prantos.

"Na cultura tailandesa, se não se encontra o corpo de uma pessoa, os monges não podem rezar por ela antes que seja cremado, e o ciclo de sua vida não fica completo."
 

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